Zoo Kid, também conhecido por King Krule, um miúdo com voz e talento de gente grande.
Tema: Out Getting Ribs
Intérprete: Zoo Kid
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Alegoria do vazio
Busca, procura, rebusca
o olhar-relâmpago do passado em direcção ao futuro,
a luz que falha no preciso instante em que lá chegas
- atrasado, como sempre.
É isto o futuro? - perguntas.
E um dia percebes que não há futuro.
O presente foi-se na viagem.
O passado são destroços de infância,
ruínas de um romance apressado,
um encontro casual repetido
- para sempre, para sempre -
até que decores onde fica o amor,
para se um dia tiveres a sorte fugaz de lá voltar.
Vinte horas e dois minutos de um vulgar dia da semana.
Uma voz familiar anuncia a chegada do metro ao terminal 1.
As portas do veículo abrem-se
e um bando de beija-flores voa disparado para as escadas rolantes.
Em poucos segundos a estação fica vazia.
Esta é a realidade: o amor foi embora.
Sobram-te as alegorias, um reclame mal iluminado da Branca de Neve,
a útil farinha de cozinha, com a qual poderás monologar,
enquanto a da fábula não acorda e os beija-flores não regressam.
Pura perda de tempo.
o olhar-relâmpago do passado em direcção ao futuro,
a luz que falha no preciso instante em que lá chegas
- atrasado, como sempre.
É isto o futuro? - perguntas.
E um dia percebes que não há futuro.
O presente foi-se na viagem.
O passado são destroços de infância,
ruínas de um romance apressado,
um encontro casual repetido
- para sempre, para sempre -
até que decores onde fica o amor,
para se um dia tiveres a sorte fugaz de lá voltar.
Vinte horas e dois minutos de um vulgar dia da semana.
Uma voz familiar anuncia a chegada do metro ao terminal 1.
As portas do veículo abrem-se
e um bando de beija-flores voa disparado para as escadas rolantes.
Em poucos segundos a estação fica vazia.
Esta é a realidade: o amor foi embora.
Sobram-te as alegorias, um reclame mal iluminado da Branca de Neve,
a útil farinha de cozinha, com a qual poderás monologar,
enquanto a da fábula não acorda e os beija-flores não regressam.
Pura perda de tempo.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
De la musique - Nirvana
Qual a razão da preferência por esta versão, em vez da original? - pergunta o leitor atento. Atento, porque eu não disse, mas o leitor tem razão, eu gosto mesmo mais desta versão dos Nirvana do que da original de David Bowie. Por um motivo muito simples. Simples e extraordinário: a guitarra de Kurt Cobain, substituindo a voz de Bowie, num final que só sendo perfeito poderia superar o mítico original.
Tema: The Man Who Sold the World
Intérprete: Nirvana
Álbum: MTV Unplugged in New York (1994)
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
De la musique - The Doors
Tema: When the Music's Over
Intérprete: The Doors
Álbum: Strange Days (1967)
terça-feira, 25 de setembro de 2012
sábado, 22 de setembro de 2012
Lição de geografia
Um turista invade os dez minutos místicos que todas as manhãs eu partilho religiosamente com um café e um cigarro. Reclama um aeroqualquercoisa que eu não consigo decifrar. Aeroporto? - questiono. Aerolines! Espanha! Espanha! - gesticula, de olhos esbugalhados. Pronto, não me batas, não faço ideia de onde isso fica, mas, olha, vai em frente, coragem! E bebe menos café, que isso faz-te mal. E o homem lá vai a chamar pela pátria, apontando para uma Espanha que ansiosamente o espera, entre a Casa da Música e a tasca do Reis. É bom ter alguém ou alguma coisa que nos espere tão ardentemente (e o lugar indicado até tem o seu encanto). A mim espera-me a tarefa nada mística no fim dos meus dez minutos místicos, que já não são dez, são dois, por culpa de alguém que achou que o caminho para casa passava por aqui. O infeliz continua a esbracejar como se não houvesse amanhã. Um minuto, diz o transeunte ocupado. Tem razão, já nem um cigarro podemos fumar descansados neste minuto apressado que é a vida. O tempo voa, o espanhol não: caminha pela incerteza da estrada, rumo a uma Espanha idealizada, ali para os lados da Foz. Foi-se o tempo e a mística, fica a fotografia intemporal - conseguem imaginar um final mais feliz? - e a lição de geografia.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
De la musique - Wye Oak
Por falar em férias...
Praia, durante o dia.
Música, pela noite dentro.
Temas: Holy Holy; Hot as Day
Intérprete: Wye Oak
Álbum: Civilian (2011)
Praia, durante o dia.
Música, pela noite dentro.
