segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Historieta

Tinha passado o dia a pensar em como começar esta história: era uma vez, não era uma vez e entrei num posto dos CTT. Dirigi-me ao balcão, pedi um envelope. «Nacional ou internacional?», perguntou. Disse-lhe que era para nenhures e perguntei-lhe o preço. Respondeu que, se era para nenhures, não era preciso envelope e que, assim sendo, era oferta da casa. Aceitei. Afinal de contas, não é todos os dias que se manda nada para nenhures, de borla. Quis retribuir e convidei-a para jantar. «Desde que não seja em nenhures...», gracejou. E eu compreendi. Em nenhures come-se muito mal. Além disso, temos de ter muita atenção com os preliminares. As mulheres adoram preliminares. Tudo o que não seja sexo são preliminares.

E então levei-a a jantar à tasca do Zé, que para além de ter bastante animação, tem sempre moelas de anteontem, prato económico, especialidade da casa. Corou. Provavelmente foi do molho (pedi-o bastante picante). Enfim, começamos a falar. Contei-lhe que escrevia versos. Admirou-se. Não sei porquê; afinal, tinha feito tudo para lhe proporcionar um jantar romântico. Era evidente que tinha alma de poeta. Contei-lhe mais: que era condição fundamental para se escrever que alguma coisa se passasse na vida de quem escreve. Não percebeu. E era um elogio, pois naquela noite era ela a minha musa. Quis-lhe contar mais, sentiu-se mal. Alguma coisa que comeu, certamente. Então, pagou e fomos embora.

Eu tinha deixado tudo preparado: a casa arejada e uma caixa de preservativos em cima da mesinha de cabeceira e convidei-a para subir. Desatou a vomitar. E eu entendi aquilo como um sim. Arrastei-a pelas escadas e após uma hora de ininterrupto sexo selvagem no Gational Neographic, lá demos a nossa quecazita. Serviço limpo e eficente, como mandam as regras da casa.

Acompanhei-a até à paragem do autocarro. Preferiu ir de táxi (vá-se lá perceber as mulheres). Ainda insisti para que pagasse ela (não queria que ficasse com a ideia de que sou machista), mas infelizmente recusou e no dia seguinte fiquei a dever o prato do dia ao Zé. Mas valeu bem a pena. Agora sempre que entro num posto dos CTT, lembro-me da cara de enjoada da Ana Paula. E recordações destas não têm preço.

1 comentário:

Anónimo disse...

aahhh já tinha saudades vossas,admito.
Dois beijos aos poetas! *