sábado, 26 de fevereiro de 2011

Reencontro

É noite. As luzes dos automóveis estendem-se
rua acima, rua abaixo. Viajo com elas, imóvel,
e, novamente, me assalta esta hesitação: ir ou ficar?
O suspense das horas espalha-se pelas esquinas,
contaminando quem passa... e até quem não passa
e talvez devesse ter passado, não sei...
A lua, semi-esplendorosa, demarca silhuetas de instantes anteriores;
encontro-as com a mesma facilidade com que agora me perco.
"Ir ou ficar?..." - algures, uma voz balbucia circunstâncias...
"Não decidir, não decidir." - Consigo ouvir, ainda,
em jeito de profecia, de uma outra voz, que não a minha.
Não falei, e mais não quis saber, que não lhe tivesse dito já.
Sobre a estrada, corre o rumo certo do regresso a casa.
Lá, sim, aqui, onde todos os sonhos se apagam, e nenhuma voz cintila,
me reconheço, lúcida e assustadoramente, reflexo do que não fui.
Fecho a porta, e cai-me nos braços, saudoso, o que ficou.

De la musique - Pink Floyd




Tema: Is There Anybody Out There?
Intérprete: Pink Floyd
Álbum: The Wall (1978)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Musa

Tu que adivinhas o verde canto dos pássaros na lápide,
o assobio de criança encerrado nas masmorras do tempo.
Tu das mãos sinistras que brotam de onde menos se espera,
que invades clausuras e expões corações de pedra,
e crês que o que jaz sem palavras do silêncio renascerá.
Tu do dom da cura no tormento desta sede - desatino -,
mostra-te como te escrevo, ou de outra forma qualquer.
Ou esvai-te de uma vez no absurdo do que lês.

De la musique - Matisyahu

The coolest Jew since Jesus (segundo dizem na caixa de comentários do YouTube).


Tema: King Without a Crown
Intérprete: Matisyahu
Álbum: Live at Stubb's (2005)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

De la musique - Bone Thugs-N-Harmony

Yo! Andei a limpar o pó a uns CD que para aqui tenho e encontrei isto.


Tema: Moe Cheese
Intérprete: Bone Thugs-N-Harmony
Álbum: Creepin on ah Come Up (1994)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Trailer - Before Sunrise

Conhecem-se no comboio. Ela, Celine (Julie Delpy), uma francesa de regresso às aulas em Paris, após uma visita à avó, em Budapeste. Ele, Jesse (Ethan Hawke), um americano vagueando pela Europa, depois de uma recente relação falhada, em Madrid. Estudam-se, trocam ideias, ele faz a proposta:
- Sais do comboio comigo em Viena e damos a volta pela cidade.
Celine hesita:
- Vamos fazer o quê?
- Não sei. Só sei que tenho de apanhar um voo da Austrian Airlines amanhã de manhã às 9h30. Não tenho dinheiro para um hotel, por isso, vou andar às voltas. Era mais divertido se viesses comigo. Se eu for um tarado qualquer, tu apanhas o comboio seguinte.
Não chega para convencê-la. Jesse insiste.
- Avança dez ou vinte anos. Estás casada, mas o teu casamento já não tem a energia que tinha, começas a culpar o teu marido, começas a pensar em todos os tipos que conheceste e no que teria acontecido se tivesses ficado com um deles. Pronto, eu sou sou um deles. Pensa que isto é uma viagem no tempo de lá até aqui, para avaliar o que perdeste. Vê isto como um enorme favor que prestas a ti e ao teu futuro marido, para descobrires que não perdeste nada. Eu sou tão inútil quanto ele. Totalmente desmotivado, muito maçador. Afinal, fizeste a escolha certa e és muito feliz.

Um dia em Viena, onde as questões de uma vida inteira são antecipadas e onde uma vaca fuma com os cascos e se comporta como um cão, numa peça de teatro que Celine e Jesse não chegarão a ver. Os diálogos são absurdos, cómicos, intensos, realistas. Ele e ela vão-se aproximando desse lugar que, segundo Jesse, é uma fuga para duas pessoas que não sabem estar sós. Decidem que não deve haver amanhã. Tudo deve ser resumido a uma noite perfeita. Dizem adeus, antes, porque depois, no momento da despedida, magoaria mais. Aproveitam o momento, sem planos, sem preocupações. Antes do amanhecer. Um amanhecer rápido, melancólico, com sabor adiantado a saudade, a separação inevitável. A ideia do adeus torna-se insustentável. Talvez pudessem encontrar-se cinco anos depois. É muito tempo. Talvez um ano. Não, seis meses. Cais 9, 16 de Dezembro, às seis da tarde. Estará um frio de morrer. Mas levam com eles algo capaz de sobreviver ao mais duro Inverno. Até breve. E mais não disseram. E mais não digo.

Let's look at the trailer.


Afinal, digo. Não foram seis meses, foram nove anos. Mas deixemos isto para outra altura. Até porque ainda não vi o filme. Ou será que vi?

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Lua

Que segredos guardas tu, ó Lua,
quando, névoa, rebordo incons-
tante de formas, húmidos reflexos,
ténues vibrações, me transcendes?
A que lugar, a que tempo pertences?
Em que olhar, em que mãos te deterás?

Ó luz efémera e seminua, Deusa, antes do medo,
porque te perco, porque te persigo?

Bom dia

De vez em quando, ponho-me a ver quem cá vêm a este desamparo e descubro algumas coisas interessantes. As que mais me divertem são as dos enganados do google. Por exemplo, este queria um poema que lhe dissesse tudo (era bom, não era?). Teve azar, foi o tediokiller a dizer-lhe. Imagino a desilusão do pobre leitor...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

De la musique - Pedro Abrunhosa

Quer-se dizer, um gajo vem aqui, cheio de boas intenções, pôr uma musiquinha portuguesa, procura no Dailymotion e é só cortes. Calma, diz o Abrunhosa, com aquela vozinha sedutora de fazer inveja ao Zé Cabra. Está bem, mas o que eu queria mesmo era a Lua, que o dowhile esqueceu-se de pagar a luz e não se vê nada aqui no blogue. Fui ao YouTube. Atiraram-me com isto (sem comentários)... Nova tentativa. Era uma Lua redondinha e cheia, faxavor. Trouxeram-me um filme do Bruce Lee dobrado em português... Já estou com tu, Abrunhosa, é preciso uma paciência do caralho (caralho, não, caralho)! Não admira que não consigas dormir. Adiante. Vamos lá ver as gatas do Pedro, pode ser que isto anime. Já sei do que me lembrar, quando a Maria me pedir para esperar um bocadinho... Depois, dizem que não valorizamos o produto nacional! Enfim, o que é que gente há-de fazer?




Tema: Talvez Foder
Intérprete: Pedro Abrunhosa
Álbum: Palco (2003)