Temas: Holy Holy; Hot as Day
Intérprete: Wye Oak
Álbum: Civilian (2011)
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Mão-de-obra barata
Por falar em poupanças, para todos aqueles que diariamente são obrigados a fechar as suas empresas, têm aqui uma boa possibilidade de encontrar mão-de-obra barata. Consta que os gatos estão no desemprego, tão potente e letal é o seu concorrente. Portanto, já sabe, duas doses de Whiskas por dia e os seus problemas de despesas com salários ficam resolvidos! Com um bocado de sorte, e uma vez que parece que o veneno não mata só ratos, pode ser que os desempregados (não são os gatos, são os outros, os que só servem para aumentar a despesa da sua empresa) que, com a nova lei do arrendamento, vão ter de morar debaixo da ponte, aproveitem para afogar a miséria e o governo anuncie uma diminuição do desemprego ainda este ano. Todos lucram. Menos os ratos, claro. Mas esses andavam aí sem fazer nada e a receber RSI, portanto, não se perde grande coisa. Pelo contrário, é menos despesa para a Segurança Social. Como vêem, ainda há esperança para este batatal a que chamam Portugal (pronto, tinhas de estragar tudo com uma rima).
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Poupe dinheiro nas férias
imagem: Zhao Huasen
Numa altura em que os bolsos dos portugueses estão cada vez mais cheios de buracos e vazios de dinheiro, até a bicicleta, que ainda há bem pouco tempo era considerada um meio de transporte económico, se pode transformar num acessório de luxo. Se for esse o seu caso, tem aqui a alternativa ideal: precisa apenas de sol, a sombra faz o resto. Boas férias.
sábado, 14 de julho de 2012
De la musique - Tame Impala
Para quem ainda tem todo o tempo do mundo (ou mandou uma daquelas coisas que fazem com que o tempo passe exactamente da mesma forma, embora não pareça).
Tema: Bold Arrow of Time
Intérprete: Tame Impala
Álbum: Innerspeaker (2010)
Tema: Bold Arrow of Time
Intérprete: Tame Impala
Álbum: Innerspeaker (2010)
Ouço-os,
no surrar do vento,
quando as janelas se fecham,
os passos que se vão.
Vejo-os,
no baço do vidro de aço,
os braços que, presos,
os perseguem.
Chamo-os,
no fogo dos trovões,
no desfile do troar,
os olhos de sangue rubro;
e grito!...
espasmos mudos
no ar que me devora,
sem que fale...
(e ficou algo por dizer...)
Sim,
sinto
- pressinto -
a presença da ausência,
no cheiro
da vela queimada,
sem chama...
e chamo,
clamo!
tardiamente reclamo...
O tempo.
no surrar do vento,
quando as janelas se fecham,
os passos que se vão.
Vejo-os,
no baço do vidro de aço,
os braços que, presos,
os perseguem.
Chamo-os,
no fogo dos trovões,
no desfile do troar,
os olhos de sangue rubro;
e grito!...
espasmos mudos
no ar que me devora,
sem que fale...
(e ficou algo por dizer...)
Sim,
sinto
- pressinto -
a presença da ausência,
no cheiro
da vela queimada,
sem chama...
e chamo,
clamo!
tardiamente reclamo...
O tempo.
Bom dia
Isto (aqui em cima) dizia eu há 10 anos. Agora não clamo, não reclamo, faço menos trocadilhos e evito pontos de exclamação, sobretudo depois do que não precisa de ser exclamado para ser ouvido (neste caso, lido). Aceito que o tempo já era. Ou melhor, foi. Sem suspense. Adiante.
terça-feira, 10 de julho de 2012
Ainda a propósito de memória
Estive a rever o Blade Runner. Há uma parte do filme, em que Roy (Rutger Hauer), um dos replicantes a ser abatido, abdica da sua vingança para que Rick (Harrison Ford), blade runner encarregado de o «afastar», perceba o significado de medo, o medo de quem julga que vai morrer a seguir. Rick foi salvo, in extremis, por Roy. A Roy já nada nem ninguém podia valer, o seu prazo de validade havia chegado ao fim. Estas foram as suas últimas palavras:
«I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I've watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser Gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die.»
A memória é uma via indispensável para nossa identidade. Sem memória, a nossa existência, pura e simplesmente, apagar-se-ia. Regra geral, isso acontece aquando da nossa morte. Às vezes, acontece antes.
Quando recordamos um determinado momento, estamos, de certa forma, a revivê-lo. Mas, a partir de uma certa altura da vida, recordar é também perceber que estamos mais velhos (logo, mais perto do fim) e que aquele momento que acabámos de recordar é irrepetível, não pela sua singularidade, mas porque nos faltam capacidades físicas e/ou psicológicas para o conseguir repetir. Queríamos mais. Mais vida, como pediu Roy ao seu construtor. Mas não é possível. E isto faz-nos morrer um pouco.
Para quem esteja num processo de perda de memória, esta parte inconveniente, omitida na frase «recordar é viver», torna-se irrelevante, perante a perda progressiva de identidade. Imagino o que uma pessoa nestas circunstâncias, e que tenha consciência do que está a acontecer, não daria por mais tempo de memória, nem que fosse para morrer um pouco ao recordar a seguir. É mesmo assim: queremos o que não temos e, por vezes, só damos valor ao que temos quando estamos prestes a perdê-lo (ou já o perdemos).
Quem, por outro lado, tem ainda o privilégio de se lembrar (e a expectativa de continuar a lembrar-se) das coisas, está pouco preocupado com o tempo das recordações. Escreve e reescreve a sua vida, pois tem todo o tempo do mundo para o fazer. Ou, pelo menos, assim parece.
