sexta-feira, 9 de março de 2012

Não haverá por aí um comprimido verde?

«Muita gente prefere dormir em vez de viver, mesmo sabendo que a realidade de que está a desfrutar é falsa.»

Li isto no blogue ali ao lado e lembrei-me do Matrix. O que é a realidade? Do ponto de vista de quem está na incubadora a servir de alimento às máquinas, sem ter conhecimento disso, a realidade é uma. Para quem está fora, é outra completamente diferente. Mas quem está dentro (da incubadora) não conhece a realidade de quem está fora. Pura e simplesmente ela não existe. Como é que uma coisa que não existe pode ser verdadeira? Ou, se preferirem, como é que a única realidade que conhecemos pode ser falsa?

A realidade é subjectiva. Claro que existem referências, pontos comuns, uma plataforma de entendimento a que chamamos realidade objectiva. Precisamos disso para nos orientarmos, para nos entendermos, para darmos sentido às coisas. Mas ninguém consegue garantir-nos que essa realidade corresponde à verdade, que não existe algures outra realidade que desconhecemos, com outras referências, outros pontos comuns, e capaz de transformar tudo aquilo que conhecemos numa mera ilusão. E não é preciso implantarem-nos nada no cérebro. Infelizmente. (E aproveito para sugerir outro excelente filme: Memento).

A realidade é percepção. É por isso que sempre que alguém me diz «estás a enganar-te» eu desconfio. Porque já experimentei o comprimido azul e o vermelho. Porque não há um único dia em que eu não me pergunte qual é a verdadeira ilusão: se aquela que nós escolhemos sabendo o que ela é (uma ilusão), ou se a outra, supostamente verdadeira, mas que mais não faz do que conduzir-nos, em círculos, na procura incessante de algo que só será alcançável no dia em que baixarmos as nossas expectativas, de forma a que a tão prometida felicidade suba até à nossa triste realidade.

Não, não quero de volta o comprimido azul. O que eu queria era um comprimido verde. Seja lá o que isso for.

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