sexta-feira, 16 de julho de 2010

Rosto

a boca

ponto de encontro
de salivas absortas
remanso
de beijos exaustos

os olhos

mel
de pensamentos tragados
refúgio
das palavras não ditas

os cabelos

rios
de negritude selvagem
ondas
de quebranto airado

esboço
no livro das memórias
o teu rosto
arrumo-te
nos confins do tempo
mas sempre me voltas

à boca

interminável

2 comentários:

Ja bateste!! disse...

Dowhile
Quem me dera que alguém me escrevesse assim. :)

Beijo,Mia

dowhile disse...

Quando escrevi este texto, deparei-me com um problema: o cabelo não faz parte do rosto. E pensei em alterar a palavra rosto (do título e do texto) para retrato. Mas depois lembrei-me de uns cabelos irreverentes que costumavam pousar onde lhes apetecia, cobrindo parcialmente o rosto, como se quisessem fazer parte dele. Fiz-lhes a vontade, e a coisa acabou por resultar assim, menos óbvia, mas mais genuína.

Não são precisas palavras para escrever alguém desta (ou de outra) forma. Há olhares, beijos e afagos que dizem o que nenhum poeta conseguirá alguma vez escrever.