quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O bestial, a besta e a poesia

Subiu num balão cor-de-rosa,
o bestial.
Encheu-o de sonhos alheios
e ergueu-os no céu
como se fossem seus.

Lá em cima,
dominava-o
com habilidosos malabarismos.
Cá em baixo, era o êxtase;
todos contemplavam o balão,
cheio de cor
- cheio de ilusões perdidas.

Mas o bestial,
de tanto exibir sonhos que não eram seus,
adormeceu
com o encanto de os sonhar ter.

E o balão, à deriva,
chocou
com o pico da realidade.

- Rebentou o balão, caiu a besta
no chão desértico. -

Meio atordoada,
a besta
tentou salvar o bestial;
reuniu o que restava do balão,
dos sonhos despedaçados,
tentou enchê-los, em vão.

- A besta
não sabia sonhar,
a sua arte era trabalhar
sobre o chão que pisava;
o seu balão era uma pedra,
bruta, feia,
enraizada na terra. -

«Pobre bestial»
- pensou a besta,
enquanto esculpia o chão.
«Pobre besta»
- pensou o bestial,
saudoso do balão.

1 comentário:

M. disse...

Fiquei besta:) Mais...