sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ausência (I)

O automóvel parou. Um cenário de luzes foscas
caiu abruptamente sobre o pára-brisas, e
o silêncio bradou. Onde estava o nimbo da lua, o
fulgor trémulo das estrelas, a brisa das palavras
nos ouvidos? Há muito que o perdêramos pelas
curvas da vida. O que a noite nos trazia naquele
instante não era mais do que a cinza dos
sonhos e a embriaguez dos lençóis,
e sabíamo-lo, cúmplices da nossa sorte.
(De tão pouco nos vale a consciência dos (f)actos...)
Subimos as escadas da desesperança, e
espalhámos pelo quarto de todas as ausências
restos de prazer e de gestos.

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