Fora de horas, a noite já moribunda; e penso.
Penso nas máscaras que fui colocando,
de quão inúteis se tornaram com o decorrer do tempo.
Todas as capas são de vidro, quando nos detemos numa esquina qualquer
a observarmo-nos do outro lado da rua, onde supostamente estamos,
eu e todas as faces ridículas, obscuras, moribundas
como a noite, fora de horas; e penso.
Penso em todos os rumos que poderia ter tomado e não tomei - inútil;
penso em todos os instantes (seize the day) que perco,
quando, do outro lado da rua, passo a noite observando-me
em pensamentos moribundos como a noite, fora de horas;
e penso - mais inútil, ainda - no porvir, com uma desesperança
que sufoca quase tanto como a esperança que um dia senti, inutilmente.
Tão inútil. Tão inútil venerar o inútil.
Tão inútil saber o quão inútil é venerar o inútil.
4 comentários:
Porém,escreveste sobre essa inutilidade!
Todos nós usamos máscaras ou pelo menos temos várias facetas!Nenhum de nós consegue sobreviver aos diversos cenários a que estamos expostos,sempre com a mesma "máscara"!É inevitável.Não posso ser para os meus amigos o que sou para um professor ou patrão!
Eu já pensei tanto nos instantes que perdi e que estupidamente continuo a perder.Vejo-os a fugir e continuo imóvel.Nem sempre,mas acontece-me!Sei que tenho de mudar alguns aspectos da minha vida,tenho tudo para o fazer e no entanto...Não me apetece ou não sei bem como!
Mente perturbada...quem nunca a teve que atire a primeira sílaba.
É exactamente isso, Mia. E é como disseste, há dias, no Mental Break: escrever, falar sobre as coisas que nos apoquentam é o primeiro passo. Ter tudo para mudar é óptimo. Nem sempre é assim. A motivação é uma parte fundamental para a mudança. Não havendo vontade, as coisas complicam-se. Entramos num ciclo vicioso: como não temos vontade, não mudamos; como não mudamos, continuamos sem vontade de mudar. Quebrar este ciclo não é nada fácil. Mas a solução tem de começar por fazer alguma coisa, mesmo sem vontade. Fazer coisas simples das quais gostamos, como correr, ouvir música, ver um filme, ler, escrever, falar. Estas coisas simples juntas ajudam-nos a encontrar motivação para outros passos maiores e mais complexos. Esta é a teoria. Na prática, as coisas muitas vezes não resultam como gostávamos. Mas vamos lá chegando por tentativas. Quando não conseguimos chegar, regressamos e tentamos de novo. Se continuarmos sem lá conseguir chegar, paciência. Todos temos os nossos limites. Há que saber aceitar e viver com isso. E, entretanto, tentar chegar a outros lados. É assim que eu penso. É assim que eu tento equilibrar a minha balança.
Mas atenção que o facto de esta fórmula ir resultando comigo não significa que resulte com outras pessoas. Cada qual tem de encontrar a melhor forma de equilibrar a sua balança.
Uma das primeiras coisas que a minha psicóloga me "obrigou" a fazer foi delinear objectivos.Eu nem sequer sabia o que queria vestir quanto mais o que fazer da vida,e como já alguém disse:"as pessoas mais interessantes que conheço chegaram aos 40 sem saberem o que querem ser ou fazer"
Como não os tinha sugeriu que eu fizesse exercício físico e me dedicasse a algo que realmente gostava.Não tenho pachorra para ginásios e comecei a correr todos os dias pela cidade,na minha casa,na praia etc.Obriguei-me a isso porque sabia que tinha de o fazer.Nem toda a gente tem essa força de vontade e não é garantido que resulte.Mas é preferível tentar que a vida apareça, do que esperar que ela acabe.
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