quinta-feira, 31 de março de 2011

De la musique - Martina Topley-Bird


Tema: April Grove
Intérprete: Martina Topley-Bird
Álbum: The Blue God (2008)
Um brisa pousa sobre o beiral da janela.
Espreita,
escorrega pelo cortinado,
rebola pelo chão, plena de prazeres indizíveis.
Ergo os olhos rumo ao infinito: foi Primavera.
E jaz, agora, debaixo da sola do meu sapato.
Hoje veio a Primavera
e subitamente as palavras não cabem
porque as folhas que despontam
reclamam todo o espaço do

quarta-feira, 23 de março de 2011

O desporto mais sexy do planeta


Maisfutebol

A propósito...

http://www.we7.com/#/song/The-Solid-Doctor/Faustian-Bargain!m=0

Trailer - Heima

Heima (em casa) é uma viagem até ao coração da Islândia, onde os Sigur Rós deram uma série de concertos gratuitos, não anunciados, para a população local. A excelência da música (para os apreciadores da banda) dispensa comentários. As imagens mostram-nos um novo mundo antigo, longe das grandes cidades que nos fazem esquecer que existe vida para além delas. Que houve vida antes delas. O Homem despreza com uma ingratidão impressionante as suas origens. Chama-lhe progresso. Mas o progresso só faz sentido se contribuir para o bem-estar das pessoas. E qualquer coisa que destrua esta pausa essencial no rebuliço diário, este repouso ancestral, necessário para o equilíbrio das mentes, não é um progresso, mas sim um retrocesso.

Quando eu era mais novo, costumava passar férias numa aldeia nos arredores do Porto, onde nasceu a minha mãe e mora, ainda, parte da minha família. Junto de gente simples, cujo relógio batia bem mais lento (e saudável) do que o da gente da cidade. Gente impoluta, que mantinha princípios esquecidos, calcados em nome do avanço tecnológico. Os fins justificam os meios - dizem. Pois eu tenho saudade desse tempo em que tudo era mais simples. Não havia Internet, 100 canais na televisão. As ruas eram de terra (de lama, no Inverno), caminhava-se, em vez de se viajar de carro até ao café a 500 metros de casa. Ia-se pescar e almoçar em cima de uma pedra rodeada por árvores. Havia menos conforto, mas as pessoas eram mais felizes. Hoje, há menos caminhos de terra, os carros chegaram em força à aldeia, há televisão, Internet e acesso à informação global. As pessoas saem menos para pescar e mais para o centro comercial mais próximo. Há mais conhecimento, mais conforto. E menos gente a sorrir. Já não há tempo para sorrir, nesta aldeia global que supostamente deveria aproximar-nos uns dos outros e fazer-nos mais felizes, mas que resulta precisamente no oposto.

Não sei se o conhecimento é directamente proporcional à infelicidade. Não imagino a minha vida sem o conforto que tenho em casa, sem uma via que me ligue ao mundo, ao conhecimento que está ao alcance de todos, e não de apenas de uma elite. Não sou contra o progresso, ele é necessário e inevitável. Simplesmente, tenho saudade da minha aldeia. Daquela aldeia antiga que hoje já não existe.

Em casa, no conforto do meu sofá, assisto no computador à deslumbrante paisagem islandesa. Sem compreender por que motivo estas duas faces da mesma realidade não podem coexistir pacífica e progressivamente.



segunda-feira, 21 de março de 2011

Introdução

Desenvolvimento

in Conclusão

De la musique - DJ Shadow


Tema: Midnight in a Perfect World
Intérprete: DJ Shadow
Álbum: Endtroducing... (1996)

Vou escrever um poema lindo

Com muitos pássaros a chilrear uma eterna Primavera.
Com muitas árvores da cor da esperança,
onde os pássaros chilreiam um dia eterno de sol.
Com montes pintados de verde e um céu sempre azul,
onde os pássaros voam livres.
Com vales, planícies e rios e mares por poluir.
E pássaros, muitos pássaros a cantar.
Sem cidades, países, fronteiras.
Sem fome, nem guerra, nem ódio.
Em suma, um poema sem gente.
Lindo, lindo, lindo, lindo.
Como o chilrear dos pássaros
nas árvores
nos montes
num mundo verde e azul,
vazio e perfeito.
Depois vou dar-lhe um título diferente de utopia,
para não parecer utopia o que eu vou escrever.
E a seguir desapareço no que acabei de dizer.

terça-feira, 15 de março de 2011

Enchem-me o olhar de sede,
quando passam, com a fluidez de um rio.
Sigo-lhes o rasto, o riso giestoso;
bebo-lhes os sonhos, a volúpia,
a seiva dos gestos.
Os meus sentidos, submersos,
perdem-se no gotejar de palavras nuas.
Até que o silêncio as recolha,
este ser neles de onde brotam versos.

segunda-feira, 14 de março de 2011

De la musique - Funki Porcini


Tema: The 3rd Man
Intérprete: Funki Porcini
Álbum: On (2010)

Perspectivas

É, durante a maior parte do tempo, um peixe melancólico.
Só depois de saciada a dor, o outro aparece para matar o tédio.
O que uma mão escreve a outra apaga e vice-versa - impossível tocarem-se?
Nem por isso.
Abreviada a introdução, enfadado o leitor, a perspectiva muda,
e ponho-me agora na pele do segundo:
as entrelinhas são minhas! as entre-
linhas são minhas!
(Um pequeno erro de cálculo (era na pele ao lado).)
Agora, sim, o que observa prevalece.

Bom dia

Um dia perfeito para relaxar ao som do último álbum de Funki Porcini.

quinta-feira, 3 de março de 2011

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toonpool.com

Oásis

Assim descreveria este espaço, onde agora me reúno
com pensamentos cigarristas e ordeiros.
Ideado vértice de tudo, a paz de estar só - o sítio
perfeito para escapar ao rebuliço da cidade, eu diria.
No entanto, até aqui tudo gira em torno do mesmo:
tempo, sempre tempo; o mundo resumido a uma ampulheta,
escoando incessantemente gente de um lado
para o outro. Pergunto-me qual será o meu lugar na cadeia,
e pressiono os elos da corrente até que a voragem os quebre.
Só que, assim que as mãos se abrem, os fragmentos esgueiram-se,
e o que sobra nao é mais que um aglomerado de caretas inanimadas,
fitando-me como se as aguardassem ainda...
Mas quais respostas?! Uma garrafa de rum(o) vazia
- síntese de uma vida de embriaguez?
Bah! Não me chateiem... tenho mais que fazer.
Até porque se me esgotaram os cigarros, e sem cigarros
não há pensamentos semilúcidos - maravilha das conveniências.
Retorno, então, ao rebuliço reconfortante da cidade.
Para trás? Alguma miragem, por certo...