sábado, 22 de setembro de 2012

Lição de geografia

Um turista invade os dez minutos místicos que todas as manhãs eu partilho religiosamente com um café e um cigarro. Reclama um aeroqualquercoisa que eu não consigo decifrar. Aeroporto? - questiono. Aerolines! Espanha! Espanha! - gesticula, de olhos esbugalhados. Pronto, não me batas, não faço ideia de onde isso fica, mas, olha, vai em frente, coragem! E bebe menos café, que isso faz-te mal. E o homem lá vai a chamar pela pátria, apontando para uma Espanha que ansiosamente o espera, entre a Casa da Música e a tasca do Reis. É bom ter alguém ou alguma coisa que nos espere tão ardentemente (e o lugar indicado até tem o seu encanto). A mim espera-me a tarefa nada mística no fim dos meus dez minutos místicos, que já não são dez, são dois, por culpa de alguém que achou que o caminho para casa passava por aqui. O infeliz continua a esbracejar como se não houvesse amanhã. Um minuto, diz o transeunte ocupado. Tem razão, já nem um cigarro podemos fumar descansados neste minuto apressado que é a vida. O tempo voa, o espanhol não: caminha pela incerteza da estrada, rumo a uma Espanha idealizada, ali para os lados da Foz. Foi-se o tempo e a mística, fica a fotografia intemporal - conseguem imaginar um final mais feliz? - e a lição de geografia.

Sem comentários: