sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

De la musique - Jane's Addiction



Tema: Ted, Just Admit It...
Intérprete: Jane's Addiction
Álbum: Nothing's Shocking (1988)

De porta em porta

quando os olhares se tocam
numa melodia tresloucada que vibra nos tímpanos
e vai escorregando garganta abaixo
até que se forme um nó no estômago;

quando as bocas se unem
num mar de saliva que se mistura com o hálito quente
dos narizes que o partilham ofegantemente;

quando, do ritmo demoníaco do sangue que corre para chegar,
saltam as roupas,
como lava de um vulcão em erupção;

quando esse arrepio
que funde a chama no gelo de um tremor
ataca as pernas enroscadas e se perde na cama que os recebe;

quando, nus, os corpos dançam
nas palavras que saem, intraduzíveis,
e os músculos se torcem, implorando o fim do rebuliço;

quando, entre dois cigarros,
se ouve qualquer coisa que ecoa na serenidade estabelecida:
promessas, talvez... umas já feitas, outras por fazer
- todas por cumprir;

quando a porta bate no meio da noite,
deixando no ar a ideia de que alguém saiu sem avisar,
e o que resta não é mais do que uma sonolenta indiferença;

quando... até quando?

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

De la musique - Fuck

Desta vez, só com link (retirado dos headquarters da banda). Era assim ou com publicidade. So... fuck advertising.

Tema: Fuck Motel
Intérprete: Fuck
Álbum: Pardon My French (1997)

Alta fidelidade

Era uma vez uma bela princesa que vivia no reino da fantasia.
Tudo era belo, no reino da fantasia! Sempre Primavera, sempre
sol, sempre o chilrear dos pássaros, no reino da fantasia!
Tão virtuosa era a princesa! E tão esbelto e robusto era o seu
príncipe encantado! Tão felizes eram, no reino da fantasia!

Até que um dia (não se sabe se por obra de Deus ou do diabo),
a princesa bocejou e um rechonchudo bastardo nasceu. Foi o
delíquio geral, no reino da honraria! Caiu o céu sobre
a terra, no fidelíssimo reino!

Não foi fácil resolver o mistério. Todos foram ouvidos, todos
estavam inocentes, no imaculado reino. Até que, depois de
muito reflectir, o iluminado príncipe encontrou a solução:
sortearam-se as cabeças e, no fim, uma rolou - justiça feita,
moralidade reposta, no reino da hipocrisia...

Ainda hoje, sua insaciável alteza boceja de felicidade.
E, todas as noites, ecoam no imaculável reino
suspiros de virgem decorosa e esgares de cabeças dormentes.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

De la musique - The xx

Merry Xxmas!


Tema: Crystalised
Intérprete: The xx
Álbum: XX (2009)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O amor é...

Teoria do romântico:
7 × (o Sol + a Lua + n × as Estrelas + o Infinito)² ÷ a Terra
Em resumo: tudo!

Teoria do realista:
0 × (O sol - a lua - o vento - as estrelas - o infinito)¹ ÷ 3 × a terra
Em resumo: nada.

Teoria do surrealista:
7 × o sOl¹ + 3 × A luA² - o InfiNitO ÷ (aS eStrElAs + A teRRa)
Em resumo...

De la musique - Urban Species



Tema: Spiritual Love
Intérprete: Urban Species
Álbum: Listen (1994)

Três conceitos de amor

I - O pensador

Perguntei ao sonho onde ficava o amor,
disse-me que na primeira porta à esquerda.
Entrei, convicto de que me esperava de braços abertos.
De facto, lá estava de braços abertos para me receber.
Coloquei-lhe todas as questões que havia guardado
cuidadosamente,
e, comovido, respondeu-me:
"Adeus, foi um prazer conhecer-te."


II - O fatalista

O amor é amor,
só enquanto não o entendemos;
depois... é uma chatice.
Mas não quero ser injusto,
há, ainda, alguns sobreviventes
- essa espécie rara -
capazes de dar a própria vida por ele!
Por altura do natal,
decoram religiosamente a casa,
para que, lá dentro, o amor
possa apodrecer com nobreza.


III - O maldizente

O amor? Conheço-o só de vista,
mas era capaz de jurar que mente
- bebe muito, não sabe o que diz.
Se, pelo menos, fosse eterno...
Mas não, de tanto querer servir o Homem,
acabou por lhe apanhar os vícios.
E agora, coitado, ninguém acredita nele.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

De la musique - Yellow Ostrich

Thanks, M.



Tema: Hate Me Soon
Intérprete: Yellow Ostrich
Álbum: The Mistress (2010)

No comments

makezine.com

Lusco-fusco

A foice do horizonte ceifa o sol de um só
golpe. Este, num acesso súbito de agonia,
enrubesce o momento. Então, tudo faz um sentido
inesperado, assustadoramente real! É
o tempo, que se esgota: o mar devorando o
crepúsculo, como se de um simples náufrago
se tratasse, o esbracejar da luz tentando
desesperadamente suster o seu último
fôlego. (Tarde demais... - a vida
jugulada e duas mãos vazias.)
Só a noite e os olhos que a velam sabem
porque jaz este corpo, na praia, sem alma.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Crepúsculo

Um corpo alvorece sobre a praia:
o rosto desbotado,
os olhos de um silêncio inesgotável,
as mãos arrastando a bruma,
os cabelos erguendo as vagas...
Ainda correm pela areia resquícios de inocência:
braços atados, lábios conspirando contra o tempo,
num crepúsculo ilusoriamente sustentado...
Um corpo esmorece sobre a lentidão do dia...
Cai-lhe da boca a última gota desse sangue.
E num derradeiro gesto, fútil, fugaz friesta
que a noite toma, esvai-se na sombra
de uma lua amarrotada.

sábado, 11 de dezembro de 2010

De la musique - The National



Tema: Thirsty
Intérprete: The National
Álbum: Sad Songs for Dirty Lovers (2003)

Sede

Foco ao longe os primeiros traços da manhã
e tenho sede. Sede
de colher dos teus lábios o torpor das palavras,
da preguiça com que íamos tecendo a rede
que ainda hoje nos prende.
Ardem-me os olhos de te ver no vazio dos lençóis,
de perseguir a inexactidão dos dedos,
perpassando os espaços, esboçando as curvas
desse teu corpo feito de ausência, feito
desta sede inenarrável. Como apagar-te, ó imagem,
película que no jazigo do tempo oscilas?
Como saciar-te?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A melancolia da harmonia

A nostalgia deste dó menor
- súbito baixo, decandente sol -
rompe a fronteira, grave e fulgurante.
Ardem as chamas na memória viva,
batem, nas têmporas, folhas caídas.

Faz-se silêncio, toca o saxofone
na noite fria, e já ninguém responde.
Estende ao vento o seu ardor vibrante,
esboça à sorte histórias de outro azar
- não tem guarida para o seu pesar.

Eu, nesta inóspita visão, prefiro
imaginar o som. Bebo e respiro
as notas do piano: ar ofegante,
melancolia, mais do que a harmonia,
traz-me à garganta o pão de cada dia.

E sigo e volto em vozes que me alertam,
dizem-me coisas - ah!, será que acertam?
Se não me enganam, ouço-as expectante,
ou se me mentem, finjo que não sei;
mas, sóbrio, o fel impõe a sua lei.