Mas não é. E mais cedo do que tarde acabamos a procurar compensar, recorrendo a eufemismos e meias-verdades, a dura realidade de estarmos mais velhos. Eu disse velhos? - Velhos são os trapos! - Queria dizer maduros, experientes e sábios...
Ficam algumas imagens que vale a pena recordar, ao som da excelente banda sonora do filme.
«I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I've watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser Gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die.»
A memória é uma via indispensável para nossa identidade. Sem memória, a nossa existência, pura e simplesmente, apagar-se-ia. Regra geral, isso acontece aquando da nossa morte. Às vezes, acontece antes.
Quando recordamos um determinado momento, estamos, de certa forma, a revivê-lo. Mas, a partir de uma certa altura da vida, recordar é também perceber que estamos mais velhos (logo, mais perto do fim) e que aquele momento que acabámos de recordar é irrepetível, não pela sua singularidade, mas porque nos faltam capacidades físicas e/ou psicológicas para o conseguir repetir. Queríamos mais. Mais vida, como pediu Roy ao seu construtor. Mas não é possível. E isto faz-nos morrer um pouco.
Para quem esteja num processo de perda de memória, esta parte inconveniente, omitida na frase «recordar é viver», torna-se irrelevante, perante a perda progressiva de identidade. Imagino o que uma pessoa nestas circunstâncias, e que tenha consciência do que está a acontecer, não daria por mais tempo de memória, nem que fosse para morrer um pouco ao recordar a seguir. É mesmo assim: queremos o que não temos e, por vezes, só damos valor ao que temos quando estamos prestes a perdê-lo (ou já o perdemos).
Quem, por outro lado, tem ainda o privilégio de se lembrar (e a expectativa de continuar a lembrar-se) das coisas, está pouco preocupado com o tempo das recordações. Escreve e reescreve a sua vida, pois tem todo o tempo do mundo para o fazer. Ou, pelo menos, assim parece.
Mas não é. E mais cedo do que tarde acabamos a procurar compensar, recorrendo a eufemismos e meias-verdades, a dura realidade de estarmos mais velhos. Eu disse velhos? - Velhos são os trapos! - Queria dizer maduros, experientes e sábios...
Ficam algumas imagens que vale a pena recordar, ao som da excelente banda sonora do filme.
sábado, 30 de junho de 2012
De la musique - Booka Shade
Tema: Sweet Lies
Intérprete: Booka Shade
Álbum: The Sun & the Neon Light (2008)
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Recordar, viver
«O coração tem uma morte lenta, perdendo as esperanças uma a uma, como folhas. Até que, um dia, não resta nenhuma. Nenhuma esperança. Não resta nada.»
Memórias de uma Gueixa
Sempre ouvi dizer que recordar é viver. Permitam-me, respeitosamente, discordar. Sempre que eu recordo, sinto-me mais velho. Com a agravante de me começar a faltar a maquilhagem - metaforicamente falando (claro!) - necessária para disfarçar os factos.
Se a vida fosse uma produção de Hollywood, na qual uma chinesa se transforma em japonesa que busca um oriental sonho americano, talvez houvesse, algures, no trilho da desesperança, uma esposa do cair da noite, uma memória de gueixa, pronta a oferecer-me um, ou, vá lá, meio final feliz. Já não era mau.
Infelizmente, a vida não é um filme. E não é gueixa, é mesmo puta.
Bom dia
«Apenas fantasmagóricas lembranças e o nada
dividem entre si a tua herança sem destino.»
Juan Luis Panero
dividem entre si a tua herança sem destino.»
Juan Luis Panero
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Imagem: JJaska
A casa não se esquece de ti. Coloca-te estrategicamente repartida por todas as divisões. No sofá, com o olhar distante, seguindo um canal qualquer que a operadora não fornece. Na cozinha, vendo-me descascar batatas para a sopa, enquanto saboreias uma tira de bacalhau cru. E rimos com ditos antigos, como o bocado que a boca perde por falar demais. Lembras-te? Lembras-te de como a sardinha continuava a pingar no pão, mesmo quando já quase não falavas? Por vezes sento-me ao teu lado, ao lado do teu corpinho débil, e passo a mão pela tua face carente. Eu sei que ela não está materialmente lá, que o que permanece na tua cama vazia é apenas uma imagem que a saudade desperta. O corpo cede, a imagem permanece. Porque a casa não se esquece de ti.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
terça-feira, 5 de junho de 2012
Trailer - Memento
Sabemos logo como acaba, no início. O objectivo de Leonard (Guy Pearce) - matar o assasino da mulher - cumprido. Ou será que não? A história é contada da frente para trás. Vai-se completando e enredando em cada regressão. É gravada na pele de Leonard, em apontamentos, nas costas de fotografias. É a sua realidade. Aquela da qual, alguns minutos depois, não se lembrará. Confiará no que foi escrito por ele. Nada é o que parece, ou pareceu, depois, alguns minutos antes. O tempo virado do avesso. Só o objectivo se mantém. Mas o que sobrará a alguém que persegue cegamente um e um só fim, que vive em função disso, quando esse objectivo for alcançado? Confrontado com esta e outras questões, Leonard tem de tomar uma decisão. Afinal não acaba. O fim será apenas um de muitos fins, repetidos, como propósito de vida. Ou, pelo menos, é assim que eu me lembro de...
