Estive a rever o Blade Runner. Há uma parte do filme, em que Roy (Rutger Hauer), um dos replicantes a ser abatido, abdica da sua vingança para que Rick (Harrison Ford), blade runner encarregado de o «afastar», perceba o significado de medo, o medo de quem julga que vai morrer a seguir. Rick foi salvo, in extremis, por Roy. A Roy já nada nem ninguém podia valer, o seu prazo de validade havia chegado ao fim. Estas foram as suas últimas palavras:
«I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I've watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser Gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die.»
A memória é uma via indispensável para nossa identidade. Sem memória, a nossa existência, pura e simplesmente, apagar-se-ia. Regra geral, isso acontece aquando da nossa morte. Às vezes, acontece antes.
Quando recordamos um determinado momento, estamos, de certa forma, a revivê-lo. Mas, a partir de uma certa altura da vida, recordar é também perceber que estamos mais velhos (logo, mais perto do fim) e que aquele momento que acabámos de recordar é irrepetível, não pela sua singularidade, mas porque nos faltam capacidades físicas e/ou psicológicas para o conseguir repetir. Queríamos mais. Mais vida, como pediu Roy ao seu construtor. Mas não é possível. E isto faz-nos morrer um pouco.
Para quem esteja num processo de perda de memória, esta parte inconveniente, omitida na frase «recordar é viver», torna-se irrelevante, perante a perda progressiva de identidade. Imagino o que uma pessoa nestas circunstâncias, e que tenha consciência do que está a acontecer, não daria por mais tempo de memória, nem que fosse para morrer um pouco ao recordar a seguir. É mesmo assim: queremos o que não temos e, por vezes, só damos valor ao que temos quando estamos prestes a perdê-lo (ou já o perdemos).
Quem, por outro lado, tem ainda o privilégio de se lembrar (e a expectativa de continuar a lembrar-se) das coisas, está pouco preocupado com o tempo das recordações. Escreve e reescreve a sua vida, pois tem todo o tempo do mundo para o fazer. Ou, pelo menos, assim parece.
Mas não é. E mais cedo do que tarde acabamos a procurar compensar, recorrendo a eufemismos e meias-verdades, a dura realidade de estarmos mais velhos. Eu disse velhos? - Velhos são os trapos! - Queria dizer maduros, experientes e sábios...
Ficam algumas imagens que vale a pena recordar, ao som da excelente banda sonora do filme.
«I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I've watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser Gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die.»
A memória é uma via indispensável para nossa identidade. Sem memória, a nossa existência, pura e simplesmente, apagar-se-ia. Regra geral, isso acontece aquando da nossa morte. Às vezes, acontece antes.
Quando recordamos um determinado momento, estamos, de certa forma, a revivê-lo. Mas, a partir de uma certa altura da vida, recordar é também perceber que estamos mais velhos (logo, mais perto do fim) e que aquele momento que acabámos de recordar é irrepetível, não pela sua singularidade, mas porque nos faltam capacidades físicas e/ou psicológicas para o conseguir repetir. Queríamos mais. Mais vida, como pediu Roy ao seu construtor. Mas não é possível. E isto faz-nos morrer um pouco.
Para quem esteja num processo de perda de memória, esta parte inconveniente, omitida na frase «recordar é viver», torna-se irrelevante, perante a perda progressiva de identidade. Imagino o que uma pessoa nestas circunstâncias, e que tenha consciência do que está a acontecer, não daria por mais tempo de memória, nem que fosse para morrer um pouco ao recordar a seguir. É mesmo assim: queremos o que não temos e, por vezes, só damos valor ao que temos quando estamos prestes a perdê-lo (ou já o perdemos).
Quem, por outro lado, tem ainda o privilégio de se lembrar (e a expectativa de continuar a lembrar-se) das coisas, está pouco preocupado com o tempo das recordações. Escreve e reescreve a sua vida, pois tem todo o tempo do mundo para o fazer. Ou, pelo menos, assim parece.
Mas não é. E mais cedo do que tarde acabamos a procurar compensar, recorrendo a eufemismos e meias-verdades, a dura realidade de estarmos mais velhos. Eu disse velhos? - Velhos são os trapos! - Queria dizer maduros, experientes e sábios...
Ficam algumas imagens que vale a pena recordar, ao som da excelente banda sonora do filme.
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