Percorro, à toa, o rol dos instrumentos,
fazem o mesmo: trazem-me lamentos.
Nem sei se escuto, encontro-me hesitante...
Rebusco os cantos das ideias cheias
- como evitá-las, se são tão certeiras?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

De la musique - John Coltrane

Por falar em água...



Tema: After the Rain
Intérprete: John Coltrane
Álbum: Impressions (1963)

Eram os teus olhos

eram os teus olhos,
os teus olhos,
os teus olhos de água...
«problemas de visão? Costela de Adão oculista!
a mais vasta gama de produtos ópticos ao seu dispor!»
... mel! isso! eram os teus olhos de...
«tosse? irritação das cordas vocais?
AspirinaH com mel! duas ao deitar e até sonha com abelhas!»
... err... fel?
«Fellllistiano Mateus! conselheiro matrimonial
de alto gabarito e absoluta honradez profissional!»
... olhos de... de... (bah...)
«vá, não perca tempo! e porque tempo é dinheiro,
a Funerária do Bujão reserva-lhe desde já o seu caixão!»
...
(ou, algures, alguém tinha algo para dizer?)

Bom dia

Ouvi dizer (não sei se é verdade) que a inspiração dos autores deste blogue foi ali e vem já (podem sentar-se, caros leitores, que pagam o mesmo). Enquanto vai e não volta, deixemos que um momento único de inspiração de Sebastien Tellier quebre o gelo que se instalou esta semana um pouco por todo o lado e ao qual este blogue não escapou.

sábado, 27 de novembro de 2010

De la musique - Miles Davis

A sugestão foi do Masquediabo, aqui. Algo me diz que os apreciadores de jazz mais puristas não acham grande piada a este disco. Eu, pelo contrário, acho interessantes estas fusões de estilos.



Tema: The Doo Bop Song
Intérprete: Miles Davis
Álbum: Doo-Bop (1992)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

De la musique - Blonde Redhead

Saia uma loira para a mesa dois. Com asas, de preferência.



Tema: Falling Man
Intérprete: Blonde Redhead
Álbum: Misery Is a Butterfly (2004)

The show must go on

The show must go on and on and
feel the beatum pum pica pica pin
the flesh taste the blood vampirum pum
pica pica pcheck your mouth spicy splitted
words pi capum pi capi capand fi fi fire
the rhythm all over your body and and
topland ahead and and there's no
there's no air there's no scraaaatch
ups somebody cut the wire nooooooo
yap rest now boy no need to look down
the show must go on

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

De la musique - Bowery Electric



Tema: Fear of Flying
Intérprete: Bowery Electric
Álbum: Beat (1996)

Vertigem

Um pássaro voa rumo ao lusco-fusco.
Tanta abstracção nos olhos e nas asas...
Tanto azul no temerário desfolhar dos horizontes...
Trepo a vertigem de ser mais alto;
quero esse pássaro, quero as palavras que liberta,
quando, do cume do seu esplendor, vê o mundo a seus pés.
Quero... quero descer, sinto-me tonto.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

De la musique - Ida Maria


Tema: Keep Me Warm
Intérprete: Ida Maria
Álbum: Fortress Round My Heart (2008)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Manhã-neblina

Sobra-me o abstracto, o intocável,
esta manhã-neblina suspensa no olhar.

É a fuga ocasional de todos os tu falhados,
de todos os nós por resultar.

O sítio onde um eu revolvido
pode sossegar por instantes.

É por isso que este cinza leve penetrável,
prestes a esfumar-se no imaginário,
é tão belo e apelativo.

E porque tem por trás um céu azul por descobrir.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

De la musique - Thievery Corporation



Tema: Manhã
Intérprete: Thievery Corporation
Álbum: Sounds from the Thievery Hi-Fi (1997)




Tema: Until the Morning
Intérprete: Thievery Corporation
Álbum: The Richest Man in Babylon (2002)

Ainda há manhãs

Ainda há manhãs que vêm olhar-nos
com a estranheza de quem nasce pela primeira vez.
Ainda há mãos que apontam: «na primeira nuvem
à direita». E a manhã vai, vai com infância pintada,
abrindo azul em seu redor. E fica um homem plantado,
com meio sorriso num bolso e tarde já noite crua no outro.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

De la musique - Shigeto

Para quem gosta de relaxar ao som de música electrónica, na mesma linha de Boards of Canada, com um cheirinho de Bola e umas pinceladas de 4hero, Shigeto vem ao desabrigo explicar como se desenha um círculo.



Tema: Look At All The Smiling Faces
Intérprete: Shigeto
Álbum: Full Circle (2010)



Tema: There Is Always Hope
Intérprete: Shigeto
Álbum: Semi Circle EP (2010)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

De la musique - The Dining Rooms

Um duo italiano, para acompanhar a pizza.




Temas: Pure & Easy, Sei Tu
Intérprete: The Dining Rooms
Álbum: Numero Deux (2001)

Uma pizza especial

tudo começou num animado diálogo improvisado:
- impro - pois é...
- visado - é...
- impro - é...
- visado - pois é...
- impro - pois é...
- visado - é...
finalmente, impro visa o outro:
- impro - já não era sem tempo.
- pizza-boy - estão fresquinhos.
- impro - óptimo. podemos proceder à decapitação.
- visado - hã? mas... mas...
- impro - e zap tamente. queres que embrulhe?
- visado - não vale a pena. basta-me um pouco de terra onde possa florir.
- impro - e onde queres os cogumelos?
- visado - err... posso mesmo escolher?
- impro - não. hey, pizza-boy, corta-me esse cepo às rodelas e distribui pelos clientes.
- pizza-boy - como diz?
- impro - diz que é oferta da casa, uma promoção de outono, ou o raio que te parta... desenrasca-te, pá!
um mãos-largas, este impro. visado lá foi criando raízes na terra. nada de grave; afinal, nunca fora de grandes voltas. entretanto, pizza-boy, mais conhecido por lentecapto (ouvia mal, mas via bem, para fortuna dos pedestres), continuava a errar pelas ruas, qual justiceiro cego. assim, trinta e cinco atropelos depois, como manda a imoral da estória, pizza-boy lá entrega a sua última encomenda:
- a madamme cora - formato novo?
- pizza-boy - deixe ver... sss... nnn... (três horas depois) é, é de sushi. e susharam-se para sempre, que o rapaz também tem direito a brinde. quem? ah... a vida continua a correr bem a impro. visado, esse é agora um belo funcho (para meu regalo, que já posso encerrar esta merda).

cordialmente,

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

De la musique - The Clash


Tema: Should I Stay or Should I Go
Intérprete: The Clash
Álbum: Combat Rock (1982)

Sem ida nem volta

Dez horas da manhã.
O ténue suspiro do vento empurra-me
para onde não quero ir.

Os passos são curtos, renitentes.
As pernas, cada vez mais trémulas, hesitam.
O coração palpita desenfreadamente
e o ar escapa-se-me
arrastando consigo a pouca lucidez que me resta.

Vou imaginando o que me espera
e milhares de ideias assaltam a minha mente
- tantas hipóteses...

