terça-feira, 13 de dezembro de 2011
De la musique - UNKLE
Tema: Rabbit in Your Headlights
Intérprete: UNKLE
Álbum: Psyence Fiction (1998)
Memorando
não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não desistir não
Sigo de perto essa eterna espera,
entre tanto e tão pouco;
encurtando a pressa de estar algures,
aguardo, sem encanto, o porvir.
Aguardo, mas não guardo, que escorrega,
o virtual conceito do agora.
Agora... não fosse estreito o desejo,
e haveria, decerto, uma hora exacta.
Ah, tempo... que nunca és na medida certa;
se te busco, já foste,
se te espero, já não vens...
O que sobra, senão este entretanto
de incertezas precisas e certeiras,
trespassando a voz rouca da razão?
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
A manhã irrompe pela janela do meu quarto,
diz-me que lá fora está o dia e que a vida canta de árvore em árvore.
De facto, quase consigo ouvi-la deste sono indeciso em que me encontro:
um sol nítido capaz de me fazer erguer desta repisada melancolia?
Talvez tenha sonhado. Levanto-me, aproximo-me do vitorioso rumo
dos que ousam procurar a luz que irrompe pelas janelas de cada dia.
É noite. Mais precisamente 4 da manhã.
O único canto perceptível é trazido pelo vento e pela chuva do Inverno.
A realidade é uma coisa angustiante.
Fumo um cigarro triste, a pensar na manhã de há pouco.
Sonho com este engano: um novo dia antigo que repetidamente irrompe pela janela do meu quarto.
Algures no meio do sono está a saída deste enredo.
Só não sei onde. Ainda.
diz-me que lá fora está o dia e que a vida canta de árvore em árvore.
De facto, quase consigo ouvi-la deste sono indeciso em que me encontro:
um sol nítido capaz de me fazer erguer desta repisada melancolia?
Talvez tenha sonhado. Levanto-me, aproximo-me do vitorioso rumo
dos que ousam procurar a luz que irrompe pelas janelas de cada dia.
É noite. Mais precisamente 4 da manhã.
O único canto perceptível é trazido pelo vento e pela chuva do Inverno.
A realidade é uma coisa angustiante.
Fumo um cigarro triste, a pensar na manhã de há pouco.
Sonho com este engano: um novo dia antigo que repetidamente irrompe pela janela do meu quarto.
Algures no meio do sono está a saída deste enredo.
Só não sei onde. Ainda.
sábado, 19 de novembro de 2011
De la musique - The Cinematic Orchestra
Tema: Panoramica [The Cinematic Orchestra Remix]
Intérprete: The Cinematic Orchestra
Álbum: Remixes 1998-2000 (2000)
Panorâmica
Tenho como pano de fundo o movimento constante da cidade.
Absorvo-o todo, numa emulação de presença que, por
instantes, me preenche. De facto, é na letargia de tal
momento que sinto o aconchego de um lar: a grande família
reunida num cenário imaginário, enquadrada num tempo que nunca
foi; e isto basta-me. Assim, ao observar cada rosto que passa,
posso dizer, com verdade, que pertenço à corrente (ainda que
ela só exista como ideal). Ora, é partindo deste pressuposto
que, conscientemente, me abandono para me encontrar depois
- panorâmico até que os olhos me ardam.
Absorvo-o todo, numa emulação de presença que, por
instantes, me preenche. De facto, é na letargia de tal
momento que sinto o aconchego de um lar: a grande família
reunida num cenário imaginário, enquadrada num tempo que nunca
foi; e isto basta-me. Assim, ao observar cada rosto que passa,
posso dizer, com verdade, que pertenço à corrente (ainda que
ela só exista como ideal). Ora, é partindo deste pressuposto
que, conscientemente, me abandono para me encontrar depois
- panorâmico até que os olhos me ardam.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
De la musique - The Walkmen
Tema: Stop Talking
Intérprete: The Walkmen
Álbum: Everyone Who Pretended to Like Me Is Gone (2002)
terça-feira, 18 de outubro de 2011
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Beijos furtivos
Vagueiam beijos pela praia.
Sem forma ou rosto definidos, são
apenas vultos, rebolando pelo areal
da memória, retocando os lábios
do tempo. «Mais»
- o desejo no ouvido, uma vaga voz
desenhando círculos hipnóticos que
vibram algures entre o piscar dos
olhos e a respiração ofegante.
Subitamente, a luz, o poder magnético
do ocaso, os braços magos da volúpia,
trazendo nos dedos o calor de outras tardes
e da noite,
pousando, lentamente, nos teus ombros.
Sem forma ou rosto definidos, são
apenas vultos, rebolando pelo areal
da memória, retocando os lábios
do tempo. «Mais»
- o desejo no ouvido, uma vaga voz
desenhando círculos hipnóticos que
vibram algures entre o piscar dos
olhos e a respiração ofegante.
Subitamente, a luz, o poder magnético
do ocaso, os braços magos da volúpia,
trazendo nos dedos o calor de outras tardes
e da noite,
pousando, lentamente, nos teus ombros.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
O bestial, a besta e a poesia
Subiu num balão cor-de-rosa,
o bestial.
Encheu-o de sonhos alheios
e ergueu-os no céu
como se fossem seus.
Lá em cima,
dominava-o
com habilidosos malabarismos.
Cá em baixo, era o êxtase;
todos contemplavam o balão,
cheio de cor
- cheio de ilusões perdidas.
Mas o bestial,
de tanto exibir sonhos que não eram seus,
adormeceu
com o encanto de os sonhar ter.
E o balão, à deriva,
chocou
com o pico da realidade.
- Rebentou o balão, caiu a besta
no chão desértico. -
Meio atordoada,
a besta
tentou salvar o bestial;
reuniu o que restava do balão,
dos sonhos despedaçados,
tentou enchê-los, em vão.
- A besta
não sabia sonhar,
a sua arte era trabalhar
sobre o chão que pisava;
o seu balão era uma pedra,
bruta, feia,
enraizada na terra. -
«Pobre bestial»
- pensou a besta,
enquanto esculpia o chão.
«Pobre besta»
- pensou o bestial,
saudoso do balão.
o bestial.
Encheu-o de sonhos alheios
e ergueu-os no céu
como se fossem seus.
Lá em cima,
dominava-o
com habilidosos malabarismos.
Cá em baixo, era o êxtase;
todos contemplavam o balão,
cheio de cor
- cheio de ilusões perdidas.
Mas o bestial,
de tanto exibir sonhos que não eram seus,
adormeceu
com o encanto de os sonhar ter.
E o balão, à deriva,
chocou
com o pico da realidade.
- Rebentou o balão, caiu a besta
no chão desértico. -
Meio atordoada,
a besta
tentou salvar o bestial;
reuniu o que restava do balão,
dos sonhos despedaçados,
tentou enchê-los, em vão.
- A besta
não sabia sonhar,
a sua arte era trabalhar
sobre o chão que pisava;
o seu balão era uma pedra,
bruta, feia,
enraizada na terra. -
«Pobre bestial»
- pensou a besta,
enquanto esculpia o chão.
«Pobre besta»
- pensou o bestial,
saudoso do balão.
domingo, 4 de setembro de 2011
De la musique - Pink Floyd
Tema: Have a Cigar
Intérprete: Pink Floyd
Álbum: Wish You Were Here (1975)
De la musique - The Kills
Tema: Kissy Kissy
Intérprete: The Kills
Álbum: Keep on Your Mean Side (2003)
Deito-me sobre o teu corpo afogueado,
lambo-te de uma ponta à outra,
arrombo as portas do desejo, à bruta,
domino esse teu espasmo súbito,
sugo-te os sentidos,
até que desfaleças nos meus braços
feitos de carne tua, minha, una.
Semeio o vício no seio da noite,
saqueio a tua alma esvanecida
e saio, entre um até breve
e um adeus.
lambo-te de uma ponta à outra,
arrombo as portas do desejo, à bruta,
domino esse teu espasmo súbito,
sugo-te os sentidos,
até que desfaleças nos meus braços
feitos de carne tua, minha, una.
Semeio o vício no seio da noite,
saqueio a tua alma esvanecida
e saio, entre um até breve
e um adeus.
Bom dia
«Tocas um corpo, nele te fundes,
apalpas a vida, real, comum. Já não estás só.»
Juan Luis Panero
apalpas a vida, real, comum. Já não estás só.»
Juan Luis Panero
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Monólogo para exposição
Aqui estou, singelo e modesto,
escrevendo, por acaso, coisas que ninguém percebe.
Esta é uma grande vantagem para quem quiser passar por génio,
apregoá-lo à boca cheia, ainda que ninguém ouça.
Se não faço uso dela, é só porque sou modesto!
E é neste odor de santidade, inacessível aos olhos da vaidade,
que me divirto a não interpretar aquilo que escrevo.
Assim, os outros não perderão coisa nenhuma,
pois que, na minha singela generosidade,
para mim guardo o que lhes mostro.
escrevendo, por acaso, coisas que ninguém percebe.
Esta é uma grande vantagem para quem quiser passar por génio,
apregoá-lo à boca cheia, ainda que ninguém ouça.
Se não faço uso dela, é só porque sou modesto!
E é neste odor de santidade, inacessível aos olhos da vaidade,
que me divirto a não interpretar aquilo que escrevo.
Assim, os outros não perderão coisa nenhuma,
pois que, na minha singela generosidade,
para mim guardo o que lhes mostro.
Está bem, não mais verei o mundo a preto e branco.
Calarei as horas cinzentas e os versos sonolentos,
as analepses em espiral e as antevisões fatalistas.
Direi, e direi em voz alta para que todos ouçam:
a vida é um tapete verde onde todos se conjugam.
Que seja mentira. Não se ralem, que eu tampouco.
Que me cegue a luz do dia, se para olhar tiver de ver.
