É noite. As luzes dos automóveis estendem-se
rua acima, rua abaixo. Viajo com elas, imóvel,
e, novamente, me assalta esta hesitação: ir ou ficar?
O suspense das horas espalha-se pelas esquinas,
contaminando quem passa... e até quem não passa
e talvez devesse ter passado, não sei...
A lua, semi-esplendorosa, demarca silhuetas de instantes anteriores;
encontro-as com a mesma facilidade com que agora me perco.
"Ir ou ficar?..." - algures, uma voz balbucia circunstâncias...
"Não decidir, não decidir." - Consigo ouvir, ainda,
em jeito de profecia, de uma outra voz, que não a minha.
Não falei, e mais não quis saber, que não lhe tivesse dito já.
Sobre a estrada, corre o rumo certo do regresso a casa.
Lá, sim, aqui, onde todos os sonhos se apagam, e nenhuma voz cintila,
me reconheço, lúcida e assustadoramente, reflexo do que não fui.
Fecho a porta, e cai-me nos braços, saudoso, o que ficou.
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