sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sem ida nem volta

Dez horas da manhã.
O ténue suspiro do vento empurra-me
para onde não quero ir.

Os passos são curtos, renitentes.
As pernas, cada vez mais trémulas, hesitam.
O coração palpita desenfreadamente
e o ar escapa-se-me
arrastando consigo a pouca lucidez que me resta.

Vou imaginando o que me espera
e milhares de ideias assaltam a minha mente
- tantas hipóteses...

Subitamente, de entre o sussurro das sombras,
surge uma entrada que me faz despertar.

Bato à porta. A espera é infindável.
Ouço passos que se aproximam, firmes.
Recuo, inconscientemente,
tento recordar, à pressa, o que era para dizer.

Abrem-se os confins do tempo,
e, da lonjura, borbotando lentamente,
surge aquele vulto de proporções divinais.

Abro a boca para falar,
mas esta trai-me, e nada mais sai
do que um longo e rotundo silêncio.

Prendo os olhos naquele rosto
que tantas vezes me sorriu,
agora inerte e insensível,
envia-me um olhar intensamente oco.

Penso na imagem que idealizei,
comparo com aquela que está a atirar-me com palavras
que não ouço.

Respiro fundo, estranhamente aliviado.
Volto-me, regresso ao murmurinho das sombras.

E o ténue suspiro do vento empurra-me
para onde não quero ir.

1 comentário:

M. disse...

Bonito...

Seguel lá o vento. Quem sabe...