Subitamente, de entre o sussurro das sombras,
surge uma entrada que me faz despertar.

Bato à porta. A espera é infindável.
Ouço passos que se aproximam, firmes.
Recuo, inconscientemente,
tento recordar, à pressa, o que era para dizer.

Abrem-se os confins do tempo,
e, da lonjura, borbotando lentamente,
surge aquele vulto de proporções divinais.

Abro a boca para falar,
mas esta trai-me, e nada mais sai
do que um longo e rotundo silêncio.

Prendo os olhos naquele rosto
que tantas vezes me sorriu,
agora inerte e insensível,
envia-me um olhar intensamente oco.

Penso na imagem que idealizei,
comparo com aquela que está a atirar-me com palavras
que não ouço.

Respiro fundo, estranhamente aliviado.
Volto-me, regresso ao murmurinho das sombras.

E o ténue suspiro do vento empurra-me
para onde não quero ir.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

De la musique - ...And You Will Know Us by the Trail of Dead


Tema: How Near How Far
Intérprete: ...And You Will Know Us by the Trail of Dead
Álbum: Source Tags & Codes (2002)

Escrever

Comunicar.

Desmultiplicação

Esse labirinto que trazes nos olhos é apenas o início.
Entretanto, o sujeito muda:
o tu dá lugar ao ele, na sua longa e penosa jornada.
(Aqui, uma ligeira oscilação: recordar que um dia
no vértice de uma parábola invertida estivemos nós.)
E esperar que entre mais e menos infinito
algo o leve até vós, vos traga até mim.
Talvez, então, um só, nos consigamos finalmente decifrar.

Bom dia

Estive a ler um texto interessante no blogue do vizinho do lado (vizinha, já sabes, se porventura tiveres um monte de visitas inesperadas, agradece a quem pôs no gráfico, que nós não temos nada que ver com isso) e pus-me a pensar: afinal o que faz alguém escrever? Adormeci 30 segundos depois, a meio de um texto brilhante do qual me esqueci completamente. Felizmente, já tinha escrito sobre o assunto. Ou, pelo menos, é o que parece.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

De la musique - Tame Impala

A primeira vez que ouvi isto foi algures no meio do mundo da Sirigaita. Muito bom.


Tema: Alter Ego
Intérprete: Tame Impala
Álbum: Innerspeaker (2010)

Neutralidade

Talvez o segredo esteja em permanecer neutro:
olhar em volta com a distância de quem não sente
e escrever como quem sente.
Talvez seja esse o caminho para chegar a todo o lado.
Eu, que não me encontro em lado algum,
perco-me em contradições.
Por tudo querer dizer,
digo até o que não sinto;
e o que sinto, escrevo-o como quem não sente.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

De la musique - Silversun Pickups



Tema: Lazy Eye
Intérprete: Silversun Pickups
Álbum: Carnavas (2006)

Preguiça

Ou desmotivação?

Bom dia

Eu e a minha língua comprida... Incumbiram-me da missão de escrever sobre a preguiça, só porque alegadamente fiz uma referência indirecta à dita cuja. Vou tentar resumir... Mas agora não. Estou com preguiça.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

De la musique - Jazzanova


Tema: Coffee Talk [Yukihiro Fukutomi Remix]
Intérprete: Jazzanova
Álbum: Singles Collection 1997-2000 (2003)

O poema que diz tudo

Tudo.

Bom dia

Já que estamos numa de resumir...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

De la musique - Maria Taylor


Tema: Xanax
Intérprete: Maria Taylor
Álbum: 11:11 (2005)

Medo

De sofrer.

Bom dia

O primeiro (e único relevante) passo para vencer o medo é vencer o medo. Falar (neste caso, escrever) é fácil.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

De la musique - Sleater-Kinney


Tema: Jumpers
Intérprete: Sleater-Kinney
Álbum: The Woods (2005)

Ensina-me a voar

Eis o voo dos simples,
a sua plumagem de brisa,
o seu pousar nas manhãs.
Vêm beber das cascatas,
vêm cantar-nos a infância.
Ei-los no topo dos ramos,
a debicarem o céu.
(Bem melhor do que este chão
violado, suicida, mutilado,
rouco, rouco, rouco, rouco,
que compramos nos quiosques.)
Um pássaro pálido lança-me o seu olhar
pleno de desnorte.
Então e eu? Olha aqui eu! - reclama.
Tu, meu amigo, voa enquanto podes
para bem longe deste (estado de) sítio.
Rasgo o jornal, e chove,
chove sangue e violetas.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

De la musique - 4hero


Tema: Star Chasers
Intérprete: 4hero
Álbum: Two Pages (1998)

O tediokiller diz que também quer. Pega lá, pá...


Tema: Parallel Universe
Intérprete: 4hero
Álbum: Parallel Universe (1995)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Quando for grande quero ser pequeno

Às vezes, dou comigo a perseguir estrelas com os olhos de um miúdo que queria ser astronauta quando fosse grande. Nessa altura, era tudo mais fácil: saíamos em missão intergaláctica, a bordo de uma vistosa Águia do Espaço 1999, explorávamos o território alienígena e regressávamos para os braços de uma Helena pronta socorrer-nos, na secção médica da Base Lunar Alfa, caso alguma coisa corresse mal.

Agora, entramos em território que julgamos conhecer, ao volante de um Opel Astra, em segunda mão, e arriscamo-nos a voltar, a pé e sem dinheiro, para um rés-do-chão alugado, onde a coisa mais parecida com o céu que encontramos é a Celeste, que nos dá cabo da cabeça por não termos avisado que íamos chegar mais tarde.

Que saudades do tempo em que eu sonhava ser astronauta quando fosse grande!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

De la musique - Fila Brazillia

Um zê e dois eles para o vosso fim-de-semana. Oferta da casa. Aproveitem.


Tema: A Zed and Two L's
Intérprete: Fila Brazillia
Álbum: Maim That Tune (1995)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Consultório

A coisa começou aqui. Depois descambou desta forma infame:

- Nome?
- Tediokiller.
- Tedioquê?
- Isso. Com um k.
- Bem... Profissão?
- Doutor engenheiro arquitecto, gigolô nas horas vagas.
- Sei... E o que faz uma pessoa tão multifacetada no nosso consultório?
- Estou maldisposto.
- Que tipo de indisposição?
- É uma longa história.
- Então o melhor é começar a contá-la já.
- Hoje acordei atrasado porque o despertador não tocou.
- Sim, e depois?
- Depois ia tomar banho e não havia água.
- Que chatice...
- Pois. A seguir ia fazer o pequeno-almoço e não havia luz.
- Não me diga...
- Digo.
- Olhe, o melhor é contar tudo ao médico. Dê-me só a sua morada, por favor.
- Debaixo.
- Debaixo?! Debaixo de quê?
- Da parte de cima.
- Mau... E onde é que isso fica?
- Por cima da parte de baixo.
- Ó homem, dê-me o nome da rua e número da porta!
- Estou confuso.
- É assim tão difícil?!
- Bem... É que um dia destes eu recebi uma carta para um tal de Idalécio Bonifácio que mora na Rua de Cima.
- E é essa a sua morada?
- Não, eu moro em baixo.
- (Ai... Não tarda muito e quem precisa de consulta sou eu...) Olhe, são 50 euros, por favor.
- Sabe, é que...
- O que foi agora?
- No meio desta confusão, não sei onde pus a carteira. Talvez tenha ficado lá em cima.
- Então não era lá em baixo?
- Foi o que eu pensei. Mas não. Se calhar o carteiro tinha razão.
- Olhe...
- Siiiiim?
- Por obséquio...
- Faça o favor de dizer.
- Sem querer incomodar e com cerejas em cima...
- Baixo.
- ##@$%#@#!!!
- De nada. Precisava de um despertador assim para levar para cima.
(...)
- Ó Idalete, manda entrar o próximo doente.
- Ela saiu agorinha mesmo. Disse para os doentes irem para... para...
- Para onde?!
- Não me lembro.
- Então e agora?
- Agora sou eu o próximo.