Está bem, fincarei os pés na terra e sorrirei concordâncias;
tronco panorâmico que observa com mudez a floresta morta,
máscara indolente e indolor que nos vossos olhos se reflecte.
Calarei as horas cinzentas e os versos sonolentos,
as analepses em espiral e as antevisões fatalistas.
Direi, e direi em voz alta para que todos ouçam:
a vida é um tapete verde onde todos se conjugam.
Que seja mentira. Não se ralem, que eu tampouco.
Que me cegue a luz do dia, se para olhar tiver de ver.
Está bem, fincarei os pés na terra e sorrirei concordâncias;
tronco panorâmico que observa com mudez a floresta morta,
máscara indolente e indolor que nos vossos olhos se reflecte.
Eles querem sol, eles querem céu,
eles querem sede, eles querem água,
eles querem sonhos, mitos, esperança,
eles querem ira, eles querem sangue,
eles querem guerra, eles querem paz,
eles querem tudo, eles querem tudo...
Mas onde estou não há sol,
nem céu azul ou cintilante,
não há ira, não há sangue,
nem luta, nem tréguas.
Onde estou, há só gestos
teatrais, meias verdades,
palavras sombrias, inconclusas,
e dedos que partem e regressam
...ininterruptamente...
Onde estou... onde estou?
Num inútil livro de poemas.
eles querem sede, eles querem água,
eles querem sonhos, mitos, esperança,
eles querem ira, eles querem sangue,
eles querem guerra, eles querem paz,
eles querem tudo, eles querem tudo...
Mas onde estou não há sol,
nem céu azul ou cintilante,
não há ira, não há sangue,
nem luta, nem tréguas.
Onde estou, há só gestos
teatrais, meias verdades,
palavras sombrias, inconclusas,
e dedos que partem e regressam
...ininterruptamente...
Onde estou... onde estou?
Num inútil livro de poemas.
Não, eu não escrevi depois;
escrevo-o agora, aqui como outrora,
enquanto as palavras fervilham de sintaxe.
Porque as palavras estão onde sempre estiveram.
Por vezes, parece que partem ou que regressam,
que habitam em parte incerta, filhas de pai incógnito,
quando os olhos viajam ou o pensamento labora.
Mas não, são as mesmas mãos e é a mesma tinta,
sobre o mesmo chão e a mesma sorte.
E, agora como outrora, as palavras arrefecem
e tombam, inúteis, na incontornável imobilidade da vida.
escrevo-o agora, aqui como outrora,
enquanto as palavras fervilham de sintaxe.
Porque as palavras estão onde sempre estiveram.
Por vezes, parece que partem ou que regressam,
que habitam em parte incerta, filhas de pai incógnito,
quando os olhos viajam ou o pensamento labora.
Mas não, são as mesmas mãos e é a mesma tinta,
sobre o mesmo chão e a mesma sorte.
E, agora como outrora, as palavras arrefecem
e tombam, inúteis, na incontornável imobilidade da vida.
Talentosas mãos que o papel atrai,
não me traem, que a traição não se lhes despega.
Ludibrioso pensamento de que são servis,
tão-só irresoluto; e, sinuosas, traçam-no
com a perfeição de tortas conclusões.
Talentosas mãos que de luz se vestem,
quando negrume transpiram; não enganam, que
no branco incólume tudo é cristalino
- como eu, ao olhá-las, incrédulo,
ainda que, valorosas, me convençam.
não me traem, que a traição não se lhes despega.
Ludibrioso pensamento de que são servis,
tão-só irresoluto; e, sinuosas, traçam-no
com a perfeição de tortas conclusões.
Talentosas mãos que de luz se vestem,
quando negrume transpiram; não enganam, que
no branco incólume tudo é cristalino
- como eu, ao olhá-las, incrédulo,
ainda que, valorosas, me convençam.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
De la musique - Tori Amos
Conheci recentemente o Welcome to Sunny Florida e achei-o extraordinário. Tori Amos, Matt Chamberlain e Jon Evans pertencem àquele grupo de músicos capazes de transportar os temas musicais para um patamar inacessível em estúdio. Para além de serem extremamente competentes naquilo que fazem, condição essencial para um bom desempenho ao vivo, há qualquer coisa que só se solta em tempo real, no meio dos adeptos. Temas medianos em estúdio, como Cornflake Girl ou Crucify, são transformados em verdadeiras delícias para os ouvidos. Pelos menos, para estes aqui. Ora ouçam lá.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
De la musique - Zero dB
Continuamos preguiçosos.
Tema: Sunshine Lazy
Intérprete: Zero dB
Álbum: Bongos, Bleeps & Basslines (2006)
Tema: Sunshine Lazy
Intérprete: Zero dB
Álbum: Bongos, Bleeps & Basslines (2006)
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
domingo, 31 de julho de 2011
Wishful thinking
Sair por essa estrada fora, o sol nas costas, um horizonte dourado.
Ardem-me no peito as imagens de um caminho gasto, percorrido até à exaustão, entre a infância e a solidão.
Sofreguidão - causa; desilusão - efeito. Olha que bom.
Férias, dêem-me férias, com sabor a Verão, numa praia, ao nascer do sol.
Vou versar sobre a brisa, as ondas de um mar calmo que me leve os pensamentos.
E contemplar as gaivotas e os barcos que pairem lá à frente.
Vou construir um futuro de nuvens até ao infinito.
E depois vou, juro que vou, por essa vida fora, de mente vazia e de mãos lavadas, rumo a um nada perfeito.
Vou e não volto.
Ardem-me no peito as imagens de um caminho gasto, percorrido até à exaustão, entre a infância e a solidão.
Sofreguidão - causa; desilusão - efeito. Olha que bom.
Férias, dêem-me férias, com sabor a Verão, numa praia, ao nascer do sol.
Vou versar sobre a brisa, as ondas de um mar calmo que me leve os pensamentos.
E contemplar as gaivotas e os barcos que pairem lá à frente.
Vou construir um futuro de nuvens até ao infinito.
E depois vou, juro que vou, por essa vida fora, de mente vazia e de mãos lavadas, rumo a um nada perfeito.
Vou e não volto.
domingo, 24 de julho de 2011
De la musique - The Boxer Rebellion
Tema: Step Out of the Car
Intérprete: The Boxer Rebellion
Álbum: The Cold Still (2011)
sábado, 23 de julho de 2011
Viagem
És tu, na mesa do café, sobre o começo do verso,
na lentidão do asfalto, no semáforo intermitente,
no soerguer dos olhos, nas nuvens a sul,
na pose do arbusto, no orgulho do cravo túnico,
na brisa sinuosa, na areia descalça,
na vaga que enrola, na ausência dos corpos,
na fresta de página que a caneta desdobra.
na lentidão do asfalto, no semáforo intermitente,
no soerguer dos olhos, nas nuvens a sul,
na pose do arbusto, no orgulho do cravo túnico,
na brisa sinuosa, na areia descalça,
na vaga que enrola, na ausência dos corpos,
na fresta de página que a caneta desdobra.
domingo, 26 de junho de 2011
De la musique - Os Resentidos
Pedimos desculpa por interromper a programação habitual, mas é que...
Tema: Galicia caníbal
Intérprete: Os Resentidos
Álbum: Fai un Sol de Carallo (1986)
... e isto só lá vai com banhos de água fria e cerveja bem gelada.
Tema: Galicia caníbal
Intérprete: Os Resentidos
Álbum: Fai un Sol de Carallo (1986)
... e isto só lá vai com banhos de água fria e cerveja bem gelada.
sábado, 25 de junho de 2011
Migalhas de São João
O arrail passou.
O jardim, esse continua imóvel,
incessantemente inalterável.
Há dias, houve farturas,
choques frontais, foi romaria;
gente de néon nos olhos
e plena identidade etérea.
Hoje, sobram as folhas
caindo, silêncio,
verdejantes pensamentos circulares,
e pássaros debicando no chão
migalhas de São João.
O jardim, esse continua imóvel,
incessantemente inalterável.
Há dias, houve farturas,
choques frontais, foi romaria;
gente de néon nos olhos
e plena identidade etérea.
Hoje, sobram as folhas
caindo, silêncio,
verdejantes pensamentos circulares,
e pássaros debicando no chão
migalhas de São João.
sábado, 18 de junho de 2011
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Imagem cadente
Persigo o marejar do vento até
ao momento em que tudo surge
dos lábios do tempo: a tua voz
ecoando nas margens da memória,
a forma nítida do teu rosto,
num retrato súbi-
to de cores abstractas,
e a noite caindo lentamente
no cansaço das ondas.
ao momento em que tudo surge
dos lábios do tempo: a tua voz
ecoando nas margens da memória,
a forma nítida do teu rosto,
num retrato súbi-
to de cores abstractas,
e a noite caindo lentamente
no cansaço das ondas.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Miragem
viessem os teus braços entremeio
amparar a queda vertiginosa do verso e
em vez de sílabas a voz contínua que em
silêncio estremece a grafia aos
teus olhos condenada
não não sem sinais nem símbolos gastos na
desordem do papel puzzle indecifrável que
se enrola no pensamento
tu apenas tu como tu
sem mais comparações nem adornos ou
antes do termo viesse o vento
varrer-me da memória e do peito o
alfabeto inteiro do desejo
e pousasses de uma vez ó tempo miragem
de alguma vez ter visto o que tolo
continuo a insistir que vejo
amparar a queda vertiginosa do verso e
em vez de sílabas a voz contínua que em
silêncio estremece a grafia aos
teus olhos condenada
não não sem sinais nem símbolos gastos na
desordem do papel puzzle indecifrável que
se enrola no pensamento
tu apenas tu como tu
sem mais comparações nem adornos ou
antes do termo viesse o vento
varrer-me da memória e do peito o
alfabeto inteiro do desejo
e pousasses de uma vez ó tempo miragem
de alguma vez ter visto o que tolo
continuo a insistir que vejo
quinta-feira, 2 de junho de 2011
De la musique - Red House Painters
Tema: Silly Love Songs
Intérprete: Red House Painters
Álbum: Songs for a Blue Guitar (1996)
Baileys sunset
Sábado à tarde, uma daquelas tardes solarengas que terminavam invariavelmente na Foz. Sentei-me na esplanada, pedi um café e instalei-me comodamente, fumando cigarros contemplativos, saboreando a força apaziguadora do mar. Prefiro a Foz no Inverno porque não tem o rebuliço dos dias de Verão. No entanto, o céu aberto ia trazendo para a praia mais transeuntes do que habitualmente. Eu era um deles, alheio a todos eles. A minha presença era apenas física. A minha mente, essa movia-se com as ondas, longe, algures num lugar abstracto. Venerava aquela sensação de liberdade: poder largar os ponteiros do relógio, a rotina diária e entregar-me a um relaxamento absoluto. Entrava numa espécie de compromisso, sem compromisso - um até que a morte nos separe efémero - entre mim, a dança hipnótica do mar e um horizonte transparente, aberto até ao infinito. Tudo o resto desaparecia. Mas não naquele dia.
