sábado, 30 de junho de 2012

De la musique - Booka Shade


Tema: Sweet Lies
Intérprete: Booka Shade
Álbum: The Sun & the Neon Light (2008)

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Recordar, viver

«O coração tem uma morte lenta, perdendo as esperanças uma a uma, como folhas. Até que, um dia, não resta nenhuma. Nenhuma esperança. Não resta nada.»
Memórias de uma Gueixa


Sempre ouvi dizer que recordar é viver. Permitam-me, respeitosamente, discordar. Sempre que eu recordo, sinto-me mais velho. Com a agravante de me começar a faltar a maquilhagem - metaforicamente falando (claro!) - necessária para disfarçar os factos.

Se a vida fosse uma produção de Hollywood, na qual uma chinesa se transforma em japonesa que busca um oriental sonho americano, talvez houvesse, algures, no trilho da desesperança, uma esposa do cair da noite, uma memória de gueixa, pronta a oferecer-me um, ou, vá lá, meio final feliz. Já não era mau.

Infelizmente, a vida não é um filme. E não é gueixa, é mesmo puta.

Bom dia

«Apenas fantasmagóricas lembranças e o nada
dividem entre si a tua herança sem destino.»

Juan Luis Panero

quarta-feira, 20 de junho de 2012


Imagem: JJaska

A casa não se esquece de ti. Coloca-te estrategicamente repartida por todas as divisões. No sofá, com o olhar distante, seguindo um canal qualquer que a operadora não fornece. Na cozinha, vendo-me descascar batatas para a sopa, enquanto saboreias uma tira de bacalhau cru. E rimos com ditos antigos, como o bocado que a boca perde por falar demais. Lembras-te? Lembras-te de como a sardinha continuava a pingar no pão, mesmo quando já quase não falavas? Por vezes sento-me ao teu lado, ao lado do teu corpinho débil, e passo a mão pela tua face carente. Eu sei que ela não está materialmente lá, que o que permanece na tua cama vazia é apenas uma imagem que a saudade desperta. O corpo cede, a imagem permanece. Porque a casa não se esquece de ti.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ossos do ofício

terça-feira, 5 de junho de 2012

Trailer - Memento

Sabemos logo como acaba, no início. O objectivo de Leonard (Guy Pearce) - matar o assasino da mulher - cumprido. Ou será que não? A história é contada da frente para trás. Vai-se completando e enredando em cada regressão. É gravada na pele de Leonard, em apontamentos, nas costas de fotografias. É a sua realidade. Aquela da qual, alguns minutos depois, não se lembrará. Confiará no que foi escrito por ele. Nada é o que parece, ou pareceu, depois, alguns minutos antes. O tempo virado do avesso. Só o objectivo se mantém. Mas o que sobrará a alguém que persegue cegamente um e um só fim, que vive em função disso, quando esse objectivo for alcançado? Confrontado com esta e outras questões, Leonard tem de tomar uma decisão. Afinal não acaba. O fim será apenas um de muitos fins, repetidos, como propósito de vida. Ou, pelo menos, é assim que eu me lembro de...


... Memento.

De la musique - The National

Now on a totally unrelated matter...


Tema: Afraid of Everyone
Intérprete: The National
Álbum: High Violet (2010)

sábado, 2 de junho de 2012

De la musique - Intense


Tema: Flashback
Intérprete: Intense, LTJ Bukem
Álbum: Earth, Vol. 2 (1997)

Flashback

Tentou recuperar a intensidade das coisas, sem recorrer aos meios artificiais que fizeram viver tudo com mais intensidade. Descobriu que não era possível. Tentou perceber como viver apesar dessa perda de intensidade. Descobriu que com conformismo. Aceitando a perda. Procurando outras intensidades menos intensas (sempre, para sempre menos intensas) e tentando equilibrar a balança dessa forma. Da diferença entre o peso absoluto de antes e de depois, resultou um vazio impreenchível. Nunca mais a vida nos extremos. Nunca mais. O que perdeu em intensidade ganhou em lucidez. Mais lucidez. Mais. Até o peso da lucidez se tornar superior ao que a sua mente conseguia suportar. Percebeu que era necessário reduzir o peso da lucidez. Deixar de enfrentar todas as coisas. Um acto de subsistência. Menos lucidez. Menos. Até não encarar coisa nenhuma. Descobriu que era outra forma de desgaste, mais lento, constante, interminável. Que seria imprescindível enfrentar a vida ou, pelo menos, uma parte dela. Que só assim seria possível manter a balança equilibrada e dar algum sentido a uma vida sem sentido. Minimizar as perdas. Sobreviver.