Bom dia

Interrompemos a programação habitual para escrever sobre alguma coisa. É verdade. Mas só mais logo. Agora tenho de ir ali ter um particular à parte com uma francesinha. Bem apetitosa, por sinal.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Um homem não chora (mas amua)

Por vezes, tenho esta tarefa ingrata: escrever sobre nada, de forma a parecer que escrevo sobre alguma coisa. Então, jogo com as palavras. Pego, por inesperado exemplo, em «repetir» e retiro-lhe uma letra: vamos chamar-lhe r (o imprevisto). E lá vou eu, todo contente, com o imprevisto debaixo do braço, para uma longínqua aula de francês em que tudo o que o petit tinha de saber era pronunciar correctamente fromage. Era de queijo que falávamos, à espera do pão do recreio, nada preocupados com o tempo que iria demorar até que o inglês nos ensinasse que, afinal, from age dizia respeito à idade. Foi nessa altura que percebi que já não era um petiz, mas antes alguém prestes a descobrir que o coração era algo que se incendiava facilmente, bastando-lhe para isso um sorriso de rapariga. As partidas que a vida nos prega: passamos tanto tempo a tentar apagar fogos e, de um momento para o outro, vemo-nos incapazes de gerar a mais ténue centelha.

Vá, deixa-te de lamúrias. És um homem, agora. E um homem não chora. O homem joga com as palavras.

Vamos lá, então. A rapariga sorria, e o rapaz respondia de coração pronto e corpo afogueado. Na altura, não havia lições de educação sexual - tínhamos de nos contentar com religião e moral. O sexo era-nos servido à queima-roupa. Às vezes corria bem, outras nem por isso. No meu caso, correu como um doido, à procura de um tal de juizinho de quem tantas vezes me falaram. Acabei por encontrá-lo, inevitavelmente, entre fotografias queimadas e os destroços de um coração adulto. Mas um homem não chora. O homem tem juízo. O homem escreve sobre nada, mantém as aparências e vive coisa nenhuma.

Não me apetece jogar mais com as palavras.

domingo, 10 de outubro de 2010

De la musique - Silent Poets


Tema: Break In The Circle
Intérprete: Silent Poets
Álbum: Words And Silence (1994)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Hoje não me vou repetir

Hoje não vou repetir que te perdi de vista numa rua impercorrível. Até porque a palavra não existe. O que é uma chatice, pois não vou poder falar dos momentos em que impercorri o teu corpo, julgando ter-te para sempre. Também não me apetece procurar agora o r que falta no fim da palavra amor e que me impede de viver por inteiro. Os rr fazem falta, sabes? Gostava de voar, mas falta-me o r. Gostava de pousar, mas tudo o que consigo é ouvir uma voz abstracta - que, sem r, mais parece uma batata - a mandar-me circular. Já experimentaste circular sem r? Não é nada fácil. E, como é ilógico e inevidente, isso chateia-me. Até porque era suposto eu agora desatar para aqui a dizer que estou perdido entre o princípio e o fim de algo que não consigo decifrar. Mas para isso precisava de um monte de rr. Além disso, ia estar a repetir-me. E como não é possível repetir sem r, hoje não me vou repetir. Mas gostava ao menos de saber o que fazer com as letras que sobram.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

De la musique - St. Vincent

Porque o prometido é devido, os St. Vicent passaram pelo desabrigo e brindaram-nos com esta música magnífica. Espero que apreciem (pelo menos) tanto como eu.



Tema: Just the Same But Brand New
Intérprete: St. Vicent
Álbum: Actor (2009)

Recomeçar de novo

Voltar a escrever-te não é fácil. Podias ao menos ter-me deixado uma daquelas frases que se guardam com ilusão: «vou, mas levo-te dentro de mim», «jamais te esquecerei» ou «foste o homem da minha vida». O que, na verdade, seria irrelevante, uma vez que partirias na mesma.

Sim, mais valia teres ficado em silêncio. Encheríamos as malas com as nossas desilusões, levá-las-íamos até à estação de comboio e despedir-nos-íamos delas com um longo e sentido adeus. Depois, regressaríamos a casa de mãos atadas e com um sorriso aliviado. Deitar-nos-íamos para sonhar o mesmo sonho, aquele sonho ingénuo e feliz que nos fez encostar os lábios pela primeira vez. E acordaríamos, no dia seguinte, como se a vida tivesse acabado de nos abraçar. Claro que, para isso, era necessário que não tivesses partido e que eu tivesse feito a minha parte para não te deixar ir. O que, nesta altura, é irrelevante, uma vez que aconteceu precisamente o oposto.

Sim, é melhor assim: sem ilusões e com a vida cheia de lições. Vou apaixonar-me de forma redobrada e fazer tudo de novo. Perfeitamente. Vou começar amanhã, às oito em ponto, logo ao virar da esquina. Estarás lá de braços abertos. E de malas vazias.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

De la musique - dZihan & Kamien


Tema: Basmati
Intérprete: dZihan & Kamien
Álbum: Gran Riserva (2002)

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

De la musique - US3


Tema: Cantaloop (Flip Fantasia)
Intérprete: US3
Álbum: Hand on the Torch (1993)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

De la musique - Guru





Temas: Loungin', No Time to Play
Intérprete: Guru
Álbum: Jazzmatazz, Vol. 1 (1993)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

De la musique - Adam F


Tema: F Jam [Album Edit]
Intérprete: Adam F
Álbum: Colours (1997)

help!

(recebido por e-mail)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

De la musique - Foul Play


Tema: Artificial Intelligence
Intérprete: Foul Play
Álbum: Suspected (1995)

Bom dia

E boa noite, também. Esta semana sou eu que ponho música.

domingo, 26 de setembro de 2010

De la musique - Shipping News




Temas: Axons and Dendrites, Louven
Intérprete: Shipping News
Álbum: Flies the Fields (2005)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Trailer - Lost in Translation

Vi, finalmente, o Lost in Tanslation. Talvez por ter lido críticas muito positivas, confesso que esperava mais. Ainda assim, gostei. A nível de imagem, o filme é excelente. O argumento é sóbrio, realista, subtil, com algumas pinceladas de humor a quebrar a melancolia dominante.

A história é sobre Bob (Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson), dois desconhecidos que se encontram por acaso, no meio de um país estranho e de uma noite de insónia, perdidos na tradução de uma língua, de uma cultura e do sentido da vida de cada um deles. É esse sentido que ambos procuram ao longo da história, com mais questões do que respostas, inevitavelmente.