Ela sentou-se a meu lado, chamou o empregado e pediu um Baileys. Depois, saboreou-o lentamente, de olhos postos no mar. Ignorou-me por completo e, de repente, havia algo que perturbava a quietude das horas. Comportava-se com a naturalidade de quem me conhecia há anos. E ali ficou, sem dizer nada, olhando o meu horizonte. Entrei no jogo, ignorei-a e regressei ao meu sossego. A dada altura, a sua voz quebrou harmoniosamente o silêncio: «o mistério do mar é tão ilusório como um amante ocasional» - disse. Fitei-a demoradamente. Os olhos transparentes davam-lhes a veracidade necessária para um primeiro contacto. Os lábios, ligeiramente lambuzados de licor, adoçavam o momento. Quis beber mais: «e, no entanto, aqui estamos partilhando esse mistério, mesmo sabendo que é passageiro e que daqui a pouco a realidade tomará conta das nossas vidas». Sorriu. «Não necessariamente» - retorquiu.
O sol desceu pausadamente. Um sol diferente, não feito de silêncio e de mística, mas de sorrisos e de licor. A fome apertara e fizemo-nos à estrada. Percorremos a marginal, já com as primeiras luzes da noite bailando sobre o Douro, e parámos na Ribeira para jantar. Comemos carne e conversámos sobre coisas intensamente banais. Bebemos vinho e olhares eróticos. Corremos os bares, entre vultos coloridos, suor e música. Trepámos a madrugada, lambendo o desejo dos corpos. E regressámos ao carro para devorar o fogo acumulado. Adormecemos, já o sol se espreguiçava, enrolados e exaustos, perante o pasmo do rio.
A semana passara devagar. A caminho da Foz, não era pelo sossego da praia nem pelo quebranto das ondas que eu ansiava. As imagens do sábado anterior desfilavam na minha mente, como um filme por terminar. Fora assim toda a semana, tentando dar forma e sentido a algo que deveria ser de percepção imediata: a amante ocasional, lembras-te? Sim, lembrava-me. E aceitara-o: «sem nomes nem telefonemas no dia seguinte», assim combinámos. Seria um momento único, irrepetível. Mas, na verdade, eu queria repeti-lo, torná-lo parte da minha vida. E isto confundia-me. Passava tanto tempo a tentar quebrar rotinas, a procurar libertar-me dos compromissos diários e, de repente, dava comigo a tentar transformar a casualidade. Eu queria o nome, o número de telefone, qualquer coisa que não deixasse a possibilidade de revê-la à mercê do acaso. Vieram-me à mente as últimas palavras que trocámos: «E agora?» Deu-me um beijo na face e respondeu-me com um ar despreocupado: «quem sabe?»
Cheguei à Foz bastante antes do habitual. Pedi um café e reparei em tudo o que que se movia. Fumava desenfreadamente e até o ruído das ondas me incomodava. Estava fora de mim. Não no horizonte defronte, mas no que ficou para trás. Levantei-me e vagabundeei pelos arredores, à procura de um sinal... em vão. Regressei à esplanada e, instintivamente, pedi um Baileys. O empregado trouxe-o juntamente com um bilhete «da menina que esteve consigo na semana passada». Demorei a abri-lo. Fixei o olhar no líquido espesso e apetecível, imaginando os lábios dela, aquela voz feiticeira que adoçava as horas. Não era possível adiar mais. Desdobrei o papel, duas palavras preenchiam-no: «Obrigado. Mariana». Bebi o Baileys de um só trago e senti as letras escorrerem-me pela garganta abaixo, até assentarem no estômago. Puxei de um cigarro, acendi-o e deixei que se esfumasse no ar o hálito ainda quente da pele de Mariana. Sentia-me estranhamente conformado, como se um simples nome tivesse bastado para que o filme deixasse de correr indefinidamente e se fixasse como fotografia na memória.
Regressei ao ritual habitual: os olhos no mar e a mente lá longe do mundo e das pessoas. Ah!, a minha zona de conforto, sem compromissos nem rotinas, a liberdade absoluta. Porque é que não tinha o mesmo sabor? Tudo tem um preço, meu amigo. «Por favor, dá-me lume?» - uma voz suave interrompeu a moral da história. Acedi e, ao olhá-la, perguntei-lhe impulsivamente o nome. «Ana» - respondeu, com um ar meio intimidado. Convidei-a a sentar-se para tomar qualquer coisa. Ela hesitou, mas lá cedeu: «pode ser um Baileys». Sorri - e que bem que me fez sorrir de novo. Afinal, tinha o mar diante de mim e a Ana a meu lado...
Ela sentou-se a meu lado, chamou o empregado e pediu um Baileys. Depois, saboreou-o lentamente, de olhos postos no mar. Ignorou-me por completo e, de repente, havia algo que perturbava a quietude das horas. Comportava-se com a naturalidade de quem me conhecia há anos. E ali ficou, sem dizer nada, olhando o meu horizonte. Entrei no jogo, ignorei-a e regressei ao meu sossego. A dada altura, a sua voz quebrou harmoniosamente o silêncio: «o mistério do mar é tão ilusório como um amante ocasional» - disse. Fitei-a demoradamente. Os olhos transparentes davam-lhes a veracidade necessária para um primeiro contacto. Os lábios, ligeiramente lambuzados de licor, adoçavam o momento. Quis beber mais: «e, no entanto, aqui estamos partilhando esse mistério, mesmo sabendo que é passageiro e que daqui a pouco a realidade tomará conta das nossas vidas». Sorriu. «Não necessariamente» - retorquiu.
O sol desceu pausadamente. Um sol diferente, não feito de silêncio e de mística, mas de sorrisos e de licor. A fome apertara e fizemo-nos à estrada. Percorremos a marginal, já com as primeiras luzes da noite bailando sobre o Douro, e parámos na Ribeira para jantar. Comemos carne e conversámos sobre coisas intensamente banais. Bebemos vinho e olhares eróticos. Corremos os bares, entre vultos coloridos, suor e música. Trepámos a madrugada, lambendo o desejo dos corpos. E regressámos ao carro para devorar o fogo acumulado. Adormecemos, já o sol se espreguiçava, enrolados e exaustos, perante o pasmo do rio.
A semana passara devagar. A caminho da Foz, não era pelo sossego da praia nem pelo quebranto das ondas que eu ansiava. As imagens do sábado anterior desfilavam na minha mente, como um filme por terminar. Fora assim toda a semana, tentando dar forma e sentido a algo que deveria ser de percepção imediata: a amante ocasional, lembras-te? Sim, lembrava-me. E aceitara-o: «sem nomes nem telefonemas no dia seguinte», assim combinámos. Seria um momento único, irrepetível. Mas, na verdade, eu queria repeti-lo, torná-lo parte da minha vida. E isto confundia-me. Passava tanto tempo a tentar quebrar rotinas, a procurar libertar-me dos compromissos diários e, de repente, dava comigo a tentar transformar a casualidade. Eu queria o nome, o número de telefone, qualquer coisa que não deixasse a possibilidade de revê-la à mercê do acaso. Vieram-me à mente as últimas palavras que trocámos: «E agora?» Deu-me um beijo na face e respondeu-me com um ar despreocupado: «quem sabe?»
Cheguei à Foz bastante antes do habitual. Pedi um café e reparei em tudo o que que se movia. Fumava desenfreadamente e até o ruído das ondas me incomodava. Estava fora de mim. Não no horizonte defronte, mas no que ficou para trás. Levantei-me e vagabundeei pelos arredores, à procura de um sinal... em vão. Regressei à esplanada e, instintivamente, pedi um Baileys. O empregado trouxe-o juntamente com um bilhete «da menina que esteve consigo na semana passada». Demorei a abri-lo. Fixei o olhar no líquido espesso e apetecível, imaginando os lábios dela, aquela voz feiticeira que adoçava as horas. Não era possível adiar mais. Desdobrei o papel, duas palavras preenchiam-no: «Obrigado. Mariana». Bebi o Baileys de um só trago e senti as letras escorrerem-me pela garganta abaixo, até assentarem no estômago. Puxei de um cigarro, acendi-o e deixei que se esfumasse no ar o hálito ainda quente da pele de Mariana. Sentia-me estranhamente conformado, como se um simples nome tivesse bastado para que o filme deixasse de correr indefinidamente e se fixasse como fotografia na memória.
Regressei ao ritual habitual: os olhos no mar e a mente lá longe do mundo e das pessoas. Ah!, a minha zona de conforto, sem compromissos nem rotinas, a liberdade absoluta. Porque é que não tinha o mesmo sabor? Tudo tem um preço, meu amigo. «Por favor, dá-me lume?» - uma voz suave interrompeu a moral da história. Acedi e, ao olhá-la, perguntei-lhe impulsivamente o nome. «Ana» - respondeu, com um ar meio intimidado. Convidei-a a sentar-se para tomar qualquer coisa. Ela hesitou, mas lá cedeu: «pode ser um Baileys». Sorri - e que bem que me fez sorrir de novo. Afinal, tinha o mar diante de mim e a Ana a meu lado...
segunda-feira, 30 de maio de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
Um nome
Chegas com esse teu ar ausente.
