terça-feira, 23 de agosto de 2011

Monólogo para exposição

Aqui estou, singelo e modesto,
escrevendo, por acaso, coisas que ninguém percebe.
Esta é uma grande vantagem para quem quiser passar por génio,
apregoá-lo à boca cheia, ainda que ninguém ouça.
Se não faço uso dela, é só porque sou modesto!
E é neste odor de santidade, inacessível aos olhos da vaidade,
que me divirto a não interpretar aquilo que escrevo.
Assim, os outros não perderão coisa nenhuma,
pois que, na minha singela generosidade,
para mim guardo o que lhes mostro.
Está bem, não mais verei o mundo a preto e branco.
Calarei as horas cinzentas e os versos sonolentos,
as analepses em espiral e as antevisões fatalistas.
Direi, e direi em voz alta para que todos ouçam:
a vida é um tapete verde onde todos se conjugam.
Que seja mentira. Não se ralem, que eu tampouco.
Que me cegue a luz do dia, se para olhar tiver de ver.

Está bem, fincarei os pés na terra e sorrirei concordâncias;
tronco panorâmico que observa com mudez a floresta morta,
máscara indolente e indolor que nos vossos olhos se reflecte.
Eles querem sol, eles querem céu,
eles querem sede, eles querem água,
eles querem sonhos, mitos, esperança,
eles querem ira, eles querem sangue,
eles querem guerra, eles querem paz,
eles querem tudo, eles querem tudo...

Mas onde estou não há sol,
nem céu azul ou cintilante,
não há ira, não há sangue,
nem luta, nem tréguas.
Onde estou, há só gestos
teatrais, meias verdades,
palavras sombrias, inconclusas,
e dedos que partem e regressam
...ininterruptamente...
Onde estou... onde estou?
Num inútil livro de poemas.
Não, eu não escrevi depois;
escrevo-o agora, aqui como outrora,
enquanto as palavras fervilham de sintaxe.
Porque as palavras estão onde sempre estiveram.
Por vezes, parece que partem ou que regressam,
que habitam em parte incerta, filhas de pai incógnito,
quando os olhos viajam ou o pensamento labora.
Mas não, são as mesmas mãos e é a mesma tinta,
sobre o mesmo chão e a mesma sorte.
E, agora como outrora, as palavras arrefecem
e tombam, inúteis, na incontornável imobilidade da vida.
Talentosas mãos que o papel atrai,
não me traem, que a traição não se lhes despega.
Ludibrioso pensamento de que são servis,
tão-só irresoluto; e, sinuosas, traçam-no
com a perfeição de tortas conclusões.

Talentosas mãos que de luz se vestem,
quando negrume transpiram; não enganam, que
no branco incólume tudo é cristalino
- como eu, ao olhá-las, incrédulo,
ainda que, valorosas, me convençam.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

De la musique - Tori Amos

Conheci recentemente o Welcome to Sunny Florida e achei-o extraordinário. Tori Amos, Matt Chamberlain e Jon Evans pertencem àquele grupo de músicos capazes de transportar os temas musicais para um patamar inacessível em estúdio. Para além de serem extremamente competentes naquilo que fazem, condição essencial para um bom desempenho ao vivo, há qualquer coisa que só se solta em tempo real, no meio dos adeptos. Temas medianos em estúdio, como Cornflake Girl ou Crucify, são transformados em verdadeiras delícias para os ouvidos. Pelos menos, para estes aqui. Ora ouçam lá.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

De la musique - Massive Attack



Tema: Sly
Intérprete: Massive Attack
Álbum: Protection (1994)
É raro o ar que respiro
que não seja espaço escasso.
Contraste desconcertante,
fartos pensamentos vagos
erguem-se como repuxos de luz.

Que bem que me faz
quando se fixam no céu como estrelas
as marcas de mais um dia
- poder olhá-las bem alto,
como se fossem sonhos
ou não fossem minhas...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

De la musique - Zero dB

Continuamos preguiçosos.


Tema: Sunshine Lazy
Intérprete: Zero dB
Álbum: Bongos, Bleeps & Basslines (2006)

Bom dia

«Ah, a frescura na face de não cumprir um dever!»

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

De la musique - Azure Ray



Tema: Favorite Cities
Intérprete: Azure Ray
Álbum: Burn and Shiver (2002)

Bom dia

Que maravilha de tempo. Devia ficar assim o resto do Verão.