A distância, que tanto pode medir-se pelos quilómetros que separam o Japão dos Estados Unidos, como pela resposta ausente de Maureen ao «já não sei com quem casei» de uma Charlotte em lágrimas. A monotonia de uma vida cujas cores se confundem como as amostras de alcatifa que Bob recebe da esposa: «tinhas razão acerca da borgonha, as outras nem lhe chegam aos calcanhares... (qual delas é a borgonha)?». A crise existencial amplificada por uma Tóquio desconhecida e vazia de sentido. Um ponto comum nas vidas de Bob e de Charlotte que faz com que se desenvolva uma relação de amizade entre eles, um amor prestes a materializar-se, platónico.

No final do filme, ele sussurra qualquer coisa imperceptível ao ouvido dela, deixando em aberto o final feliz com o qual os espectadores mais românticos sonham. Mas duvido que, de regresso à realidade dos seus quotidianos, sem néones nem karaokes, tudo o que ambos experienciaram juntos pudesse ser mais do que aquela rapariga tão brilhantemente descrita em Changing Lanes. Na verdade, há um diálogo que demonstra que Bob e Charlotte tinham esta noção de efemeridade:

Charlotte - Nunca mais voltemos cá, porque nunca irá ser assim tão divertido.
Bob - Como queiras, tu é que mandas.


O amor é um lugar estranho - a tradução para português do título do filme. Neste caso, faz todo o sentido.

Aqui ficam algumas imagens, ao som do excelente Sometimes dos My Bloody Valentine. Quem preferir o trailer oficial pode vê-lo aqui.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

No comments

airasia.com

Setembro

Setembro chegou à cidade.
Nos cafés, ouvem-se vozes frescas, entre sorrisos banhados de sol.
Na rua, o dia boceja, retardando o passo dos que ainda
trazem férias nos bolsos.
Os olhos param para contemplar o amarelo de um semáforo,
o nascer do dia em Bali, o pôr-do-sol em Acapulco.
Então, recordo que também eu, outrora, trazia férias nos bolsos.
Não porque fosse Setembro, mas porque era jovem e tudo me sabia a Agosto.
Nunca fui a Bali, nem a Acapulco. Pelo menos, fisicamente.
Mas viajava todos os dias, que a imprudência faz destes milagres:
transforma as ruas em países e os passos em viagens.
Foi nesse tempo que te encontrei, repetidamente, pousada num horizonte
dourado. Percorremos um mundo feito de versos
que até caberiam bem neste poema, não fosse a hesitação das
mãos entre o celeste momento de há pouco e este sabor a
sangue que me traz o vermelho do semáforo.
Felizmente, o sinal cai mesmo a tempo de evitar o derrame.
A cidade desperta. É verde tempo de seguir em frente.
Ainda não perdi a esperança de conhecer Acapulco, Bali, o amor...

sábado, 18 de setembro de 2010

De la musique - Cold War Kids



Tema: We Used to Vacation
Intérprete: Cold War Kids
Álbum: Robbers & Cowards (2006)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Férias

7 da manhã, insiste o despertador. Atiro o olhar para ontem.
2 horas de vertigem até à desventura, anuncia o bilhete.
120 decibéis de raiva estrategicamente armazenados na garganta
para quando lá chegar (ordens do médico). Tudo pronto.
Última chamada para nenhures: terminal 1, porta 4.
Está na hora! Está na hora! Não te esqueças de escrever.
Escreverei, escreverei.
Voo pontual, aterragem suave. Tempo triste e seco, como a memória, lembras-te?
Foi num tranquilo quarto de hotel que, sonhos desfeitos, me entretenho apagar o que penso. Vá, é tempo de férias, de pôr tudo para trás.
Repara, lá fora, um canto de pássaro transparente, transparente.
Adormeci a imaginar aquele canto imperceptível. Tive pesadelos.
7 da manhã. Procurei atabalhoadamente o despertador. Não estava. Senti-me só.
Saí. 15 por 10 de aurora e 2 linhas telegráficas. Escrevi.
Sabias que trouxe a tua imagem, suspensa por malmequeres, no bolso da camisa? Pois bem, rasguei-a.
Para onde vou? Para onde vou? Para onde vou à praia.
Afinal, tanto relax espalhado pela areia é de aproveitar.
Estendi a toalha. Pedi 10 euros de sol. Estava esgotado.
Lembram-se das ordens do médico? Pois é...
Ah, que bem que fica a praia deserta e um sol inteiro (oferta da casa) só para mim. 15 dias de preguiça. Daqui ninguém me tira. Daqui ninguém me
atiro o olhar para ontem. Nada a fazer, é hoje.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ida à praia

Um nevoeiro miudinho cobre repentinamente a cidade.
É tempo de sol, de esplanadas, de praia; e não de agasalhos.
Talvez por isso estremeça, ainda.
Sim, lembro-me vagamente desses cenários de infância:
as incursões destemidas por bosques fabulosos,
as correrias incansáveis pela areia molhada,
as palavras de bruma atiradas à água
(mensagens intraduzíveis que a maré levava)...
Mas era de nevoeiro que eu falava. E como cresce!
Chega a cerrar a vista.
Também já vi isto em qualquer lado...
Sim, quando, tacteando a forma imaterial do amor (amor?),
entreguei a vida nas garras da sorte (cego, mas, enfim, feliz)...
O nevoeiro... Quem diria?! Deu em chuva, tempestade!
Em pleno Verão, o coração cuspido aos pedaços!
O fim do mito, os pés soterrados na lama, a alma à mercê dos relâmpagos!
O corpo moribundo, as mãos cheias de nada...
O nevoeiro?... Passou, afinal - como tudo passa.
E o sol lá voltou; perfeitamente.
Segui, então, como havia planeado:
fui à praia, misturei-me com as pessoas, vi o mar...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Sempre chegando

Fragatas de folhas...
Os ramos curvam-se, os troncos vacilam.
Que agitação vai no bosque!
Que chilreada, nos bolsos do miúdo!
É o jogo do berlinde, da sameirinha e do pião.
"Eu sou índio; tu, cowboy",
e a donzela deixa cair um olhar tímido
no caminho do herói.
Que sobressalto vai no tempo!
dos corações apressados, por entre o milheiral.
Cantam os grilos, é a romaria,
e milhares de estrelas perdem-se em promessas...
(promessas... promessas...)
como quem chama na falésia um qualquer nome de mulher.
Que oscilação me vai na alma!
É este olhar para trás, como quem vem chegando.
E, algures no bosque
onde os troncos vacilam e os ramos se curvam,
fragatas de folhas...

De la musique - U2


Tema: Into the Heart
Intérprete: U2
Álbum: Boy (1980)

Infância

Saltita de galho em galho, o pardalito;
chilreia ao vento a despreocupação do instante.
Por vezes, pára... e fita-me, desconfiado e curioso;
ou talvez seja apenas eu, tentando roubar ao tempo uns segundos.
E, absorto, o persigo, no seu voo imprevisível,
e, imóbil, o contemplo, quando pára e me fita, intrigado.
Mas não perde muito tempo com questões, o pardalito.
E, alheio a tudo isto, vai chilreando de galho em galho
a infância.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

De la musique - Happy Mondays

Para começar bem a semana. Ao tempo que eu não ouvia isto...