Na mesa espera-te já o café da manhã
e um horizonte de caminhos percorridos.
Os enigmas, as visões súbitas e fugazes
em que aparentemente tanto nos perdemos.
Persigo-te. Rompo o cenário e
encontro-te, insondável, bem no centro
da encruzilhada. Nada mudou. Fatalmente, nada mudou.
Cobriste a face, largaste o cigarro
e discretamente foste. E nem tu nem eu, presumo,
daríamos pela nossa ausência. Mas, indelével,
pairando sobre a mesa ou cravado na memória,
fumo de sonhos, cinzas de amor
e um nome igual a tantos outros,
sempre pronto para ser esquecido.
Na mesa espera-te já o café da manhã
e um horizonte de caminhos percorridos.
Os enigmas, as visões súbitas e fugazes
em que aparentemente tanto nos perdemos.
Persigo-te. Rompo o cenário e
encontro-te, insondável, bem no centro
da encruzilhada. Nada mudou. Fatalmente, nada mudou.
Cobriste a face, largaste o cigarro
e discretamente foste. E nem tu nem eu, presumo,
daríamos pela nossa ausência. Mas, indelével,
pairando sobre a mesa ou cravado na memória,
fumo de sonhos, cinzas de amor
e um nome igual a tantos outros,
sempre pronto para ser esquecido.
De la musique - Jimi Hendrix
Tema: The Wind Cries Mary
Intérprete: Jimi Hendrix
Álbum: Are You Experienced (1967)
sábado, 21 de maio de 2011
20 cm de vida
- 20 cm, soutora, não será muito?
- Há que começar devagar. Uma etapa de cada vez.
- E qual é a dieta, soutora?
- Ervilha e meia por dia e 1/3 de iogurte magro por semana.
- Não sei se consigo comer isso tudo.
- Tem de tentar. Não podemos exagerar. Alguma coisa terá de comer.
- Mas sinto-me tão gorda, soutora. Olhe, aqui, quando eu era mais nova, tão elegante que era.
- Onde?
- Aqui, atrás desta corda. Está a ver esta orelha? É minha.
- Muito elegante, sim, senhora. E fazia o pino de forma tão graciosa!
- O pino e outros malabarismos, verdade seja dita. Mas não é o caso. Os brincos é que eram demasiado pesados. De vez em quando tinha de pousar as orelhas para descansar.
- Raio dos brincos. Já tive o mesmo problema com um fio de prata.
- E o dinheiro que se poupava em roupa, soutora? Nem imagina. Olhe, de uma manga de camisa fazia dois vestidos. Bons tempos.
- Pronto, lá chegaremos. Tudo se há-de compor.
- Ai nem me diga, soutora. Mal posso esperar.
E saiu leve, profusa, irradiando esperança, sua graça difusa. Infelizmente, estava vento. Os brincos ficaram em casa - oh tragédia!
A doutora perdeu a doente, a mercearia abriu falência e nunca mais houve beleza no mundo.
- Há que começar devagar. Uma etapa de cada vez.
- E qual é a dieta, soutora?
- Ervilha e meia por dia e 1/3 de iogurte magro por semana.
- Não sei se consigo comer isso tudo.
- Tem de tentar. Não podemos exagerar. Alguma coisa terá de comer.
- Mas sinto-me tão gorda, soutora. Olhe, aqui, quando eu era mais nova, tão elegante que era.
- Onde?
- Aqui, atrás desta corda. Está a ver esta orelha? É minha.
- Muito elegante, sim, senhora. E fazia o pino de forma tão graciosa!
- O pino e outros malabarismos, verdade seja dita. Mas não é o caso. Os brincos é que eram demasiado pesados. De vez em quando tinha de pousar as orelhas para descansar.
- Raio dos brincos. Já tive o mesmo problema com um fio de prata.
- E o dinheiro que se poupava em roupa, soutora? Nem imagina. Olhe, de uma manga de camisa fazia dois vestidos. Bons tempos.
- Pronto, lá chegaremos. Tudo se há-de compor.
- Ai nem me diga, soutora. Mal posso esperar.
E saiu leve, profusa, irradiando esperança, sua graça difusa. Infelizmente, estava vento. Os brincos ficaram em casa - oh tragédia!
A doutora perdeu a doente, a mercearia abriu falência e nunca mais houve beleza no mundo.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
De la musique - U2
Do Dragão, na noite de Dublin.
Tema: The Unforgettable Fire
Intérprete: U2
Álbum: The Unforgettable Fire (1984)
Tema: The Unforgettable Fire
Intérprete: U2
Álbum: The Unforgettable Fire (1984)
quinta-feira, 19 de maio de 2011
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Azul
Coração rigoroso, olhos em branco,
olhas essa parede a que chamam céu.
E espalhas nesse espaço vago que vos separa
as letras com que se constrói a palavra azul.
Uma nuvem recolhe o a,
e pensas em milhares de palavras, frases, histórias
onde coubesse a letra a (e, já agora, a tua vida inteira).
Espera... espera no vento, esse espelho de ecos,
a luz do zul que te resta...
Entretanto, a noite cai sobre o verso.
E, coração rigoroso, olhos em branco,
contas, à pressa, estrelas, reticências, pontos finais
alheios, talvez meus, ou deste texto
em que te encerro.
olhas essa parede a que chamam céu.
E espalhas nesse espaço vago que vos separa
as letras com que se constrói a palavra azul.
Uma nuvem recolhe o a,
e pensas em milhares de palavras, frases, histórias
onde coubesse a letra a (e, já agora, a tua vida inteira).
Espera... espera no vento, esse espelho de ecos,
a luz do zul que te resta...
Entretanto, a noite cai sobre o verso.
E, coração rigoroso, olhos em branco,
contas, à pressa, estrelas, reticências, pontos finais
alheios, talvez meus, ou deste texto
em que te encerro.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Diz-me
Dizes-me
que o próprio tempo nos ouve;
que não há destroços nem náufragos,
nem da tormenta o mais breve sinal,
que o próprio tempo nos ouve.
Dizes-me
que tolice é não sonhar;
que não há vida sem quimera,
nem razão que por delonga não pene,
que tolice é não sonhar.
Dizes-me
que ao ouvir-te também falo;
e tão bem mo dizes,
que ao falar quase te ouço.
que o próprio tempo nos ouve;
que não há destroços nem náufragos,
nem da tormenta o mais breve sinal,
que o próprio tempo nos ouve.
Dizes-me
que tolice é não sonhar;
que não há vida sem quimera,
nem razão que por delonga não pene,
que tolice é não sonhar.
Dizes-me
que ao ouvir-te também falo;
e tão bem mo dizes,
que ao falar quase te ouço.
terça-feira, 3 de maio de 2011
quarta-feira, 27 de abril de 2011
De la musique - Placebo
Tema: Where Is My Mind
Intérpretes: Placebo, Black Francis
Álbum: Sleeping with Ghosts [Bonus CD] (2003)
Nonsense
Que sei eu da vida? Sonhos vendidos às portas de uma rua escura. Um pôr-do-sol de mil cores. Depois. Um cocktail explosivo. Rápido, sobe a alucinada Rua dos Clérigos, às 22 em ponto, com os sentidos todos despertos e intensidade máxima. I-men-su-rá-vel. As luzes da cidade em harmonia celestial. As vozes dos pedestres, cintilando com as estrelas. Não há limite. Isso, um caminho ilimitado, perfeito e vitalício. Como? Acabou o tempo? Próxima dose: 3 contos de vida e 4 de não quero saber. Tragam-me o mar em pacotes. A paz do Douro desaguando nas veias. Não quero saber. Que sei eu da vida? Não quero saber. Dar cambalhotas ao amanhecer com musas que não fazem perguntas. Inspiração divina: meia grama de maresia. Coça o nariz. Um dia hei-de ser engenheiro, como o outro que olhava a casa defronte, sentindo um nada que doía. Olhando 20 anos para trás, fazendo cálculos até descobrir que sabia tanto da vida como eu. A dele dos outros. A minha dele dos outros. Mas isso foi ontem. Hoje, 20 anos atrás, um nada que dói. Amanhã, faço os cálculos. Há-de fazer sentido. Nenhum.
sábado, 23 de abril de 2011
Nunca mais chega o Outono
A grande maioria das pessoas que eu conheço gosta de sol, do Verão e do calor. Algumas delas, assim que vem uma chuvinha, metem-se em casa a rezar por sol. Ao primeiro cheirinho de frio, enchem-se de roupa e suspiram pelo Verão. Eu sou um pouco assim. Mas ao contrário. Não tenho nada contra o sol, desde que ele não me chateie muito. Detesto calor. Mas gosto de sol no Inverno. E adoro chuva no Verão, sobretudo depois de uns dias de calor intenso. E como, mais dia, menos dia, o sol, o calor e o Verão irão responder às inúmeras preces que clamam por eles, deixo a "minha" singela homenagem à chuva. Para que ela não se esqueça de que, em cada Verão, há pelo menos um maluco que prefere a chuva ao sol.
terça-feira, 19 de abril de 2011
segunda-feira, 18 de abril de 2011
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Realidade
Sempre fora assim:
um olho no infinito e outro nos arredores.
O problema surgiu quando
(e aqui algo nunca antes dito)
o infinito resolveu descer à terra.
A focagem era tão perfeita e a imagem tão nítida,
que foi imediatamente recusada pelos olhos do pobre rapaz.
Então, eu, que até nem costumo dar nome às coisas,
inventei um título para este texto.
