quarta-feira, 23 de março de 2011

Trailer - Heima

Heima (em casa) é uma viagem até ao coração da Islândia, onde os Sigur Rós deram uma série de concertos gratuitos, não anunciados, para a população local. A excelência da música (para os apreciadores da banda) dispensa comentários. As imagens mostram-nos um novo mundo antigo, longe das grandes cidades que nos fazem esquecer que existe vida para além delas. Que houve vida antes delas. O Homem despreza com uma ingratidão impressionante as suas origens. Chama-lhe progresso. Mas o progresso só faz sentido se contribuir para o bem-estar das pessoas. E qualquer coisa que destrua esta pausa essencial no rebuliço diário, este repouso ancestral, necessário para o equilíbrio das mentes, não é um progresso, mas sim um retrocesso.

Quando eu era mais novo, costumava passar férias numa aldeia nos arredores do Porto, onde nasceu a minha mãe e mora, ainda, parte da minha família. Junto de gente simples, cujo relógio batia bem mais lento (e saudável) do que o da gente da cidade. Gente impoluta, que mantinha princípios esquecidos, calcados em nome do avanço tecnológico. Os fins justificam os meios - dizem. Pois eu tenho saudade desse tempo em que tudo era mais simples. Não havia Internet, 100 canais na televisão. As ruas eram de terra (de lama, no Inverno), caminhava-se, em vez de se viajar de carro até ao café a 500 metros de casa. Ia-se pescar e almoçar em cima de uma pedra rodeada por árvores. Havia menos conforto, mas as pessoas eram mais felizes. Hoje, há menos caminhos de terra, os carros chegaram em força à aldeia, há televisão, Internet e acesso à informação global. As pessoas saem menos para pescar e mais para o centro comercial mais próximo. Há mais conhecimento, mais conforto. E menos gente a sorrir. Já não há tempo para sorrir, nesta aldeia global que supostamente deveria aproximar-nos uns dos outros e fazer-nos mais felizes, mas que resulta precisamente no oposto.

Não sei se o conhecimento é directamente proporcional à infelicidade. Não imagino a minha vida sem o conforto que tenho em casa, sem uma via que me ligue ao mundo, ao conhecimento que está ao alcance de todos, e não de apenas de uma elite. Não sou contra o progresso, ele é necessário e inevitável. Simplesmente, tenho saudade da minha aldeia. Daquela aldeia antiga que hoje já não existe.

Em casa, no conforto do meu sofá, assisto no computador à deslumbrante paisagem islandesa. Sem compreender por que motivo estas duas faces da mesma realidade não podem coexistir pacífica e progressivamente.



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