Tema: Kinky Afro
Intérprete: Happy Mondays
Álbum: Pills 'n' Thrills and Bellyaches (1990)

domingo, 12 de setembro de 2010

De la musique - Echo & the Bunnymen

Num certo dia, madrugava eu pela aurora da vida e pelo meio da habitual desordem de plásticos e cobertores espalhados pelo chão da Feira da Vandoma, à procura de uma pechincha que não me levasse todo o dinheiro que eu tinha feito a vender tralha, quando conheci a Esmeralda. E quem é a Esmeralda? - perguntam vocês. A Esmeralda era uma rapariga que me achava tímido mas que rapidamente mudou de ideias, assim que ficámos sozinhos pela primeira vez, nas Escadas das Verdades, de frente para a ponte D. Luís e a meio de um beijo que durou uma eternidade.

Tenho andado assim, a descer e a subir as escadas do tempo, entre colecções de latas de bebidas (lembram-se da moda?) e as caves de vinho do Porto que visitávamos no regresso a casa, para aquecer para as noites de sábado. Branco, salgadinhos e tinto: à terceira ronda, estávamos prontos.

Mas falava eu da Esmeralda. A Esmeralda tinha uma banda pela qual era apaixonada e uma música favorita que nos acompanhou até ao infinito, em noites de lua cheia. É essa banda e essa música que agora partilho com vocês.




Tema: The Killing Moon
Intérprete: Echo & the Bunnymen
Álbum: Ocean Rain (1984)


Mais uma (um dos primeiros singles da banda). Só porque sim.




Tema
: The Puppet (1980)
Intérprete: Echo & the Bunnymen

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

De la musique - Bauhaus

Andava eu na Soares dos Reis, no Porto, entretido e enganado com as artes gráficas, quando conheci a rapariga que haveria de me ensinar o que era, afinal, essa coisa chamada amor platónico, tão comum na adolescência. Fiquei imediatamente refém dos seus olhos trigueiros e, lá está, daquela vozinha delicada de quem precisava urgentemente de alguém que a salvasse das garras do mundo. Assim eu a idealizava nos meus sonhos, perfeita e intocável, à minha espera num qualquer lugar intemporal.

Um dia, ela fez uma festa em casa dela e convidou o pessoal da minha turma. Eu decidi que era chegada a altura de me deixar de idealismos e de avançar para algo mais palpável. E assim foi: comecei a apalpar todas as bebidas que me apareceram pela frente e, depois, cheio de coragem (e em passo acelerado rumo à primeira e maior bebedeira da minha vida), convidei-a para dançar. Lembro-me de a ter colada a mim e de pensar: que se dane a filosofia, este corpinho eu nunca mais o largo. Infelizmente, o álcool (esse amigo da onça) tinha outros planos e, segundo me contaram, aterrei a meio da música e fechei para balanço. Mas, pelo menos, tentei...

Vem isto a propósito de Bauhaus e de uma música que ainda hoje me embala, mesmo sem os braços da Vânia para ampararem a queda. O título da segunda música que eu escolhi para partilhar com vocês foi mais ou menos o que eu senti quando acordei no dia seguinte ao do episódio relatado e me lembrei de que era dia de aulas...




Tema: All We Ever Wanted Was Everything
Intérprete: Bauhaus
Álbum: The Sky's Gone Out (1982)



Tema: Kick in the Eye
Intérprete: Bauhaus
Álbum: Mask (1981)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

De la musique - Siouxsie and the Banshees

Conheci a música de Siouxsie and the Banshees da melhor forma possível: Nocturne, em VHS, gravado no mítico Royal Albert Hall. Durante cerca de uma hora, a banda londrina transportou-me para um mundo obscuro, bizarro e apaixonante. Ouvir a voz grave e autoritária de Siouxsie transformar-se num meigo "please, help me" com cara de boneca prestes a saltar de uma cena de Blade Runner foi, para mim, um momento desconcertante. Mais tarde, descobri que há mesmo bonecas assim, inseguras e desprotegidas por fora, mas capazes de arrancar-nos o coração, sem hesitar, quando alguma coisa lhes desagrada. Mas deixemos isso para outras núpcias. Escolhi dois temas de um álbum todo ele excelente. Espero que gostem.






Temas: Eve White/Eve Black, Night Shift
Intérprete: Siouxsie and the Banshees
Álbum: Nocturne (1983)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

De la musique - The Cure

Começamos com uma banda de referência dos anos 80 e com aquela que é, na minha opinião, a melhor música dos The Cure: A Forest. Uma das primeiras vezes que eu ouvi a versão de Concert: The Cure Live, estava tão inspirado que me senti literalmente no palco, na pele de Robert Smith. Quem se riu (e ainda se ri) desta estória foi quem teve o privilégio de assistir à minha memorável actuação. Aliás, nessa altura riamos muito, por tudo e por nada, principalmente por nada, sem saber nem querer saber se o nada era mais do que o tudo de agora. Mas dizia eu (antes que me perca)... dizia o quê? Ah, pois, eram outros tempos. Tempos que recordo como uma Lullaby antiga que, algures, alguém ainda canta a meio do sono. Sweet dreams.




Tema: A Forest
Intérprete: The Cure
Álbum: Seventeen Seconds (1980)




Tema: Lullaby
Intérprete: The Cure
Álbum: Disintegration (1989)

Bom dia

Ou melhor, boa tarde. Esta semana será musicalmente dedicada aos eighties. Eu vou aproveitar para fazer um intervalo. Até já.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

De la musique - Metric



Tema: Sick Muse
Intérprete: Metric
Álbum: Fantasies (2009)

Vá, só mais uma. Os Pixies o quê? Hão-de cá voltar, quanto tiverem tempo.



Tema: Empty
Intérprete: Metric
Álbum: Live It Out (2005)

Por falar em tempo (afinal, havia tempo para outra)... Ideal para adoçar um café matinal no meio da bruma, ou para acenar a um ocaso que po(u)sa diante de nós, sem avisar.



Tema: Too Little Too Late
Intérprete: Metric
Álbum: Live It Out (2005)

Bom fim-de-semana.

Acaso

«No acaso da rua o acaso da rapariga loira»,
como se também eu a tivesse visto «há muito tempo
numa outra cidade, numa outra espécie de rua»,
e também eu tivesse sido outro.
Bem sei que «todas as recordações são a mesma recordação»;
o que, desde logo, chegaria para explicar o que faz essa rapariga loira
no meio dos meus versos, tão longe de casa.

Insisto, porém, com o pensamento quebrado a meio:
de um lado, uma paisagem antiga,
com Álvaro de Campos fitando casualmente a sua rapariga loira, que não está lá;
do outro, uma paisagem antiga,
onde avisto casualmente a minha rapariga loira, que não está cá.
Algures, pelo meio, uma das duas fala-me.
Talvez a tivesse ouvido, deveras, não fora eu estar onde não estou.
Mas, assim, o que dizer-lhe? Como dizer-lho?
Enfim, sorri-lhe que sim, que estava um dia bonito, e voltou-me costas,
já o Engenheiro se fora. Fechei o livro
e segui-lhe os passos mal distintos, até que a perdi no fim de uma frase qualquer.
Mais tarde, acabei por reencontrá-la, perfeitamente por acaso,
entre papeis riscados e fotografias amarrotadas.
Afinal, não era loira. Mas suponho que isso agora fosse irrelevante;
até porque há muito que havia terminado o (con)texto.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Isto também é poesia

De Roger Federer, no Open dos Estados Unidos.