E o que sempre fora assim
(um olho no infinito e outro nos arredores)
assinou por baixo, já meio zonzo,
recolhendo-se, de seguida, num universo paralelo.
um olho no infinito e outro nos arredores.
O problema surgiu quando
(e aqui algo nunca antes dito)
o infinito resolveu descer à terra.
A focagem era tão perfeita e a imagem tão nítida,
que foi imediatamente recusada pelos olhos do pobre rapaz.
Então, eu, que até nem costumo dar nome às coisas,
inventei um título para este texto.
E o que sempre fora assim
(um olho no infinito e outro nos arredores)
assinou por baixo, já meio zonzo,
recolhendo-se, de seguida, num universo paralelo.
sábado, 9 de abril de 2011
De la musique - Scout Niblett
Tema: Just Do It!
Intérprete: Scout Niblett
Álbum: The Calcination of Scout Niblett (2010)
quarta-feira, 6 de abril de 2011
De la musique - David Bowie & Lou Reed
Porque sim.
Tema 1: Queen Bitch
Intérpretes: David Bowie, Lou Reed
Álbum: Hunky Dory (1971)
Tema 2: I'm Waiting for the Man
Intérpretes: Lou Reed, David Bowie
Álbum: The Velvet Underground & Nico (1967)
Tema 1: Queen Bitch
Intérpretes: David Bowie, Lou Reed
Álbum: Hunky Dory (1971)
Tema 2: I'm Waiting for the Man
Intérpretes: Lou Reed, David Bowie
Álbum: The Velvet Underground & Nico (1967)
segunda-feira, 4 de abril de 2011
sábado, 2 de abril de 2011
De la musique - The Strokes
Bom fim-de-semana, sem acordo ortográfico, e bebam com moderação. Para mim, basta cheio.
Tema: Killing Lies
Intérprete: The Strokes
Álbum: First Impressions of Earth (2006)
Tema: Killing Lies
Intérprete: The Strokes
Álbum: First Impressions of Earth (2006)
Sólidas mentiras
Que mais poderia eu pedir-te para sonhar?
Sólidas mentiras? - irias negar,
cobrindo de ingenuidade
qualquer esboço de inverdade.
E irias jurar
dizer-me a verdade,
só a verdade,
nada mais do que a verdade,
com tão perfeita veleidade,
que seria impossível duvidar.
Porque o importante é sonhar.
Ar... Ar...
Deixa a mentira respirar.
Eu disse mentira?
Foi sem querer,
jamais te faria sofrer.
Aquilo nem sequer rima.
Jamais há-de ter algo por cima
(ou por baixo),
há-de acabar só no mundo,
ou limitado por vogais.
Vá, não chores mais.
Para a próxima, juro, não pergunto.
Mais vale o silêncio defunto
daquilo que fica por dizer
do que saber.
Ar...
O importante é sonhar.
Sólidas mentiras? - irias negar,
cobrindo de ingenuidade
qualquer esboço de inverdade.
E irias jurar
dizer-me a verdade,
só a verdade,
nada mais do que a verdade,
com tão perfeita veleidade,
que seria impossível duvidar.
Porque o importante é sonhar.
Ar... Ar...
Deixa a mentira respirar.
Eu disse mentira?
Foi sem querer,
jamais te faria sofrer.
Aquilo nem sequer rima.
Jamais há-de ter algo por cima
(ou por baixo),
há-de acabar só no mundo,
ou limitado por vogais.
Vá, não chores mais.
Para a próxima, juro, não pergunto.
Mais vale o silêncio defunto
daquilo que fica por dizer
do que saber.
Ar...
O importante é sonhar.
Bom dia
Como sabem, ontem foi o dia das mentiras, o dia mais verdadeiro do ano. No dia 1 de Abril, todos assumem que mentem. Haverá coisa mais verdadeira?
quinta-feira, 31 de março de 2011
De la musique - Martina Topley-Bird
Tema: April Grove
Intérprete: Martina Topley-Bird
Álbum: The Blue God (2008)
quarta-feira, 23 de março de 2011
Trailer - Heima
Heima (em casa) é uma viagem até ao coração da Islândia, onde os Sigur Rós deram uma série de concertos gratuitos, não anunciados, para a população local. A excelência da música (para os apreciadores da banda) dispensa comentários. As imagens mostram-nos um novo mundo antigo, longe das grandes cidades que nos fazem esquecer que existe vida para além delas. Que houve vida antes delas. O Homem despreza com uma ingratidão impressionante as suas origens. Chama-lhe progresso. Mas o progresso só faz sentido se contribuir para o bem-estar das pessoas. E qualquer coisa que destrua esta pausa essencial no rebuliço diário, este repouso ancestral, necessário para o equilíbrio das mentes, não é um progresso, mas sim um retrocesso.
Quando eu era mais novo, costumava passar férias numa aldeia nos arredores do Porto, onde nasceu a minha mãe e mora, ainda, parte da minha família. Junto de gente simples, cujo relógio batia bem mais lento (e saudável) do que o da gente da cidade. Gente impoluta, que mantinha princípios esquecidos, calcados em nome do avanço tecnológico. Os fins justificam os meios - dizem. Pois eu tenho saudade desse tempo em que tudo era mais simples. Não havia Internet, 100 canais na televisão. As ruas eram de terra (de lama, no Inverno), caminhava-se, em vez de se viajar de carro até ao café a 500 metros de casa. Ia-se pescar e almoçar em cima de uma pedra rodeada por árvores. Havia menos conforto, mas as pessoas eram mais felizes. Hoje, há menos caminhos de terra, os carros chegaram em força à aldeia, há televisão, Internet e acesso à informação global. As pessoas saem menos para pescar e mais para o centro comercial mais próximo. Há mais conhecimento, mais conforto. E menos gente a sorrir. Já não há tempo para sorrir, nesta aldeia global que supostamente deveria aproximar-nos uns dos outros e fazer-nos mais felizes, mas que resulta precisamente no oposto.
Não sei se o conhecimento é directamente proporcional à infelicidade. Não imagino a minha vida sem o conforto que tenho em casa, sem uma via que me ligue ao mundo, ao conhecimento que está ao alcance de todos, e não de apenas de uma elite. Não sou contra o progresso, ele é necessário e inevitável. Simplesmente, tenho saudade da minha aldeia. Daquela aldeia antiga que hoje já não existe.
Em casa, no conforto do meu sofá, assisto no computador à deslumbrante paisagem islandesa. Sem compreender por que motivo estas duas faces da mesma realidade não podem coexistir pacífica e progressivamente.
Quando eu era mais novo, costumava passar férias numa aldeia nos arredores do Porto, onde nasceu a minha mãe e mora, ainda, parte da minha família. Junto de gente simples, cujo relógio batia bem mais lento (e saudável) do que o da gente da cidade. Gente impoluta, que mantinha princípios esquecidos, calcados em nome do avanço tecnológico. Os fins justificam os meios - dizem. Pois eu tenho saudade desse tempo em que tudo era mais simples. Não havia Internet, 100 canais na televisão. As ruas eram de terra (de lama, no Inverno), caminhava-se, em vez de se viajar de carro até ao café a 500 metros de casa. Ia-se pescar e almoçar em cima de uma pedra rodeada por árvores. Havia menos conforto, mas as pessoas eram mais felizes. Hoje, há menos caminhos de terra, os carros chegaram em força à aldeia, há televisão, Internet e acesso à informação global. As pessoas saem menos para pescar e mais para o centro comercial mais próximo. Há mais conhecimento, mais conforto. E menos gente a sorrir. Já não há tempo para sorrir, nesta aldeia global que supostamente deveria aproximar-nos uns dos outros e fazer-nos mais felizes, mas que resulta precisamente no oposto.
Não sei se o conhecimento é directamente proporcional à infelicidade. Não imagino a minha vida sem o conforto que tenho em casa, sem uma via que me ligue ao mundo, ao conhecimento que está ao alcance de todos, e não de apenas de uma elite. Não sou contra o progresso, ele é necessário e inevitável. Simplesmente, tenho saudade da minha aldeia. Daquela aldeia antiga que hoje já não existe.
Em casa, no conforto do meu sofá, assisto no computador à deslumbrante paisagem islandesa. Sem compreender por que motivo estas duas faces da mesma realidade não podem coexistir pacífica e progressivamente.
segunda-feira, 21 de março de 2011
De la musique - DJ Shadow
Tema: Midnight in a Perfect World
Intérprete: DJ Shadow
Álbum: Endtroducing... (1996)
Vou escrever um poema lindo
Com muitos pássaros a chilrear uma eterna Primavera.
Com muitas árvores da cor da esperança,
onde os pássaros chilreiam um dia eterno de sol.
Com montes pintados de verde e um céu sempre azul,
onde os pássaros voam livres.
Com vales, planícies e rios e mares por poluir.
E pássaros, muitos pássaros a cantar.
Sem cidades, países, fronteiras.
Sem fome, nem guerra, nem ódio.
Em suma, um poema sem gente.
Lindo, lindo, lindo, lindo.
Como o chilrear dos pássaros
nas árvores
nos montes
num mundo verde e azul,
vazio e perfeito.
Depois vou dar-lhe um título diferente de utopia,
para não parecer utopia o que eu vou escrever.
E a seguir desapareço no que acabei de dizer.
Com muitas árvores da cor da esperança,
onde os pássaros chilreiam um dia eterno de sol.
Com montes pintados de verde e um céu sempre azul,
onde os pássaros voam livres.
Com vales, planícies e rios e mares por poluir.
E pássaros, muitos pássaros a cantar.
Sem cidades, países, fronteiras.
Sem fome, nem guerra, nem ódio.
Em suma, um poema sem gente.
Lindo, lindo, lindo, lindo.
Como o chilrear dos pássaros
nas árvores
nos montes
num mundo verde e azul,
vazio e perfeito.
Depois vou dar-lhe um título diferente de utopia,
para não parecer utopia o que eu vou escrever.
