segunda-feira, 30 de maio de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
Um nome
Chegas com esse teu ar ausente.
Na mesa espera-te já o café da manhã
e um horizonte de caminhos percorridos.
Os enigmas, as visões súbitas e fugazes
em que aparentemente tanto nos perdemos.
Persigo-te. Rompo o cenário e
encontro-te, insondável, bem no centro
da encruzilhada. Nada mudou. Fatalmente, nada mudou.
Cobriste a face, largaste o cigarro
e discretamente foste. E nem tu nem eu, presumo,
daríamos pela nossa ausência. Mas, indelével,
pairando sobre a mesa ou cravado na memória,
fumo de sonhos, cinzas de amor
e um nome igual a tantos outros,
sempre pronto para ser esquecido.
Na mesa espera-te já o café da manhã
e um horizonte de caminhos percorridos.
Os enigmas, as visões súbitas e fugazes
em que aparentemente tanto nos perdemos.
Persigo-te. Rompo o cenário e
encontro-te, insondável, bem no centro
da encruzilhada. Nada mudou. Fatalmente, nada mudou.
Cobriste a face, largaste o cigarro
e discretamente foste. E nem tu nem eu, presumo,
daríamos pela nossa ausência. Mas, indelével,
pairando sobre a mesa ou cravado na memória,
fumo de sonhos, cinzas de amor
e um nome igual a tantos outros,
sempre pronto para ser esquecido.
De la musique - Jimi Hendrix
Tema: The Wind Cries Mary
Intérprete: Jimi Hendrix
Álbum: Are You Experienced (1967)
sábado, 21 de maio de 2011
20 cm de vida
- 20 cm, soutora, não será muito?
- Há que começar devagar. Uma etapa de cada vez.
- E qual é a dieta, soutora?
- Ervilha e meia por dia e 1/3 de iogurte magro por semana.
- Não sei se consigo comer isso tudo.
- Tem de tentar. Não podemos exagerar. Alguma coisa terá de comer.
- Mas sinto-me tão gorda, soutora. Olhe, aqui, quando eu era mais nova, tão elegante que era.
- Onde?
- Aqui, atrás desta corda. Está a ver esta orelha? É minha.
- Muito elegante, sim, senhora. E fazia o pino de forma tão graciosa!
- O pino e outros malabarismos, verdade seja dita. Mas não é o caso. Os brincos é que eram demasiado pesados. De vez em quando tinha de pousar as orelhas para descansar.
- Raio dos brincos. Já tive o mesmo problema com um fio de prata.
- E o dinheiro que se poupava em roupa, soutora? Nem imagina. Olhe, de uma manga de camisa fazia dois vestidos. Bons tempos.
- Pronto, lá chegaremos. Tudo se há-de compor.
- Ai nem me diga, soutora. Mal posso esperar.
E saiu leve, profusa, irradiando esperança, sua graça difusa. Infelizmente, estava vento. Os brincos ficaram em casa - oh tragédia!
A doutora perdeu a doente, a mercearia abriu falência e nunca mais houve beleza no mundo.
- Há que começar devagar. Uma etapa de cada vez.
- E qual é a dieta, soutora?
- Ervilha e meia por dia e 1/3 de iogurte magro por semana.
- Não sei se consigo comer isso tudo.
- Tem de tentar. Não podemos exagerar. Alguma coisa terá de comer.
- Mas sinto-me tão gorda, soutora. Olhe, aqui, quando eu era mais nova, tão elegante que era.
- Onde?
- Aqui, atrás desta corda. Está a ver esta orelha? É minha.
- Muito elegante, sim, senhora. E fazia o pino de forma tão graciosa!
- O pino e outros malabarismos, verdade seja dita. Mas não é o caso. Os brincos é que eram demasiado pesados. De vez em quando tinha de pousar as orelhas para descansar.
- Raio dos brincos. Já tive o mesmo problema com um fio de prata.
- E o dinheiro que se poupava em roupa, soutora? Nem imagina. Olhe, de uma manga de camisa fazia dois vestidos. Bons tempos.
- Pronto, lá chegaremos. Tudo se há-de compor.
- Ai nem me diga, soutora. Mal posso esperar.
E saiu leve, profusa, irradiando esperança, sua graça difusa. Infelizmente, estava vento. Os brincos ficaram em casa - oh tragédia!
A doutora perdeu a doente, a mercearia abriu falência e nunca mais houve beleza no mundo.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
De la musique - U2
Do Dragão, na noite de Dublin.
Tema: The Unforgettable Fire
Intérprete: U2
Álbum: The Unforgettable Fire (1984)
Tema: The Unforgettable Fire
Intérprete: U2
Álbum: The Unforgettable Fire (1984)
quinta-feira, 19 de maio de 2011
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Azul
Coração rigoroso, olhos em branco,
olhas essa parede a que chamam céu.
E espalhas nesse espaço vago que vos separa
as letras com que se constrói a palavra azul.
Uma nuvem recolhe o a,
e pensas em milhares de palavras, frases, histórias
onde coubesse a letra a (e, já agora, a tua vida inteira).
Espera... espera no vento, esse espelho de ecos,
a luz do zul que te resta...
Entretanto, a noite cai sobre o verso.
E, coração rigoroso, olhos em branco,
contas, à pressa, estrelas, reticências, pontos finais
alheios, talvez meus, ou deste texto
em que te encerro.
olhas essa parede a que chamam céu.
E espalhas nesse espaço vago que vos separa
as letras com que se constrói a palavra azul.
Uma nuvem recolhe o a,
e pensas em milhares de palavras, frases, histórias
onde coubesse a letra a (e, já agora, a tua vida inteira).
Espera... espera no vento, esse espelho de ecos,
a luz do zul que te resta...
Entretanto, a noite cai sobre o verso.
E, coração rigoroso, olhos em branco,
contas, à pressa, estrelas, reticências, pontos finais
alheios, talvez meus, ou deste texto
em que te encerro.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Diz-me
Dizes-me
que o próprio tempo nos ouve;
que não há destroços nem náufragos,
nem da tormenta o mais breve sinal,
que o próprio tempo nos ouve.
Dizes-me
que tolice é não sonhar;
que não há vida sem quimera,
nem razão que por delonga não pene,
que tolice é não sonhar.
Dizes-me
que ao ouvir-te também falo;
e tão bem mo dizes,
que ao falar quase te ouço.
que o próprio tempo nos ouve;
que não há destroços nem náufragos,
nem da tormenta o mais breve sinal,
que o próprio tempo nos ouve.
Dizes-me
que tolice é não sonhar;
que não há vida sem quimera,
nem razão que por delonga não pene,
que tolice é não sonhar.
Dizes-me
que ao ouvir-te também falo;
e tão bem mo dizes,
que ao falar quase te ouço.
terça-feira, 3 de maio de 2011
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