Se calhar foi sorte, um daqueles versos que atiramos sem pensar, mas que, de uma maneira ou de outra, acabam por encontrar o seu caminho para o lado do receptor, conquistando-o casualmente. Vamos conferir.



Parece que o US Open inspira o melhor jogador de ténis do planeta.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

De la musique - UNKLE



Tema: Nursery Rhyme/Breather
Intérprete: UNKLE
Álbum: Psyence Fiction (1998)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Historieta

Tinha passado o dia a pensar em como começar esta história: era uma vez, não era uma vez e entrei num posto dos CTT. Dirigi-me ao balcão, pedi um envelope. «Nacional ou internacional?», perguntou. Disse-lhe que era para nenhures e perguntei-lhe o preço. Respondeu que, se era para nenhures, não era preciso envelope e que, assim sendo, era oferta da casa. Aceitei. Afinal de contas, não é todos os dias que se manda nada para nenhures, de borla. Quis retribuir e convidei-a para jantar. «Desde que não seja em nenhures...», gracejou. E eu compreendi. Em nenhures come-se muito mal. Além disso, temos de ter muita atenção com os preliminares. As mulheres adoram preliminares. Tudo o que não seja sexo são preliminares.

E então levei-a a jantar à tasca do Zé, que para além de ter bastante animação, tem sempre moelas de anteontem, prato económico, especialidade da casa. Corou. Provavelmente foi do molho (pedi-o bastante picante). Enfim, começamos a falar. Contei-lhe que escrevia versos. Admirou-se. Não sei porquê; afinal, tinha feito tudo para lhe proporcionar um jantar romântico. Era evidente que tinha alma de poeta. Contei-lhe mais: que era condição fundamental para se escrever que alguma coisa se passasse na vida de quem escreve. Não percebeu. E era um elogio, pois naquela noite era ela a minha musa. Quis-lhe contar mais, sentiu-se mal. Alguma coisa que comeu, certamente. Então, pagou e fomos embora.

Eu tinha deixado tudo preparado: a casa arejada e uma caixa de preservativos em cima da mesinha de cabeceira e convidei-a para subir. Desatou a vomitar. E eu entendi aquilo como um sim. Arrastei-a pelas escadas e após uma hora de ininterrupto sexo selvagem no Gational Neographic, lá demos a nossa quecazita. Serviço limpo e eficente, como mandam as regras da casa.

Acompanhei-a até à paragem do autocarro. Preferiu ir de táxi (vá-se lá perceber as mulheres). Ainda insisti para que pagasse ela (não queria que ficasse com a ideia de que sou machista), mas infelizmente recusou e no dia seguinte fiquei a dever o prato do dia ao Zé. Mas valeu bem a pena. Agora sempre que entro num posto dos CTT, lembro-me da cara de enjoada da Ana Paula. E recordações destas não têm preço.

sábado, 28 de agosto de 2010

Que patinho tão lindo...


funnyhub.com

... Não era?
Bom fim-de-semana.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

De la musique - The Boxer Rebellion



Tema: World Without End
Intérprete: The Boxer Rebellion
Álbum: Exits (2005)

Maduro branco, verde tinto

Estava eu no alto do jardim do morro, a passear os olhos pelo rio, quando surge aquela figura plena de desnorte, cambaleando estrada fora. E vacilava de tal forma, que se tornava impossível a quem quer que fosse (inclusivamente ao próprio) adivinhar que direcção pretendia tomar.

Qual gymnaestrada, qual quê; aquilo, sim, era arte! Primeiro, um discreto mas bem delineado fan kick - começara o espectáculo. Sem interrupção nem hesitação, meio pivot à esquerda, logo seguido por um pivot à direita de um recorte técnico invejável. Alguns movimentos de equilíbrio - aviões, bandeiras e afins - e, para terminar a sua magnificente actuação, uma queda facial com pés juntos. A multidão foi ao rubro. Podia ler-se nos seus olhitos enviesados a satisfação do dever cumprido.

Mas eis que irrompe, qual deus da justiça recortada, omniausente no desamparo, o compassivo leme. Desmontou todo o cenário; quem pedia bis desiludiu-se. E é possível vê-lo, ainda, sob a penumbra dos dias, «piedade, piedade», descendo a rua colado ao muro.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

De la musique - Funki Porcini

Um dia destes, falou-se neste blogue, a propósito de abismos, de raptos temporários. Na verdade, todos os raptos são temporários, excepto aquele que nos aparece, inevitavelmente, no fim da vida. Mas o controlo do tempo, como de praticamente tudo (se não mesmo tudo) o resto que naquele momento esteja na posse do raptado, é do raptor. A não ser que seja um rapto simulado, aquele no qual entramos, mas com uma mão de fora, pronta a puxar-nos quando nós muito bem entendermos. Caso contrário, corremos o sério risco de nos tornarmos reféns por tempo indeterminado.

Vem isto tudo a propósito de uma coisa bem mais simples de perceber, mas tão ou mais difícil de explicar. Para mim, como é evidente. Porcini explica na perfeição. E, de repente, sinto-me raptado para bem longe.




Tema: Long Road
Intérprete: Funki Porcini
Álbum: Hed Phone Sex (1995)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

De la musique - The Doors

Mais um clássico.




Tema: Light My Fire
Intérprete: The Doors
Álbum: The Doors (1967)

Tentação divina

Lentamente,
essa tua língua insidiosa
enrola-se na minha,
encharcada já de perfídia.
Pois morde-me!
que não resisto nem insisto.
Assisto ao serpentear do teu corpo,
que rasteja sobre o meu.
Envolve-me,
aperta-me,
esmaga-me!
que não me rendo nem desprendo
a maçã que carregas no peito.
Ah!, doce pecado
que expeles o néctar da flor que desponta
e que a abelha suga.
Aromas opiáceos,
fluidos corporais,
inunda-me, tentação divina
com o teu bendito veneno.
Mas não te iludas,
sorvo-te de um só trago
como um vício.

sábado, 21 de agosto de 2010

De la musique - Led Zeppelin

Um clássico para o fim-de-semana. Portem-se bem, portem-se mal, portem-se como quiserem.



