quinta-feira, 2 de abril de 2009

Invicta

A praça de Mouzinho de Albuquerque.
De frente para um Península parcialmente coberto de verde (as árvores abundam por aqui - abundam... enfim, no meio de tanto betão, até uma árvore parece uma floresta), dou comigo a perguntar-me o que faz esta estátua de fardas e canhões, plantada no meio do jardim. O leão esmagando a águia, uma data distante, o brasão da cidade... desta Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto.

Desta Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto... (Oh, valha-me Nossa Senhora!) De onde vem, então, este fragor de máquinas, este rumor de injúrias, este grito de guerra que todos os dias invade, pela manhã, esta cidade de epítetos e de lendas? Antigamente... sim, antigamente - antes ainda desse célebre ano de 1809 -, quando se construíam no Douro as naus das grandes conquistas, que levariam a carne e deixariam as tripas... «Valeu a pena?» Que sei eu disso? Que sei eu destes sacrifícios de outrora, deste cenário de guerra aqui enraizado, desta máscara de destemor e indolência no rosto dos soldados?

Uma criança Antiga pede esmola pelas ruas, e o Mui Nobre cidadão atira-lhe a moeda da purificação. A Sempre Leal esposa planeia o fim-de-semana com o amante casado. O operário recebe o ordenado miserável das garras do patrão... Recebeu, mas não gastou, porque o amigo do alheio teve a gentileza de lhe aliviar a bolsa Invicta. E, já agora, eu (não sei se santo ou se crente), que mais não faço do que apontar o dedo a tudo. Que ergam estátuas que nos detenham a todos, e mais estátuas para que se celebre esse feito. Que pintem símbolos pelas casas para que reluzam de noite, enquanto todos dormem. Todos? Não, nem todos, que lá do alto Ele observa, atento, este caos em harmonia, este pão esmagado, dia-a-dia desta Cidade (da) Virgem.

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