Por vezes, tenho esta tarefa ingrata: escrever sobre nada, de forma a parecer que escrevo sobre alguma coisa. Então, jogo com as palavras. Pego, por inesperado exemplo, em «repetir» e retiro-lhe uma letra: vamos chamar-lhe r (o imprevisto). E lá vou eu, todo contente, com o imprevisto debaixo do braço, para uma longínqua aula de francês em que tudo o que o petit tinha de saber era pronunciar correctamente fromage. Era de queijo que falávamos, à espera do pão do recreio, nada preocupados com o tempo que iria demorar até que o inglês nos ensinasse que, afinal, from age dizia respeito à idade. Foi nessa altura que percebi que já não era um petiz, mas antes alguém prestes a descobrir que o coração era algo que se incendiava facilmente, bastando-lhe para isso um sorriso de rapariga. As partidas que a vida nos prega: passamos tanto tempo a tentar apagar fogos e, de um momento para o outro, vemo-nos incapazes de gerar a mais ténue centelha.
Vá, deixa-te de lamúrias. És um homem, agora. E um homem não chora. O homem joga com as palavras.
Vamos lá, então. A rapariga sorria, e o rapaz respondia de coração pronto e corpo afogueado. Na altura, não havia lições de educação sexual - tínhamos de nos contentar com religião e moral. O sexo era-nos servido à queima-roupa. Às vezes corria bem, outras nem por isso. No meu caso, correu como um doido, à procura de um tal de juizinho de quem tantas vezes me falaram. Acabei por encontrá-lo, inevitavelmente, entre fotografias queimadas e os destroços de um coração adulto. Mas um homem não chora. O homem tem juízo. O homem escreve sobre nada, mantém as aparências e vive coisa nenhuma.
Não me apetece jogar mais com as palavras.
Vá, deixa-te de lamúrias. És um homem, agora. E um homem não chora. O homem joga com as palavras.
Vamos lá, então. A rapariga sorria, e o rapaz respondia de coração pronto e corpo afogueado. Na altura, não havia lições de educação sexual - tínhamos de nos contentar com religião e moral. O sexo era-nos servido à queima-roupa. Às vezes corria bem, outras nem por isso. No meu caso, correu como um doido, à procura de um tal de juizinho de quem tantas vezes me falaram. Acabei por encontrá-lo, inevitavelmente, entre fotografias queimadas e os destroços de um coração adulto. Mas um homem não chora. O homem tem juízo. O homem escreve sobre nada, mantém as aparências e vive coisa nenhuma.
Não me apetece jogar mais com as palavras.
1 comentário:
Um homem chora lágrimas intensas porque vividas no prazer da emoção.
E mesmo que brinque com as palavras, faz delas colares de flores que oferece com um sorriso a quem gosta.
Um beijo perfumado a Stargazer Lillies,
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