... Memento.
De la musique - The National
Now on a totally unrelated matter...
Tema: Afraid of Everyone
Intérprete: The National
Álbum: High Violet (2010)
Tema: Afraid of Everyone
Intérprete: The National
Álbum: High Violet (2010)
sábado, 2 de junho de 2012
Flashback
Tentou recuperar a intensidade das coisas, sem recorrer aos meios artificiais que fizeram viver tudo com mais intensidade. Descobriu que não era possível. Tentou perceber como viver apesar dessa perda de intensidade. Descobriu que com conformismo. Aceitando a perda. Procurando outras intensidades menos intensas (sempre, para sempre menos intensas) e tentando equilibrar a balança dessa forma. Da diferença entre o peso absoluto de antes e de depois, resultou um vazio impreenchível. Nunca mais a vida nos extremos. Nunca mais. O que perdeu em intensidade ganhou em lucidez. Mais lucidez. Mais. Até o peso da lucidez se tornar superior ao que a sua mente conseguia suportar. Percebeu que era necessário reduzir o peso da lucidez. Deixar de enfrentar todas as coisas. Um acto de subsistência. Menos lucidez. Menos. Até não encarar coisa nenhuma. Descobriu que era outra forma de desgaste, mais lento, constante, interminável. Que seria imprescindível enfrentar a vida ou, pelo menos, uma parte dela. Que só assim seria possível manter a balança equilibrada e dar algum sentido a uma vida sem sentido. Minimizar as perdas. Sobreviver.
quarta-feira, 30 de maio de 2012
De la musique - Let's Buy Happiness
Conheci isto recentemente e fiquei apaixonado (pela música e pelo nome da banda).
Tema: Fast Fast (2011)
Intérprete: Let's Buy Happiness
Tema: Fast Fast (2011)
Intérprete: Let's Buy Happiness
quinta-feira, 24 de maio de 2012
De la musique - The Golden Palominos
Tema: Breakdown
Intérprete: The Golden Palominos
Álbum: This Is How It Feels (1993)
Intervalo
Caminhar pela praia entre gaivotas e bicicletas, vendo o movimento da cidade desaguar no mar em frente. Ouvem-se risos, é hora do almoço, de pizza na esplanada, ao som de uma versão assambada de Protection. Vinho branco para calar a sede, os olhos esquecem tudo o que não caiba neste minúsculo intervalo onde a vida repousa por instantes, cansada de tantas voltas para nada, mas não agora com este mar tão perto. Mais um copo, o som está óptimo e o céu é uma via aberta para nenhures. Esta é a grande vantagem dos intervalos: levarem-nos a lado nenhum. O problema começa quando olhamos para o relógio e percebemos que está na hora de voltar para a precária realidade que nos trouxe até cá.
quarta-feira, 9 de maio de 2012
De la musique - Mr. Silla
Da Islândia, via KEXP, vem o melhor som que eu ouvi nos últimos tempos.
Tema: One Step (2011)
Intérprete: Mr. Silla
Tema: One Step (2011)
Intérprete: Mr. Silla
domingo, 22 de abril de 2012
De la musique - La Roux
Por falar em palas no cabelo...
Tema: In for the Kill
Intérprete: La Roux
Álbum: La Roux (2009)
Tema: In for the Kill
Intérprete: La Roux
Álbum: La Roux (2009)
Verdade ou consequência
Quando eu era miúdo, no tempo em que os Duran Duran e as palas no cabelo preenchiam o meu imaginário (na pré-história, portanto), eu e os meus amigos da escola costumávamos jogar ao verdade ou consequência, e as consequências eram, invariavelmente, os linguados da Inês. O primeiro beijo que eu dei foi assim, enrolado numa língua matreira, até perder completamente o pio. Fiquei zonzo. Nas noites seguintes, tive pesadelos eróticos. Sonhava com a língua da Inês a perseguir-me por ruas estreitas e sensuais, para me devorar. Por vezes, o desconhecido é assustadoramente belo. Outras vezes, é só assustador.
Entretanto, o miúdo cresceu, provou outras línguas, quentes e saborosas, frias e afiadas. O medo da Inês deu lugar à paixão pela Vânia, ao amor pela Margarida e à inevitável desilusão de todos nós. Por vezes, desejo voltar àquele sonho, em que para escapar me bastava acordar. Assim, tipo: fico cá enquanto gostar, sem promessas nem desilusões. Quando a coisa estiver prestes a descambar, acordo. E pronto, assunto resolvido. Infelizmente, tal não é possível: nem regressar ao passado, nem escapar do presente, pelo menos, com a mesma facilidade com que se acorda de um sonho. E acreditem que eu já tentei. Ainda há bem pouco tempo, enquanto uma bela Manuela, que uma noite vazia e uma garrafa de Whisky cheia fizeram o favor de me apresentar, me recitava a sua extensa lista de desilusões, eu ia-me beliscando, tentando escapar daquele pesadelo. É claro que não acordei de coisa nenhuma e, no fim, para além de duas orelhas a arder, fiquei com a camisola da selecção croata tatuada no corpo. Uma cena verdadeiramente triste. Adiante. Não percebo esta sede de promessas que as pessoas têm. É como se só prometendo antecipadamente seja possível estar no local certo, na hora exacta, sempre que é preciso. Prometeste, agora, não podes falhar. É uma ilusão, e as pessoas precisam de ilusões. Nada a fazer. Eu prefiro estar lá. E que estejam cá. Sei que nem sempre isso é possível. Por isso, não quero promessas. Chega de palavras.