Tema: Since I've Been Loving You
Intérprete: Led Zeppelin
Álbum: Led Zeppelin III (1970)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

De la musique - The Dandy Warhols



Tema: Get Off
Intérprete: The Dandy Warhols
Álbum: Thirteen Tales from Urban Bohemia (2000)

Todos os caminhos vão dar a casa

seis da tarde, levantei-me a bater o pé,
a rádio já rasgava o ar.
fui saltando de cena em cena,
desde o peido matinal até ao pepsodent.
saí para a rua,
el charro e blusão de couro,
cabelo espetado e lunetas arnette,
que as pupilas já dilatam.
à esquina, já lá estava
o pastilhas, o cebola e o popeye.
duas de letra e uma bojeca
para aquecer o pessoal,
enquanto o dealer não pinta,
etc., coisa e tal.
chocolate no bolso e pasta fresca
para gastar,
punto cabriolet e ala, que se faz tarde.
à entrada da disco, nada de novo,
o aspirina a flipar...
dissemos-lhe: tem calma, man,
nós queremos é entrar.
uma milona para amainar as hostes
e a carola a abanar.
os cartões estão vazios?!
não pode ser! E um cantinho do balcão
por nossa conta, está-se mesmo a ver.
cocktails multicolores,
verdes, vermelhos e azuis,
até vermos o arco-íris.
e, de seguida, para a pista,
sempre a abrir, é sempre a abrir!
o dj estava fatela,
mas logo resolveu atinar,
ou o paiva da ordem lá passava a navegar...
e a dançar, aos repelões,
aos repelões, é para arrasar!
e para o fecho, última rodada no bar.
à saída, abraçados,
que éramos amigos de longa data,
lá demos com o bote,
ou pelo menos era um igual...
acendeu-se a noite com o last
berlaite, verylight, e luzes,
muitas luzes, tantas! luzeszzzzzzzzzz...
ronc!? ond'é qu'eu'stou?
em casa, pois então?!
bah... deixem-me dormirzzzzzz...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

De la musique - Kammerflimmer Kollektief



Tema: Nachtwache, 15. September
Intérprete: Kammerflimmer Kollektief
Álbum: Absencen (2005)




Tema: Über Die Wasserscheide
Intérprete: Kammerflimmer Kollektief
Álbum: Cicadidae (2003)

Vigília

Da janela do meu quarto vê-se a janela do teu quarto. A luz assinala a tua presença, sem que, no entanto, eu consiga desvendar a identidade da silhueta que permanece por detrás da cortina da janela do teu quarto.

A noite não dorme. A noite é uma dízima infinita periódica. Eu sou a repetição de mim mesmo, escrita entre o findar de uma noite inacabada e o crepúsculo de uma manhã que não nasceu. O sol fundiu-se com um acorde de violino, num dia perfeito de chuva, e partiu. Sobrou este momento intemporal que uso cuidadosamente para observar a janela do teu quarto. Não sei de que cor pintar este momento. Mas sei de cor o que me trouxe até este momento.

Da janela do meu quarto vê-se agora coisa nenhuma. Da janela do teu quarto vê-se a janela do meu quarto e o nada inteiro que de lá se vê. A janela do teu quarto é a janela do meu quarto.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

De la musique - Record Club

Por sugestão do Adeartes, fui espreitar o que andam a fazer os Record Club, e fiquei a conhecer uma banda com muita qualidade, da qual já tinha ouvido falar, mas à qual nunca tinha dado a devida atenção: St. Vincent. Fiz-lhes o convite, e disseram-me que um dia destes passavam por cá.

Entretanto, fica uma das músicas recriadas por Beck e seus amigos.



Tema: Devil Inside
Intérprete: Record Club
Álbum: Record Club No. 4 (2010)

Os acordes das guitarras de Beck e (julgo que) de Annie Clark poderiam facilmente viajar para dentro da música dos Piano Magic. Ou dar um saltinho até à Alemanha, para se encontrarem com o som melancólico e harmonioso dos Kammerflimmer Kollektief. E é isso que vai acontecer. É já a seguir.

terça-feira, 17 de agosto de 2010


Palavras cruzadas

versossinal vermelho nos semáforos
sosrevercarros ausentes
sem lirismosem poética
rostos cobertosølhøs desertos
sílabasrima pobresem ritmo
ecos .....c
r
melancoliau
z
p a l a v r a s
e..c..o..sd
atédio
s
no

v
tempoá

c
u
ue


o

domingo, 15 de agosto de 2010

De la musique - Beck



Tema: Loser
Intérprete: Beck
Álbum: Mellow Gold (1994)

É quase perto

Acordes de guitarra e acordeão,
e uma voz feiticeira que se confunde com a chuva.
Chove como nunca antes em todos os cantos dos meus sentidos.
(Como nunca antes? Não... nem eu próprio acredito nisto.)
Mas se a memória se mede com um olhar apenas
e o seu cheiro agridoce me apaga das mãos a textura de outros tons,
como dizer que choveu mais, outrora?
Ou menos? Ou de igual modo? Ou até se chove, agora?
Uma quase profunda melancolia desarticula-me os gestos.
Uma dor abstracta esmaga-me as pálpebras.
É cansaço. Cansaço de querer estar perto.
E cansa mais do que o cansaço de querer estar longe.
Sim... estar longe...
E os instrumentos calam-se, e a feiticeira vai-se.
E uma gárgula inexpressiva escoa as últimas sílabas:
"é quase certo que nada existe, nada está perto, nem eu estou triste".

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

De la musique - Editors



Tema: The Racing Rats
Intérprete: Editors
Álbum: An End Has a Start (2007)

Valentia

era uma fatalidade,
sempre que tropeçava morria.
até que um dia, farto de tanto morrer,
levantou-se e disse:
hoje, não morro!
e encheu-se de coragem e enfrentou a situação,
e encheu-se de mais coragem e enfrentou a situação,
e encheu-se tanto de coragem que disse: chega!
e morreu, morreu de valentia.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

De la musique - Silent Poets



Tema: Save the Day [Peaktime Mix]
Intérprete: Silent Poets
Álbum:To Come...Another Version (1999)

Poesia - definição em uníssono (No mínimo...)

A poesia é, indiscutivelmente... (Começas bem)
Dizia eu... a poesia é o expoente máximo... (Sem dúvida)
O EXPOENTE MÁXIMO... (E ele a dar-lhe)
Meus caros colegas de profissão...
(Olha-me este... Bebeu? No mínimo!)
Dão-me licença?! Isto, assim, sai uma grande salgalhada!
(Vamos lá Não desesperes Desta é que é)
Ora, efectivamente, a poesia...
(A poesia! A POESIA! A PO-E-SI-A!)
Eu... desisto. (Bra-vo! Prodigioso! BIS BIS!)
...
(Olha... foi-se Passou-se! Definitivamente...)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um amanhecer diferente

Tão natural como o seu sono.


techchee.com

Sunrise serenade

Vieram dos quatro cantos,
(ou melhor, dos quatro ventos)
sentaram-se e esperaram,
parcimoniosamente esperaram,
esperaram que o sol nascesse.
E o sol lá nasceu, como não podia deixar de ser.
E todos exclamaram: aH.
É verdade: aH.
Tinha-se feito poesia.
E então não compreenderam porque tinham vindo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

De la musique - Massive Attack

Estes também vieram do Sudoeste e foram tão simpáticos como os Groove Armada. Não há 'embed' Protection para ninguém! E desta feita nem o tediokiller nos salvou.



Tema: Weather Storm
Intérprete: Massive Attack
Álbum: Protection (1994)

(actualização)
Bem, parece que o tediokiller não gostou de levar um "não" como resposta e foi reclamar. Civilizadamente, claro. Depois de algumas cadeiras e mesas pelo ar, lá trouxe a música que queríamos.



Tema: Protection
Intérprete: Massive Attack
Álbum: Protection (1994)