Acordes de guitarra e acordeão,
e uma voz feiticeira que se confunde com a chuva.
Chove como nunca antes em todos os cantos dos meus sentidos.
(Como nunca antes? Não... nem eu próprio acredito nisto.)
Mas se a memória se mede com um olhar apenas
e o seu cheiro agridoce me apaga das mãos a textura de outros tons,
como dizer que choveu mais, outrora?
Ou menos? Ou de igual modo? Ou até se chove, agora?
Uma quase profunda melancolia desarticula-me os gestos.
Uma dor abstracta esmaga-me as pálpebras.
É cansaço. Cansaço de querer estar perto.
E cansa mais do que o cansaço de querer estar longe.
Sim... estar longe...
E os instrumentos calam-se, e a feiticeira vai-se.
E uma gárgula inexpressiva escoa as últimas sílabas:
"é quase certo que nada existe, nada está perto, nem eu estou triste".
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