E tudo isto por causa da língua da Inês. Cada vez gosto mais da Inês. Não dizia nada e, quando dávamos por ela, já tínhamos sido engolidos. Um dia caso-me com uma mulher assim. Prometo.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
De la musique - Mr. Cooper
Hey, Mister, what time is it?
Tema: Six
Intérprete: Mr. Cooper
Álbum: Amongst Strangers (2005)
Tema: Six
Intérprete: Mr. Cooper
Álbum: Amongst Strangers (2005)
Roda-dos-ventos
Tu que eternamente esperas,
junto ao despertar das auroras,
por novas de além-mar;
sempre esses olhos na lonjura,
sempre essas mãos em desalinho.
Ó vórtice de ventos e de rosas,
o sol nasce a oriente!
Não esse que, em suprema verticalidade e
perfeito equilíbrio, doura o imaginário,
mas este, cansado, feito de sono e farrapos,
cinzas do teu destino.
Ó voz de tempo avariado,
sinuoso pasto do pensamento,
porque me chamas de além-mar?
Sempre estas mãos em desalinho.
segunda-feira, 19 de março de 2012
De la musique - Quantic
E a excelente voz de Alice Russell para começar bem uma semana...
... com pouco tempo disponível.
Temas: Sound of Everything, Time Is the Enemy
Intérprete: Quantic
Álbuns: Mishaps Happening (2004), The 5th Exotic (2001)
... com pouco tempo disponível.
Temas: Sound of Everything, Time Is the Enemy
Intérprete: Quantic
Álbuns: Mishaps Happening (2004), The 5th Exotic (2001)
sexta-feira, 16 de março de 2012
De la musique - Nor Elle
Ando a ouvir isto nonstop. Hipnótico. Óptimo para relaxar no fim do fim-de-semana. Ou durante. Ou... enfim, quando quiserem.
Tema: Desert Storm
Intérprete: Nor Elle
Álbum: Slapstick (2001)
Tema: Desert Storm
Intérprete: Nor Elle
Álbum: Slapstick (2001)
segunda-feira, 12 de março de 2012
De la musique - 40 Winks
Andava eu para aqui a meditar sobre as diferentes perspectivas que é possível ter sobre o preço da meia torrada, quando encontrei este vídeo. A mim abriu-me o apetite. E não pago.
Tema: Outside The Box
Intérprete: 40 Winks
Álbum: It's The Trip (2011)
Tema: Outside The Box
Intérprete: 40 Winks
Álbum: It's The Trip (2011)
sexta-feira, 9 de março de 2012
De la musique - The American Analog Set
Tema: Don't Wake Me
Intérprete: The American Analog Set
Álbum: From Our Living Room to Yours (1997)
Não haverá por aí um comprimido verde?
«Muita gente prefere dormir em vez de viver, mesmo sabendo que a realidade de que está a desfrutar é falsa.»
Li isto no blogue ali ao lado e lembrei-me do Matrix. O que é a realidade? Do ponto de vista de quem está na incubadora a servir de alimento às máquinas, sem ter conhecimento disso, a realidade é uma. Para quem está fora, é outra completamente diferente. Mas quem está dentro (da incubadora) não conhece a realidade de quem está fora. Pura e simplesmente ela não existe. Como é que uma coisa que não existe pode ser verdadeira? Ou, se preferirem, como é que a única realidade que conhecemos pode ser falsa?
A realidade é subjectiva. Claro que existem referências, pontos comuns, uma plataforma de entendimento a que chamamos realidade objectiva. Precisamos disso para nos orientarmos, para nos entendermos, para darmos sentido às coisas. Mas ninguém consegue garantir-nos que essa realidade corresponde à verdade, que não existe algures outra realidade que desconhecemos, com outras referências, outros pontos comuns, e capaz de transformar tudo aquilo que conhecemos numa mera ilusão. E não é preciso implantarem-nos nada no cérebro. Infelizmente. (E aproveito para sugerir outro excelente filme: Memento).
A realidade é percepção. É por isso que sempre que alguém me diz «estás a enganar-te» eu desconfio. Porque já experimentei o comprimido azul e o vermelho. Porque não há um único dia em que eu não me pergunte qual é a verdadeira ilusão: se aquela que nós escolhemos sabendo o que ela é (uma ilusão), ou se a outra, supostamente verdadeira, mas que mais não faz do que conduzir-nos, em círculos, na procura incessante de algo que só será alcançável no dia em que baixarmos as nossas expectativas, de forma a que a tão prometida felicidade suba até à nossa triste realidade.
Não, não quero de volta o comprimido azul. O que eu queria era um comprimido verde. Seja lá o que isso for.