E a seguir desapareço no que acabei de dizer.
terça-feira, 15 de março de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
Perspectivas
É, durante a maior parte do tempo, um peixe melancólico.
Só depois de saciada a dor, o outro aparece para matar o tédio.
O que uma mão escreve a outra apaga e vice-versa - impossível tocarem-se?
Nem por isso.
Abreviada a introdução, enfadado o leitor, a perspectiva muda,
e ponho-me agora na pele do segundo:
as entrelinhas são minhas! as entre-
linhas são minhas!
(Um pequeno erro de cálculo (era na pele ao lado).)
Agora, sim, o que observa prevalece.
Só depois de saciada a dor, o outro aparece para matar o tédio.
O que uma mão escreve a outra apaga e vice-versa - impossível tocarem-se?
Nem por isso.
Abreviada a introdução, enfadado o leitor, a perspectiva muda,
e ponho-me agora na pele do segundo:
as entrelinhas são minhas! as entre-
linhas são minhas!
(Um pequeno erro de cálculo (era na pele ao lado).)
Agora, sim, o que observa prevalece.
quinta-feira, 3 de março de 2011
Oásis
Assim descreveria este espaço, onde agora me reúno
com pensamentos cigarristas e ordeiros.
Ideado vértice de tudo, a paz de estar só - o sítio
perfeito para escapar ao rebuliço da cidade, eu diria.
No entanto, até aqui tudo gira em torno do mesmo:
tempo, sempre tempo; o mundo resumido a uma ampulheta,
escoando incessantemente gente de um lado
para o outro. Pergunto-me qual será o meu lugar na cadeia,
e pressiono os elos da corrente até que a voragem os quebre.
Só que, assim que as mãos se abrem, os fragmentos esgueiram-se,
e o que sobra nao é mais que um aglomerado de caretas inanimadas,
fitando-me como se as aguardassem ainda...
Mas quais respostas?! Uma garrafa de rum(o) vazia
- síntese de uma vida de embriaguez?
Bah! Não me chateiem... tenho mais que fazer.
Até porque se me esgotaram os cigarros, e sem cigarros
não há pensamentos semilúcidos - maravilha das conveniências.
Retorno, então, ao rebuliço reconfortante da cidade.
Para trás? Alguma miragem, por certo...
com pensamentos cigarristas e ordeiros.
Ideado vértice de tudo, a paz de estar só - o sítio
perfeito para escapar ao rebuliço da cidade, eu diria.
No entanto, até aqui tudo gira em torno do mesmo:
tempo, sempre tempo; o mundo resumido a uma ampulheta,
escoando incessantemente gente de um lado
para o outro. Pergunto-me qual será o meu lugar na cadeia,
e pressiono os elos da corrente até que a voragem os quebre.
Só que, assim que as mãos se abrem, os fragmentos esgueiram-se,
e o que sobra nao é mais que um aglomerado de caretas inanimadas,
fitando-me como se as aguardassem ainda...
Mas quais respostas?! Uma garrafa de rum(o) vazia
- síntese de uma vida de embriaguez?
Bah! Não me chateiem... tenho mais que fazer.
Até porque se me esgotaram os cigarros, e sem cigarros
não há pensamentos semilúcidos - maravilha das conveniências.
Retorno, então, ao rebuliço reconfortante da cidade.
Para trás? Alguma miragem, por certo...
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Reencontro
É noite. As luzes dos automóveis estendem-se
rua acima, rua abaixo. Viajo com elas, imóvel,
e, novamente, me assalta esta hesitação: ir ou ficar?
O suspense das horas espalha-se pelas esquinas,
contaminando quem passa... e até quem não passa
e talvez devesse ter passado, não sei...
A lua, semi-esplendorosa, demarca silhuetas de instantes anteriores;
encontro-as com a mesma facilidade com que agora me perco.
"Ir ou ficar?..." - algures, uma voz balbucia circunstâncias...
"Não decidir, não decidir." - Consigo ouvir, ainda,
em jeito de profecia, de uma outra voz, que não a minha.
Não falei, e mais não quis saber, que não lhe tivesse dito já.
Sobre a estrada, corre o rumo certo do regresso a casa.
Lá, sim, aqui, onde todos os sonhos se apagam, e nenhuma voz cintila,
me reconheço, lúcida e assustadoramente, reflexo do que não fui.
Fecho a porta, e cai-me nos braços, saudoso, o que ficou.
rua acima, rua abaixo. Viajo com elas, imóvel,
e, novamente, me assalta esta hesitação: ir ou ficar?
O suspense das horas espalha-se pelas esquinas,
contaminando quem passa... e até quem não passa
e talvez devesse ter passado, não sei...
A lua, semi-esplendorosa, demarca silhuetas de instantes anteriores;
encontro-as com a mesma facilidade com que agora me perco.
"Ir ou ficar?..." - algures, uma voz balbucia circunstâncias...
"Não decidir, não decidir." - Consigo ouvir, ainda,
em jeito de profecia, de uma outra voz, que não a minha.
Não falei, e mais não quis saber, que não lhe tivesse dito já.
Sobre a estrada, corre o rumo certo do regresso a casa.
Lá, sim, aqui, onde todos os sonhos se apagam, e nenhuma voz cintila,
me reconheço, lúcida e assustadoramente, reflexo do que não fui.
Fecho a porta, e cai-me nos braços, saudoso, o que ficou.
De la musique - Pink Floyd
Tema: Is There Anybody Out There?
Intérprete: Pink Floyd
Álbum: The Wall (1978)
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Musa
Tu que adivinhas o verde canto dos pássaros na lápide,
o assobio de criança encerrado nas masmorras do tempo.
Tu das mãos sinistras que brotam de onde menos se espera,
que invades clausuras e expões corações de pedra,
e crês que o que jaz sem palavras do silêncio renascerá.
Tu do dom da cura no tormento desta sede - desatino -,
mostra-te como te escrevo, ou de outra forma qualquer.
Ou esvai-te de uma vez no absurdo do que lês.
o assobio de criança encerrado nas masmorras do tempo.
Tu das mãos sinistras que brotam de onde menos se espera,
que invades clausuras e expões corações de pedra,
e crês que o que jaz sem palavras do silêncio renascerá.
Tu do dom da cura no tormento desta sede - desatino -,
mostra-te como te escrevo, ou de outra forma qualquer.
Ou esvai-te de uma vez no absurdo do que lês.
De la musique - Matisyahu
The coolest Jew since Jesus (segundo dizem na caixa de comentários do YouTube).
Tema: King Without a Crown
Intérprete: Matisyahu
Álbum: Live at Stubb's (2005)
Tema: King Without a Crown
Intérprete: Matisyahu
Álbum: Live at Stubb's (2005)
domingo, 13 de fevereiro de 2011
De la musique - Bone Thugs-N-Harmony
Yo! Andei a limpar o pó a uns CD que para aqui tenho e encontrei isto.
Tema: Moe Cheese
Intérprete: Bone Thugs-N-Harmony
Álbum: Creepin on ah Come Up (1994)
Tema: Moe Cheese
Intérprete: Bone Thugs-N-Harmony
Álbum: Creepin on ah Come Up (1994)
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Trailer - Before Sunrise
Conhecem-se no comboio. Ela, Celine (Julie Delpy), uma francesa de regresso às aulas em Paris, após uma visita à avó, em Budapeste. Ele, Jesse (Ethan Hawke), um americano vagueando pela Europa, depois de uma recente relação falhada, em Madrid. Estudam-se, trocam ideias, ele faz a proposta:
- Sais do comboio comigo em Viena e damos a volta pela cidade.
Celine hesita:
- Vamos fazer o quê?
- Não sei. Só sei que tenho de apanhar um voo da Austrian Airlines amanhã de manhã às 9h30. Não tenho dinheiro para um hotel, por isso, vou andar às voltas. Era mais divertido se viesses comigo. Se eu for um tarado qualquer, tu apanhas o comboio seguinte.
Não chega para convencê-la. Jesse insiste.
- Avança dez ou vinte anos. Estás casada, mas o teu casamento já não tem a energia que tinha, começas a culpar o teu marido, começas a pensar em todos os tipos que conheceste e no que teria acontecido se tivesses ficado com um deles. Pronto, eu sou sou um deles. Pensa que isto é uma viagem no tempo de lá até aqui, para avaliar o que perdeste. Vê isto como um enorme favor que prestas a ti e ao teu futuro marido, para descobrires que não perdeste nada. Eu sou tão inútil quanto ele. Totalmente desmotivado, muito maçador. Afinal, fizeste a escolha certa e és muito feliz.
Um dia em Viena, onde as questões de uma vida inteira são antecipadas e onde uma vaca fuma com os cascos e se comporta como um cão, numa peça de teatro que Celine e Jesse não chegarão a ver. Os diálogos são absurdos, cómicos, intensos, realistas. Ele e ela vão-se aproximando desse lugar que, segundo Jesse, é uma fuga para duas pessoas que não sabem estar sós. Decidem que não deve haver amanhã. Tudo deve ser resumido a uma noite perfeita. Dizem adeus, antes, porque depois, no momento da despedida, magoaria mais. Aproveitam o momento, sem planos, sem preocupações. Antes do amanhecer. Um amanhecer rápido, melancólico, com sabor adiantado a saudade, a separação inevitável. A ideia do adeus torna-se insustentável. Talvez pudessem encontrar-se cinco anos depois. É muito tempo. Talvez um ano. Não, seis meses. Cais 9, 16 de Dezembro, às seis da tarde. Estará um frio de morrer. Mas levam com eles algo capaz de sobreviver ao mais duro Inverno. Até breve. E mais não disseram. E mais não digo.
Let's look at the trailer.
- Sais do comboio comigo em Viena e damos a volta pela cidade.
Celine hesita:
- Vamos fazer o quê?
