sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

De porta em porta

quando os olhares se tocam
numa melodia tresloucada que vibra nos tímpanos
e vai escorregando garganta abaixo
até que se forme um nó no estômago;

quando as bocas se unem
num mar de saliva que se mistura com o hálito quente
dos narizes que o partilham ofegantemente;

quando, do ritmo demoníaco do sangue que corre para chegar,
saltam as roupas,
como lava de um vulcão em erupção;

quando esse arrepio
que funde a chama no gelo de um tremor
ataca as pernas enroscadas e se perde na cama que os recebe;

quando, nus, os corpos dançam
nas palavras que saem, intraduzíveis,
e os músculos se torcem, implorando o fim do rebuliço;

quando, entre dois cigarros,
se ouve qualquer coisa que ecoa na serenidade estabelecida:
promessas, talvez... umas já feitas, outras por fazer
- todas por cumprir;

quando a porta bate no meio da noite,
deixando no ar a ideia de que alguém saiu sem avisar,
e o que resta não é mais do que uma sonolenta indiferença;

quando... até quando?

1 comentário:

M. disse...

Nem penses que te vou responder...

Olha o teu texto que mais gostei de ler...


De port em porta ...até ao vizinho final...

Bom ano poeta!