Li isto no blogue ali ao lado e lembrei-me do Matrix. O que é a realidade? Do ponto de vista de quem está na incubadora a servir de alimento às máquinas, sem ter conhecimento disso, a realidade é uma. Para quem está fora, é outra completamente diferente. Mas quem está dentro (da incubadora) não conhece a realidade de quem está fora. Pura e simplesmente ela não existe. Como é que uma coisa que não existe pode ser verdadeira? Ou, se preferirem, como é que a única realidade que conhecemos pode ser falsa?
A realidade é subjectiva. Claro que existem referências, pontos comuns, uma plataforma de entendimento a que chamamos realidade objectiva. Precisamos disso para nos orientarmos, para nos entendermos, para darmos sentido às coisas. Mas ninguém consegue garantir-nos que essa realidade corresponde à verdade, que não existe algures outra realidade que desconhecemos, com outras referências, outros pontos comuns, e capaz de transformar tudo aquilo que conhecemos numa mera ilusão. E não é preciso implantarem-nos nada no cérebro. Infelizmente. (E aproveito para sugerir outro excelente filme: Memento).
A realidade é percepção. É por isso que sempre que alguém me diz «estás a enganar-te» eu desconfio. Porque já experimentei o comprimido azul e o vermelho. Porque não há um único dia em que eu não me pergunte qual é a verdadeira ilusão: se aquela que nós escolhemos sabendo o que ela é (uma ilusão), ou se a outra, supostamente verdadeira, mas que mais não faz do que conduzir-nos, em círculos, na procura incessante de algo que só será alcançável no dia em que baixarmos as nossas expectativas, de forma a que a tão prometida felicidade suba até à nossa triste realidade.
Não, não quero de volta o comprimido azul. O que eu queria era um comprimido verde. Seja lá o que isso for.
domingo, 4 de março de 2012
quinta-feira, 1 de março de 2012
De la musique - Pat Metheny
Tema: Are You Going with Me?
Intérprete: Pat Metheny Group
Álbum: Offramp (1981)
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
A traição não tem dono
Era noite escura. Passo curto, pesado, Miguel deambulava pelo negrume da estrada com o remorso estampado no rosto. Apenas o quebranto das ondas e a maresia o orientavam, lembrando-lhe, a espaços, que a praia estaria por perto. E lá continuava. O vento fustigava-o como o silvo de um chicote. Os olhos escorriam-lhe corpo abaixo, procurando em cada passo a razão da sua vinda. Perseguiam-no vozes de origem incerta. Só o tom era o mesmo, sempre o mesmo, meigo e tormentoso, proibido, irresistível. «Porque me cantas assim?» - interrogava-se. Mas, logo, o vento, sem tempo para lamentos, arrastando-o, empurrando-o para um destino que, mais cedo ou mais tarde, iria ter de enfrentar.
Quando, finalmente, chegou à praia, sentiu os sapatos a escaparem-se-lhe dos pés para o areal húmido e frio, e, instintivamente, aproximou-se da água. Debruçou-se sobre o enredo que esperava ansiosamente decifrar e viu-os: duas silhuetas enroladas na luxúria que a maré trazia de volta. Abraçava o ar como que recuperando o fulgor daquela noite: «para sempre o meu corpo no teu» - promessas, doces promessas. Mas, sempre, o açoite do vento, autoritário. «O que fazer?» - a derradeira, circular questão.
Quando, finalmente, chegou à praia, sentiu os sapatos a escaparem-se-lhe dos pés para o areal húmido e frio, e, instintivamente, aproximou-se da água. Debruçou-se sobre o enredo que esperava ansiosamente decifrar e viu-os: duas silhuetas enroladas na luxúria que a maré trazia de volta. Abraçava o ar como que recuperando o fulgor daquela noite: «para sempre o meu corpo no teu» - promessas, doces promessas. Mas, sempre, o açoite do vento, autoritário. «O que fazer?» - a derradeira, circular questão.
A bruma caíra sobre o corpo desfalecido. Miguel despertou abruptamente do que por segundos (que tentou prolongar em vão) lhe pareceu ter sido um pesadelo. Sentia o tempo a escoar-se, a roubar-lhe a pouca lucidez que lhe sobrava. Num rasgo de coragem, levantou-se, decidido, e fez-se à estrada.
A viagem era longa. As imagens que desfilavam no vidro dianteiro do automóvel foram dando lugar a outras mais antigas: os tempos em que Miguel e João estudavam Direito em Coimbra, as noitadas de farra, os amigos... «Sim, os amigos, mas de que vale a amizade aos pés daquele corpo, daquele rosto, daquela voz?»
Recordou o dia em que Anabela apareceu nas suas vidas, entre dois copos e as gargalhadas da noite: aproximou-se, de sorriso aberto, pediu-lhe lume; João antecipou-se - os dados estavam lançados. Anabela era uma mulher extrovertida e ousada, mas trazia com ela uma docilidade desconcertante. Era insaciável, devorava toda a atenção que lhe era dada com a avidez de uma predadora. Depois, novamente o sorriso, inocente, provocador.
