sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Maduro branco, verde tinto

Estava eu no alto do jardim do morro, a passear os olhos pelo rio, quando surge aquela figura plena de desnorte, cambaleando estrada fora. E vacilava de tal forma, que se tornava impossível a quem quer que fosse (inclusivamente ao próprio) adivinhar que direcção pretendia tomar.

Qual gymnaestrada, qual quê; aquilo, sim, era arte! Primeiro, um discreto mas bem delineado fan kick - começara o espectáculo. Sem interrupção nem hesitação, meio pivot à esquerda, logo seguido por um pivot à direita de um recorte técnico invejável. Alguns movimentos de equilíbrio - aviões, bandeiras e afins - e, para terminar a sua magnificente actuação, uma queda facial com pés juntos. A multidão foi ao rubro. Podia ler-se nos seus olhitos enviesados a satisfação do dever cumprido.

Mas eis que irrompe, qual deus da justiça recortada, omniausente no desamparo, o compassivo leme. Desmontou todo o cenário; quem pedia bis desiludiu-se. E é possível vê-lo, ainda, sob a penumbra dos dias, «piedade, piedade», descendo a rua colado ao muro.

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