domingo, 5 de abril de 2009

Sem retorno

Encarou a placa onde outrora refulgiam promessas de destino certo. As letras haviam caído, sobrava apenas um rumor de sílabas, coberto pela fuligem dos sonhos. Dois passos à frente, uma porta sem número, um edifício em ruínas. Um fogo súbito gelou-o. Quis desesperadamente arder, recuperar o rubro dos lábios, o suco da carne, cálido, inebriante... gélido, um rosto mortiço olhando-o em silêncio... a brisa dos dedos calando tudo em seu redor, os olhos magos enganando o tempo... o grito ensurdecedor da sepa-
ração, a sombra dilacerante de um vulto que parte. Correu, fugiu alucinadamente daquela imagem inconstante. Ruas, esquinas, vultos, gestos, ecos, sombras, silêncio, noite, de novo a noite e o silêncio, e a mesma rua, e a mesma porta, e as paredes estreitas, claustrofóbicas, e uma cama vazia, e este corpo rasgado, espalhado pelo chão.

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