- Não sei. Só sei que tenho de apanhar um voo da Austrian Airlines amanhã de manhã às 9h30. Não tenho dinheiro para um hotel, por isso, vou andar às voltas. Era mais divertido se viesses comigo. Se eu for um tarado qualquer, tu apanhas o comboio seguinte.
Não chega para convencê-la. Jesse insiste.
- Avança dez ou vinte anos. Estás casada, mas o teu casamento já não tem a energia que tinha, começas a culpar o teu marido, começas a pensar em todos os tipos que conheceste e no que teria acontecido se tivesses ficado com um deles. Pronto, eu sou sou um deles. Pensa que isto é uma viagem no tempo de lá até aqui, para avaliar o que perdeste. Vê isto como um enorme favor que prestas a ti e ao teu futuro marido, para descobrires que não perdeste nada. Eu sou tão inútil quanto ele. Totalmente desmotivado, muito maçador. Afinal, fizeste a escolha certa e és muito feliz.
Um dia em Viena, onde as questões de uma vida inteira são antecipadas e onde uma vaca fuma com os cascos e se comporta como um cão, numa peça de teatro que Celine e Jesse não chegarão a ver. Os diálogos são absurdos, cómicos, intensos, realistas. Ele e ela vão-se aproximando desse lugar que, segundo Jesse, é uma fuga para duas pessoas que não sabem estar sós. Decidem que não deve haver amanhã. Tudo deve ser resumido a uma noite perfeita. Dizem adeus, antes, porque depois, no momento da despedida, magoaria mais. Aproveitam o momento, sem planos, sem preocupações. Antes do amanhecer. Um amanhecer rápido, melancólico, com sabor adiantado a saudade, a separação inevitável. A ideia do adeus torna-se insustentável. Talvez pudessem encontrar-se cinco anos depois. É muito tempo. Talvez um ano. Não, seis meses. Cais 9, 16 de Dezembro, às seis da tarde. Estará um frio de morrer. Mas levam com eles algo capaz de sobreviver ao mais duro Inverno. Até breve. E mais não disseram. E mais não digo.
Let's look at the trailer.
Afinal, digo. Não foram seis meses, foram nove anos. Mas deixemos isto para outra altura. Até porque ainda não vi o filme. Ou será que vi?
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Lua
Que segredos guardas tu, ó Lua,
quando, névoa, rebordo incons-
tante de formas, húmidos reflexos,
ténues vibrações, me transcendes?
A que lugar, a que tempo pertences?
Em que olhar, em que mãos te deterás?
Ó luz efémera e seminua, Deusa, antes do medo,
porque te perco, porque te persigo?
quando, névoa, rebordo incons-
tante de formas, húmidos reflexos,
ténues vibrações, me transcendes?
A que lugar, a que tempo pertences?
Em que olhar, em que mãos te deterás?
Ó luz efémera e seminua, Deusa, antes do medo,
porque te perco, porque te persigo?
Bom dia
De vez em quando, ponho-me a ver quem cá vêm a este desamparo e descubro algumas coisas interessantes. As que mais me divertem são as dos enganados do google. Por exemplo, este queria um poema que lhe dissesse tudo (era bom, não era?). Teve azar, foi o tediokiller a dizer-lhe. Imagino a desilusão do pobre leitor...
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
De la musique - Pedro Abrunhosa
Quer-se dizer, um gajo vem aqui, cheio de boas intenções, pôr uma musiquinha portuguesa, procura no Dailymotion e é só cortes. Calma, diz o Abrunhosa, com aquela vozinha sedutora de fazer inveja ao Zé Cabra. Está bem, mas o que eu queria mesmo era a Lua, que o dowhile esqueceu-se de pagar a luz e não se vê nada aqui no blogue. Fui ao YouTube. Atiraram-me com isto (sem comentários)... Nova tentativa. Era uma Lua redondinha e cheia, faxavor. Trouxeram-me um filme do Bruce Lee dobrado em português... Já estou com tu, Abrunhosa, é preciso uma paciência do caralho (caralho, não, caralho)! Não admira que não consigas dormir. Adiante. Vamos lá ver as gatas do Pedro, pode ser que isto anime. Já sei do que me lembrar, quando a Maria me pedir para esperar um bocadinho... Depois, dizem que não valorizamos o produto nacional! Enfim, o que é que gente há-de fazer?
Tema: Talvez Foder
Intérprete: Pedro Abrunhosa
Álbum: Palco (2003)
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
De la musique - The Walkmen
Tema: Wake Up
Intérprete: The Walkmen
Álbum: Everyone Who Pretended to Like Me Is Gone (2002)
Sono lento
Cinco da manhã. O meu coração está vazio, mas a minha mente fervilha de sintaxe. A noite, sempre a noite. Não está ninguém. A cidade dorme. Ouve-se, algures, o chilrear dos pássaros. São os primeiros a acordar. Eu, pelo contrário, gostava era de dormir. Não tenho sono. Fumo um cigarro a olhar para o céu (como se o céu tivesse alguma coisa para acrescentar à minha vida).
Há pouco orvalhou. Uma ténue camada de água cobre a rua, os edifícios, a realidade. Adoro água. Por vezes, penso que devia ter nascido peixe. Vaguearia pelo mar, vendo tudo em meu redor pela primeira vez, de 6 em 6 segundos, e esquecer-me-ia desta angustiante realidade de me lembrar, de 3 em 3 segundos, de que não tenho sono. Mas, claro, alguém tinha de estragar tudo e descobrir que, afinal, a memória dos peixes é bem maior do que se pensava. Azar. Agora não vou apagar o que está para trás. Resta-me, portanto, esperar pela onda certa e transformar-me a tempo de te encontrar deitada na praia, numa noite de lua cheia. Sim, pousava a mão no teu rosto, lia o teu olhar, e partiríamos sem palavras para uma noite paralela onde dormir fosse dispensável, e uma alvorada generosa nos cantasse um amanhã por revelar.
Infelizmente, a cidade desperta, e o rebuliço habitual traz-me de volta uma manhã repetida. Os pássaros já não cantam. Mergulho na soporífera multidão, deixo-me levar pela corrente. Posso dormir, finalmente.
Há pouco orvalhou. Uma ténue camada de água cobre a rua, os edifícios, a realidade. Adoro água. Por vezes, penso que devia ter nascido peixe. Vaguearia pelo mar, vendo tudo em meu redor pela primeira vez, de 6 em 6 segundos, e esquecer-me-ia desta angustiante realidade de me lembrar, de 3 em 3 segundos, de que não tenho sono. Mas, claro, alguém tinha de estragar tudo e descobrir que, afinal, a memória dos peixes é bem maior do que se pensava. Azar. Agora não vou apagar o que está para trás. Resta-me, portanto, esperar pela onda certa e transformar-me a tempo de te encontrar deitada na praia, numa noite de lua cheia. Sim, pousava a mão no teu rosto, lia o teu olhar, e partiríamos sem palavras para uma noite paralela onde dormir fosse dispensável, e uma alvorada generosa nos cantasse um amanhã por revelar.
Infelizmente, a cidade desperta, e o rebuliço habitual traz-me de volta uma manhã repetida. Os pássaros já não cantam. Mergulho na soporífera multidão, deixo-me levar pela corrente. Posso dormir, finalmente.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Ilusão
Não digam,
já sei que resido num tempo abstracto e factício.
Nem eu próprio me reconheço.
Este corpo mortiço, estes olhos cravados de linhas
(caminhos, caminhos, caminhos)? Tudo ilusão.
O que fui? Miragem, ilusão. O que sou? O que fui, ilusão.
E se alguma porta entreaberta, brisa ao de leve,
luz no fim da frase, faz sentido,
fechem, cubram, apaguem,
é tudo ilusão.
já sei que resido num tempo abstracto e factício.
Nem eu próprio me reconheço.
Este corpo mortiço, estes olhos cravados de linhas
(caminhos, caminhos, caminhos)? Tudo ilusão.
O que fui? Miragem, ilusão. O que sou? O que fui, ilusão.
E se alguma porta entreaberta, brisa ao de leve,
luz no fim da frase, faz sentido,
fechem, cubram, apaguem,
é tudo ilusão.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
De la musique - Broken Social Scene
Tema: Shampoo Suicide
Intérprete: Broken Social Scene
Álbum: You Forgot It in People (2002)
Voltar a página
Retomas o branco da página no preciso ponto.
Parágrafo segundo - deixemos as precisões.
Um rio desliza, cheio de peixes mortos.
O olhar persegue-o, devora-o a avidez do
parágrafo terceiro. Voltar a página?
Inútil. A acção detém-se na língua, enrola-se
no pescoço e, pacificamente, aperta-o.
O que fazer? O que fazer? - Maquinas deliciosamente.
O sujeito muda por motivos de forca maior,
meticulosamente, preparo um sorriso de não foi nada,
torradas de já passou para o pequeno-almoço.
E deixo o branco da página no preciso ponto.
Parágrafo segundo - deixemos as precisões.
Um rio desliza, cheio de peixes mortos.
O olhar persegue-o, devora-o a avidez do
parágrafo terceiro. Voltar a página?
Inútil. A acção detém-se na língua, enrola-se
no pescoço e, pacificamente, aperta-o.
O que fazer? O que fazer? - Maquinas deliciosamente.
O sujeito muda por motivos de forca maior,
meticulosamente, preparo um sorriso de não foi nada,
torradas de já passou para o pequeno-almoço.
E deixo o branco da página no preciso ponto.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
De la musique - Fred Everything
Tema: Elevate (Maurice Fulton Remix)
Intérprete: Fred Everything
Álbum: Future Sounds Of Jazz Vol. 10 (2005)
Amor ao primeiro tom
Bastou-lhe ouvir a sua voz
para ficar louco!
A sua forma
redonda, apetecível,
deixou-o completamente rouco!
Alguns dirão:
pensa com as calças...
Mas não é bem isso;
é o interior, a substância,
que fala mais alto do que ele.