Recordou o dia em que Anabela apareceu nas suas vidas, entre dois copos e as gargalhadas da noite: aproximou-se, de sorriso aberto, pediu-lhe lume; João antecipou-se - os dados estavam lançados. Anabela era uma mulher extrovertida e ousada, mas trazia com ela uma docilidade desconcertante. Era insaciável, devorava toda a atenção que lhe era dada com a avidez de uma predadora. Depois, novamente o sorriso, inocente, provocador.
João apaixonou-se imediatamente e, três meses depois, casaram-se. Desde esse dia que Miguel carregava com ele um estranho sentimento de perda.
Mas o casamento já vivera melhores dias e, lentamente, Anabela foi-se aproximando de Miguel, desabafando as mágoas, semeando o pecado - que há muito brotara na mente dele - até que tudo se precipitou: a praia acolheu-os, a noite ofereceu-lhes a maçã da serpente... «e o veneno corrói-me as entranhas» - pensou, ao avistar a casa de João.
Ao aproximar-se da porta, sentiu as pernas a fraquejarem-lhe. «Que lhe vou dizer? Como o vou poder encarar depois?» - repetia-se. O medo apoderou-se dele e pensou em ir-se embora, mas não havia como escapar da sua culpa. Tocou à porta.
- Ainda bem que vieste! Entra! - João afastou-se como viera: com a pressa e o olhar de um tresloucado. Miguel estremeceu. «É agora... já sabe, por certo... mas... como?» Sentiu um nó na garganta, mas lá cambaleou porta adentro.
- Como foste capaz, diz-me?! - parecia certo o fim da mascarada.
- João, eu...
- E logo com o meu melhor amigo! Se apanho aqueles dois, nem sei o que lhes faço!
Foi como uma pedra num imenso charco. As dúvidas alastraram-se de tal forma que, por instantes, pensou que fosse alguma brincadeira de mau gosto. Ainda hesitou, mas lá balbuciou:
- Aqueles... dois?!
João nem o ouvia, esgravatava o ar de alto a baixo e lá se entretinha a blasfemar.
- Ah, mas isto não fica assim! Eu vou descobrir para onde foste!
«Mas... será possível?!» - fez-se luz, de repente.
- Mas do que falas, afinal?! - quis confirmar.
João fitou-o com a surpresa de quem ainda não o tinha visto e retomou o discurso:
- Do que falo?! Eu digo-te do que falo! Aquela ingrata! Depois de tudo o que fiz por ela! Quem me manda a mim confiar em advogados?! São todos da mesma laia!
Palavras de um advogado - caiu no ridículo.
- Acalma-te. Conta-me tudo.
Sentaram-se. João procurou o copo pousado sobre a mesa, encheu-o de whisky e bebeu-o de um só trago - apenas o álcool parecia atenuar a sua ira.
- O Zé... tu sabes... que estudou connosco em Coimbra... e a Anabela... - fugiam-lhe as palavras para um sítio que há muito se adivinhava - a culpa é minha! - descaiu-se - a semana passada cheguei a casa e... - encheu de novo o copo, para o esvaziar de seguida - enfim, sentiu o cheiro de mulher... desconfiou... e eu, esta grande besta, contei-lhe! - novamente a dança do copo e do whisky.
- E contaste-lhe o quê? Não bebas mais, que já nem sabes o que dizes...
- Pois não sei o que digo! E a prova é que lhe disse!
Bebia e bebia... e, a cada sorvo, Miguel parecia sentir-lhe o travo. Uma estranha repulsa dominava-o, agora. Onde estava o tormento do remorso? Perdera-se, por certo, no meio de toda aquela trama.
- Ela não era nada para mim. Eu expliquei-lhe. Uma descaidela, nada mais. Que diabo, somos homens!
«Sim, somos homens... e temos o que merecemos.» Ecoavam-lhe nos ouvidos as palavras do outro: «como foste capaz?» Esquecido estava o motivo que o arrastara até ali.
Miguel regressou à praia. Sentado na areia, procurou, em vão, as imagens... o cheiro... a voz... - nada. Apenas e só o vazio, preenchido, aqui e ali, com as palavras do outro: «como foste capaz?» Escutava-as como se fossem suas. Fora-se com Anabela o que restava da honra, da lealdade ao amigo de longa data. Eram agora palavras ocas, sem essência, sem sentido. Ficara somente uma estranha indiferença, quebrada, momentaneamente, por um pensamento absurdo: «talvez ainda voltes.» «Não! Não pode ser!» - sacudiu a ideia, limpou os olhos. Uma lágrima caiu desamparada sobre a areia e, escorrendo como se tivesse dor própria, escreveu: «a traição não tem dono». Miguel sorveu demoradamente a frase, procurando nela algum tipo de conforto, mas a revolta arrancou-o do chão e pateou furiosamente o baixo-relevo das letras.
«Porquê?» - interrogou-se ao desaparecer na escuridão.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Quero-te assim, de perfil,
olhos distantes, despidos,
as mãos ligeiras, o toque
da brisa ténue que ondeia.
Quero-te assim, afagosa,
lábios serenos, marejam,
cabelos lentos, vagueiam
onde os sentidos convergem.
Quero-te assim, quase utópica,
retrato virgem, (in)tacto,
intemporal, quase página
onde as palavras repousam.
sábado, 28 de janeiro de 2012
Dois olhares que se tocam,
algures, no espaço preenchido
pela respiração descontínua.
Lia-se, com a nitidez dos sentidos,
a transparência dos gestos.
Pareceu-lhe ter, deambulando pelo peito,
ou entre as mãos que esmagam o tempo
(e era tempo de infinito)
a palavra amor.
Mas de onde alcança a vista tal sorte?
Que Deus ou Homem os condenou à morte?
Pois se era tempo de infinito...
E eram eles, ou nós, ou eu...
E era tudo, e será sempre tudo,
mesmo que em memória, palavras,
ou em imagens que ninguém quis.
E num qualquer banco de pedra
fustigado pelo mar,
vou aperfeiçoando a focagem
e balbuciando o verbo amar.
De la musique - Boards of Canada
Tema: Over the Horizon Radar
Intérprete: Boards of Canada
Álbum: Geogaddi (2003)
Mostra-me esse teu olhar atado ao horizonte.
Diz-me com essa tua voz de vento
como fala o vento, quando traz a tua
voz de vento. Sei que, para lá dos montes,
onde o horizonte guarda o teu olhar atado
a tudo, existe tudo. Não tenho ciência para
quebrar versos. Não tenho sonhos de cetim para
colocar nos versos. Faço uma pausa para dizer isto
porque prefiro versos bem quebrados a corações
destroçados por versos de cetim. Nem que
para isso tenha de forçar a rima. Quantos versos
passaram desde que vi o teu olhar atado ao horizonte?
Quantos sonhos ficaram por te querer ver para lá de tudo,
onde existe tudo? Há quem diga que jogo com as palavras.
Mas muitas vezes são as palavras a jogar comigo.
Não faço questão de que entendam esse jogo,
disputado entre mim e as palavras. Simplesmente,
não posso recusar o vento, quando o vento escreve
a tua voz de vento. Nem deixar de procurar
o teu olhar atado ao horizonte.
Diz-me com essa tua voz de vento
como fala o vento, quando traz a tua
voz de vento. Sei que, para lá dos montes,
onde o horizonte guarda o teu olhar atado
a tudo, existe tudo. Não tenho ciência para
quebrar versos. Não tenho sonhos de cetim para
colocar nos versos. Faço uma pausa para dizer isto
porque prefiro versos bem quebrados a corações
destroçados por versos de cetim. Nem que
para isso tenha de forçar a rima. Quantos versos
passaram desde que vi o teu olhar atado ao horizonte?
Quantos sonhos ficaram por te querer ver para lá de tudo,
onde existe tudo? Há quem diga que jogo com as palavras.
Mas muitas vezes são as palavras a jogar comigo.
Não faço questão de que entendam esse jogo,
disputado entre mim e as palavras. Simplesmente,
não posso recusar o vento, quando o vento escreve
a tua voz de vento. Nem deixar de procurar
o teu olhar atado ao horizonte.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
De la musique - Aarktica
Tema: Out to Sea
Intérprete: Aarktica
Álbum: Pure Tone Audiometry (2003)
Tão perto, o mar...
E é tão ténue a fronteira,
que nem sei se chego ou se passei.
O ritmo é incerto, a dança, matreira:
um passo à frente, dois atrás,
como quem toma, como quem traz...
Traz o quê?
Sonhos de vento, histórias fugazes
e este olhar em espiral?
Enfim, adiante.
E está tão perto o mar distante...
E é tão ténue a fronteira,
que nem sei se chego ou se passei.
O ritmo é incerto, a dança, matreira:
um passo à frente, dois atrás,
como quem toma, como quem traz...
Traz o quê?
Sonhos de vento, histórias fugazes
e este olhar em espiral?
Enfim, adiante.
E está tão perto o mar distante...
sábado, 14 de janeiro de 2012
De la musique - Daft Punk
Tema: Nocturne, Solar Sailer
Intérprete: Daft Punk
Álbum: Tron: Legacy (2010)
Indecisão nocturna
Uma orla vadia
demarca um mar envolto em calmaria.
Uma gaivota desce sobre o verso
e uma brisa expõe o meu reverso
- um outro »eu« que me acena ao largo,
ou um pedaço de papel em tom menos amargo?
Sigo a caneta rumo ao lusco-fusco:
os olhos vagos, a infindável rota,
numa vertigem que me seca a boca.
Será indizível aquilo que busco?
Este silêncio-sede cravado na voz,
a noite imensa chamando por nós,
diz-me que sim, diz-me que não,
termina o texto em plena indecisão.
demarca um mar envolto em calmaria.
Uma gaivota desce sobre o verso
e uma brisa expõe o meu reverso
- um outro »eu« que me acena ao largo,
ou um pedaço de papel em tom menos amargo?
Sigo a caneta rumo ao lusco-fusco:
os olhos vagos, a infindável rota,
numa vertigem que me seca a boca.
Será indizível aquilo que busco?
Este silêncio-sede cravado na voz,
a noite imensa chamando por nós,
diz-me que sim, diz-me que não,
termina o texto em plena indecisão.
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