E bastou-lhe ouvir a sua voz
para roçar o céu!
para ficar louco!
A sua forma
redonda, apetecível,
deixou-o completamente rouco!
Alguns dirão:
pensa com as calças...
Mas não é bem isso;
é o interior, a substância,
que fala mais alto do que ele.
E bastou-lhe ouvir a sua voz
para roçar o céu!
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Onde está a pureza inicial?
A transparência dos sentidos,
a água corrente, o sonho lúcido
- espelho de mim próprio -,
onde está?
A chama, o sal
- o paladar essencial -
na garganta, (a voz),
onde está?
A estranheza, a diferença,
a presença ou a saudade
- se saudade for ter-te aqui -,
onde está?
Onde está tudo isto,
ou qualquer coisa que seja?
Ou, até, coisa nenhuma!
- se nada for o mesmo que,
simplesmente, adormecer...
a água corrente, o sonho lúcido
- espelho de mim próprio -,
onde está?
A chama, o sal
- o paladar essencial -
na garganta, (a voz),
onde está?
A estranheza, a diferença,
a presença ou a saudade
- se saudade for ter-te aqui -,
onde está?
Onde está tudo isto,
ou qualquer coisa que seja?
Ou, até, coisa nenhuma!
- se nada for o mesmo que,
simplesmente, adormecer...
Memória
Um rasgo de vento
no branco espesso das nuvens,
e neve
cobrindo os picos das montanhas.
Frio, muito frio
nos ninhos e nas covas.
A queda lenta das aves,
o cansaço da lebre-alpina
e, sonolentas, as crias
encolhendo-se
sem perceberem a ausência de sol
neste quadro de ninguém
chamado memória.
no branco espesso das nuvens,
e neve
cobrindo os picos das montanhas.
Frio, muito frio
nos ninhos e nas covas.
A queda lenta das aves,
o cansaço da lebre-alpina
e, sonolentas, as crias
encolhendo-se
sem perceberem a ausência de sol
neste quadro de ninguém
chamado memória.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Não há memória
Uma gaivota recorta o horizonte.
Leva a saudade no bico.
Um sonho inacabado perde-se na bruma da manhã.
Já nem as ondas o trazem...
Já nem o mar me traz de volta.
Ao longe houve um barco
e, certamente, alguém no leme.
Do tempo veio a tempestade.
Mas onde estão os náufragos?
Nem um só arrepio.
Não há silêncio maior do que este que me invade os olhos.
Vem o branco sobre a página.
Não há memória.
E um sono que nem leve nem profundo
toma conta do resto.
Leva a saudade no bico.
Um sonho inacabado perde-se na bruma da manhã.
Já nem as ondas o trazem...
Já nem o mar me traz de volta.
Ao longe houve um barco
e, certamente, alguém no leme.
Do tempo veio a tempestade.
Mas onde estão os náufragos?
Nem um só arrepio.
Não há silêncio maior do que este que me invade os olhos.
Vem o branco sobre a página.
Não há memória.
E um sono que nem leve nem profundo
toma conta do resto.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
De la musique - Interpol
Tema: [Untitled]
Intérprete: Interpol
Álbum: Turn on the Bright Lights (2002)
sábado, 8 de janeiro de 2011
Começo a conhecer-me
«começo a conhecer-me não existo» disse recolhendo-se na
sombra das palavras «riscos moles e cinzentos» moles cinzentos
riscos moles e cinzentos observando-me do fundo da frase moles
cinzentos riscos cinzentos moles e as letras cercando-me o papel
afundando-se os olhos cobertos de tinta veneno na
língua as mãos coladas ao abismo cair cair ininterruptamente no
vazio sugado por cinzentos riscos moles cinzentos mol ri s
zen mo r is começo a conhecer-me não existo
sombra das palavras «riscos moles e cinzentos» moles cinzentos
riscos moles e cinzentos observando-me do fundo da frase moles
cinzentos riscos cinzentos moles e as letras cercando-me o papel
afundando-se os olhos cobertos de tinta veneno na
língua as mãos coladas ao abismo cair cair ininterruptamente no
vazio sugado por cinzentos riscos moles cinzentos mol ri s
zen mo r is começo a conhecer-me não existo
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
De la musique - Tori Amos
Mais chuva.
Temas: Northern Lad, Liquid Diamonds
Intérprete: Tori Amos
Álbum: From the Choirgirl Hotel (1998)
Temas: Northern Lad, Liquid Diamonds
Intérprete: Tori Amos
Álbum: From the Choirgirl Hotel (1998)
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
De la musique - Televise
Um álbum que tem andado no modo replay, cá por casa. Deve ser da chuva.
Tema: If I Told You
Intérprete: Televise
Álbum: Songs to Sing in A and E (2006)
Tema: If I Told You
Intérprete: Televise
Álbum: Songs to Sing in A and E (2006)
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
De la musique - Björk
Hoje, apetece-me ouvir Björk.
Tema: Immature
Intérprete: Björk
Álbum: Homogenic (1997)
Tema: Immature
Intérprete: Björk
Álbum: Homogenic (1997)
O pequeno Rúben
Cruzaram-se na rua, por acaso. Olharam-se demoradamente, como que absorvendo pequenas metamorfoses - fazia anos que não se viam.
Ela sempre tivera um sorriso escondido na face. Mesmo nas palavras frias, conseguia ver-se numa qualquer expressão incontida aquele sorriso, por vezes meio sorriso, um esboço, que fosse. E isso, a ele, bastava-lhe, mais do que qualquer palavra. Na verdade, raramente havia grandes palavras. Em vez disso, gestos que se soltavam de onde menos se esperava e pairavam sobre eles num silêncio provocador. Então, tudo acontecia muito rapidamente, como se uma fenda no tempo os transportasse para fora de onde quer que estivessem, e devoravam-se com a avidez do primeiro encontro, quando tudo ainda está por descobrir. Depois, tudo voltava ao ritmo lento dos seus dias, entre conversas de café e passeios contemplativos à beira-mar. Nunca dera grande importância a esses pequenos momentos. Hoje vê-os como o que de mais próximo pode haver da felicidade.
(Será a felicidade assim tão banal?) Aquele pensamento súbito e contraditório fê-lo regressar àquela rua antiga onde, por acaso, se encontraram. Trocaram palavras breves. Ela havia casado; falou-lhe do pequeno Rúben, que tinha agora seis anos - a vida parecia correr-lhe bem. Sentiu-se feliz por ela, mas ao mesmo tempo invadido por uma estranha melancolia. Sentiu que os momentos que ainda há pouco recordava deixaram de ser exclusivamente seus, talvez até totalmente. Eram agora pertença de outro e do pequeno Rúben. Ela perguntou-lhe o que era feito dele, de sua vida. Que estava óptimo, que também ele tinha casado e mudado para uma casa maior, que ocupava agora um cargo de maior responsabilidade na empresa (enfim, feliz e contributário, como um bom chefe de família). Puderam, então, despedir-se (mais uma vez, talvez para sempre), e foi então que ele percebeu que pela primeira vez lhe havia mentido (mentido com quantos dentes tinha).
A noite caíra sem aviso prévio. Na sua mente ecoavam ainda as palavras de Margarida. Imaginou-a com o filho nos braços, um miúdo que poderia perfeitamente ser dele. O seu futuro, a sua felicidade entregues ao desconhecido. Uma parte dele morreu ali, naquela rua desencantada, debaixo de um céu sem lugar para estrelas. A outra procurou o bar mais próximo. Era tempo de esquecer o pequeno Rúben e brindar ao que sobrava de si.
Ela sempre tivera um sorriso escondido na face. Mesmo nas palavras frias, conseguia ver-se numa qualquer expressão incontida aquele sorriso, por vezes meio sorriso, um esboço, que fosse. E isso, a ele, bastava-lhe, mais do que qualquer palavra. Na verdade, raramente havia grandes palavras. Em vez disso, gestos que se soltavam de onde menos se esperava e pairavam sobre eles num silêncio provocador. Então, tudo acontecia muito rapidamente, como se uma fenda no tempo os transportasse para fora de onde quer que estivessem, e devoravam-se com a avidez do primeiro encontro, quando tudo ainda está por descobrir. Depois, tudo voltava ao ritmo lento dos seus dias, entre conversas de café e passeios contemplativos à beira-mar. Nunca dera grande importância a esses pequenos momentos. Hoje vê-os como o que de mais próximo pode haver da felicidade.
(Será a felicidade assim tão banal?) Aquele pensamento súbito e contraditório fê-lo regressar àquela rua antiga onde, por acaso, se encontraram. Trocaram palavras breves. Ela havia casado; falou-lhe do pequeno Rúben, que tinha agora seis anos - a vida parecia correr-lhe bem. Sentiu-se feliz por ela, mas ao mesmo tempo invadido por uma estranha melancolia. Sentiu que os momentos que ainda há pouco recordava deixaram de ser exclusivamente seus, talvez até totalmente. Eram agora pertença de outro e do pequeno Rúben. Ela perguntou-lhe o que era feito dele, de sua vida. Que estava óptimo, que também ele tinha casado e mudado para uma casa maior, que ocupava agora um cargo de maior responsabilidade na empresa (enfim, feliz e contributário, como um bom chefe de família). Puderam, então, despedir-se (mais uma vez, talvez para sempre), e foi então que ele percebeu que pela primeira vez lhe havia mentido (mentido com quantos dentes tinha).
A noite caíra sem aviso prévio. Na sua mente ecoavam ainda as palavras de Margarida. Imaginou-a com o filho nos braços, um miúdo que poderia perfeitamente ser dele. O seu futuro, a sua felicidade entregues ao desconhecido. Uma parte dele morreu ali, naquela rua desencantada, debaixo de um céu sem lugar para estrelas. A outra procurou o bar mais próximo. Era tempo de esquecer o pequeno Rúben e brindar ao que sobrava de si.
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